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Do papiro ao genoma

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Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN

Desde quando existe o câncer?  Qual o primeiro relato dessa doença e quem fez o registro?  Não são exatos os informes sobre o assunto. Um papiro egípcio, medindo 5 metros, oriundo do século VII a.C., traz a transcrição de um manuscrito de 2.500 a.C..  Traduzido em 1930, o papiro contém ensinamentos de Imhotep, famoso médico e arquiteto do Antigo Império do Egito. O documento histórico faz o relato de 48 casos de enfermidades diversas, entre elas a de uma mulher com “massas salientes no peito, como frutas verdes, duras e frias ao tato”.  Em cada caso descrito, seguiam-se os tratamentos usados.  No caso 45, o da mama, no item terapia, somente duas palavras: “Não existe”. Há uma história – seria lenda?  – que fala de uma lesão de mama em uma rainha persa, cuja vida data de 500 a.C., caso descrito pelo historiador grego Heródoto, por volta de 440 a.C.  A rainha, chamada Atossa, descobriu um tumor grande e sangrante em uma das mamas. Cansada de tanto sofrer, em um acesso de fúria, mandou um escravo extirpar-lhe com uma faca a mama doente. Depois da insólita “cirurgia”, não se sabe quanto tempo ela viveu.

Passaram-se séculos com a medicina em grande parte alheia às doenças tumorais malignas.  As civilizações estavam sofrendo os efeitos das terríveis epidemias.  Multidões eram dizimadas por doenças desconhecidas, que deixavam um rastro de morte e de terror. E essa história vem de tempos ancestrais; basta lembrar as marcas da varíola deixadas na face do faraó Ramsés V, do século XII a.C.. Somente a partir do século XIX é que o mundo médico passou a se deter no diagnóstico e tratamento das neoplasias, as quais, a cada dia, tornavam-se mais frequentes. De fato, sendo o câncer uma enfermidade diretamente relacionada com a idade, à medida que as pessoas viviam mais, crescia o número dos diversos tipos dessa doença. Não somente pela maior presença de longevos, mas também porque os meios diagnósticos passaram a ser mais precisos, trazendo à tona muitos casos em jovens e crianças. Hoje, o câncer divide com as doenças cardiovasculares a primazia dos principais males que afetam a saúde dos seres humanos.

Em 1900, nos Estados Unidos, a tuberculose era a principal causa de morte.  Logo atrás vinham outras doenças infecciosas, como as gastrenterites e a pneumonia, ficando o câncer em 7º lugar. Na metade do século, o câncer já ocupava o 2º lugar, perdendo apenas para os males do coração. Note-se que a expectativa de vida dos americanos no período, ou seja, em cinco décadas, aumentou em 26 anos, quando dobrou o número de pessoas com mais de 60 anos.

As gerações atuais devem exultar pelos avanços da ciência no tratamento do câncer, embora ainda falte bastante para a vitória final sobre essa doença. Hoje, sabe-se que são mutações de genes que detonam a formação de tumores, quando a divisão celular se torna sem controle. Assim, o câncer está lá dentro, escondido no genoma humano, e isso não é mais segredo. 

As mutações gênicas ocorrem por fatores externos – carcinógenos – e internos, endógenos. Essa certeza trouxe grandes esperanças para o combate a essa enfermidade que desafia a inteligência do homem.  O estudo em detalhes dos genes em alguns tipos de cânceres já permite uma terapia muito segura.  Em quantos anos, por meio de mais estudos do genoma, ou por outra via, se chegará à morte do “Imperador de todos os Males”? Talvez já esteja perto, e, assim, continuará a história da medicina a revelar mais benesses às gerações que se sucedem.   

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