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Do Papa em Natal

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Vicente Serejo

Na noite daquela sexta-feira, novembro de 1991, na antevéspera do domingo de abertura do Congresso Eucarístico que seria encerrado com a presença do Papa João Paulo II, recebi uma ligação de Otomar Lopes Cardoso, meu cunhado, que viera do Rio na comitiva de Dom Eugênio Sales. A tarefa era acompanhá-lo à residência do governador Geraldo Melo. Lá estava hospedado o Cardeal que faria a entrega, ‘reservada’, de um documento para ser levado a Luiz Maria Alves. 
Chegamos pouco depois do jantar. Geraldo e dona Ednólia estavam nas cadeiras do jardim. Vestindo um Clérgima preto, de colarinho clerical e cruz peitoral, logo surgiu Dom Eugênio Sales. Uma figura que vira de perto há uns tantos anos, quando ainda era ‘noticiarista’ da Rádio Rural, ele, à época, já Cardeal Primaz, na Bahia. Sentou, conversou um pouco, mas sem falar em política, e fez questão de dizer que sentia muito prazer sempre que visitava Natal e reencontrava os amigos. 
Geraldo sabia dos bons hábitos do cardeal e ofereceu charuto e conhaque. Ele agradeceu e não aceitou. Sem demora, abriu uma pequena pasta de couro e, de lá, retirou um envelope grande, com o brasão da Arquidiocese do Rio, que passou às mãos de Otomar. Foi então que fiquei sabendo do conteúdo: ele disse que ali estava a cópia da comunicação do Vaticano, assinada por João Paulo II, comunicando que ele, Dom Eugênio, presidiria o Congresso, da abertura até a chegada do Papa.
Depois de mais algum tempo de conversa, sem demonstrar impaciência, pediu licença para descansar, alegando que celebraria muito cedo. Mais alguns minutos, e saímos no meu carro, uma Belina amarelada. Só então Otomar decifrou o enigma para que, ao passar às mãos de Luiz Maria Alves, fosse dada a explicação do Cardeal: a comunicação do Vaticano, embora já estivesse nas mãos da Arquidiocese de Natal há mais de trinta dias, nunca havia sido divulgada publicamente.
Dia seguinte, assim que chegou ao jornal, fui a Alves. Contei o que tinha ocorrido na noite anterior e disse, por minha conta e risco, o que estava claro: o Cardeal não gostou do ‘segredo’ imposto pela Arquidiocese de Natal, tendo em mãos a comunicação oficial do Papa. Alves, que já publicava os artigos de Dom Eugênio Sales como ‘A Voz do Pastor’, aos domingos, deu a ordem: “Reproduza amanhã, em fac-símile, na primeira página de O Poti”. E acrescentou: “Bem legível”. 
Conto essa história – e para comprová-la bastar ir à primeira página de ‘O Poti’, na edição do domingo da abertura do Congresso Eucarístico – para mostrar o que não era segredo: o silêncio obsequioso que separava, muito sutilmente e de forma quase imperceptível, os grupos liderados pelos seguidores de Dom Eugênio Sales e de Dom Nivaldo Monte. Divisão que nunca sequer foi admitida pelos dois lados e só percebida por alguns olhos mais próximos. Era só. E até amanhã.   
CPI – O erro primário do doutor Carlos Gabas ausentando-se do dever de prestar esclarecimentos sobre a compra dos respiradores, acabou salvando a CPI da Pandemia da sua mesmice absoluta.  
EFEITO – O desfecho da CPI, ao quebrar os sigilos de Gabas, pode até mostrar quanto foi e onde está a parte que coube ao coordenador, se for o caso, mas essa conta pertence a nove governadores.  
VIDA – Quem manda notícias é Carlos Peixoto que hoje vive os dias da perfeição diante do mar de Zumbi. Amansa a rede entre leituras e sonhos e nada mais lhe é posto e imposto, além da vida. 
SANTANA – A Festa de Santana, de Caicó, será reconhecida, terça-feira, patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico. Voto e sustentação do conselheiro Diógenes da Cunha Lima. 
AZUL – Para Marco Polo, onde estiver: semana que vem transcrevo a sua carta sobre o palacete azul que por esses dias, numa sinfonia de tristezas, desapareceu e levou um pedaço das nossas vidas.
APOSTA – Para alguns produtores locais, a questão do Museu da Rampa tem dois lados: foi bom que ficasse mas mãos de um grupo local e pequeno, mas pode atrofiar um desafio que é nacional. 
ALIÁS – Um detalhe referencial: a exposição sobre a vida e a obra de Câmara Cascudo, no Museu da Língua Portuguesa, em SP, foi a menos expressiva de todas. Uma produção local sem relevo.  
GUERRA – O Estado perdeu a guerra para contar a história da grande guerra quando perdeu para Parnamirim a exposição do Acervo da Fundação Rampa. O turismo oficial é culturalmente jejuno. 

RASO – Tem sido reducionista a percepção, da política e da imprensa, na discussão em torno das alíquotas do ICMS sobre os combustíveis, principalmente a gasolina. Como se o imposto fosse o vilão do enredo. O debate esconde o verdadeiro sentido do que representa para os mais carentes.
SAÍDA – O Estado afirma que aqui é cobrada a mesma alíquota de 27% de ICMS comparado com Paraíba, Pernambuco e Ceará, o que só torna estranho que a gasolina mais cara seja cobrada em Natal. A perda estimada é da ordem de F$ 440 milhões e os municípios perdem R$ 100 milhões.     
PREÇO – A redução da alíquota do ICMS sobre combustíveis – reajustados pela Petrobrás com base no dólar – vai retirar do Fundo de Combate à Pobreza, no RN, R$ 25 milhões por ano. Atinge o programa do leite e os restaurantes populares que servem 16 mil refeições diárias. Eis a questão. 
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