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Do Sol e de música

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Maria Betânia Monteiro – repórter

O Festival DoSol continua o mesmo. Alternativo em sua essência, mas com uma janela aberta para ampliar em seu segmento. Mais de duas mil pessoas reunidas diariamente, segundo informou o produtor, foi o maior público até agora. Se levarmos em consideração o cenário do show business, a plateia pode ser pequena, mas torna-se grande para o universo do rock por aqui.  O festival chegou ao 7º ano fazendo a sua melhor grade de atrações atá agora.

Num verdadeiro tributo ramonemaníaco , Marky Ramone encerrou o festival em clima apoteóticoNeste último final de semana artistas renomados como o baterista americano Marky Ramone e outros em ascensão como os rapazes da banda potiguar Calistoga dividiram praticamente a mesma plateia, entre um palco e outro no DoSol e no Armazém, além de uma pequena parte da rua Chile.  “Este está sendo o mais maduro e o mais bonito”, disse a co-produtora do festival Ana Morena, sem conseguir esconder o orgulho de fazer parte daquela história.

Na rua e dentro dos três casarões,  todas as tribos. Pessoas vestidas de preto, diversidade de visual, tatuados ou com penduricalhos espalhados pelo corpo, outras conforme a liberdade e o conforto exigiam. A maioria, sacudindo a cabeça, voando das caixas de som, dançando ou simplemente “batendo ombros” em rodas de ‘pogo’. É impossível não concordar com a produtora do evento:  O DoSol estava bonito mesmo.

A estrutura foi quase a mesma dos anos anteriores. Um trecho da rua Chile cercada, dois palcos no Centro Cultural do Sol e Armazém Hall, e um espaço reservado para os integrantes das bandas, imprensa e convidados — em um sobrado muito bonito (antigo Itajubar).  A diferença foi sentida também pelos músicos vindos de outros estados, que nas edições anteriores ficavam meio improvisados, hospedando-se em hotéis da Cidade Alta. “A gente fazia o convite aos músicos e falava da situação financeira. Eles pediam para não esquentar, que ia dar tudo certo”, lembra Ana Morena.

Águas passadas. Este ano, o Festival contou com o apoio de leis de incentivo. A Rouanet, a estadual Câmara Cascudo e a municipal, Djalma Maranhão. Com o patrocínio da Petrobras e Oi via editais, foram garantidos R$ 230 mil. A metade do valor foi gasta na estrutura do evento, em três pontos da cidade, Rua Chile, Casa da Ribeira e Circo da Luz, em Pium; e a outra metade foi gasta com a acomodação dos músicos, pagamento de cachê e gravação do DVD da Camarones.

“A gravação do DVD foi um sucesso”, garantiu Ana Morena. Ela aconteceu por volta das 20h do sábado, abrindo a noite para as bandas “Autoramas” (RJ), “The Tormentos” (Argentina), “Calistoga” (RN), “Black Drawing Chalks” (GO), “Vespas Mandarinas e Fábio Cascadura” (SP/BA), “Orquestra Contemporânea de Olinda” (PE), “Cabruêra” (PB) e “Móveis Coloniais de Acaju” (DF).

Apesar de grande parte do público de sábado está esperando pela banda brasiliense, a pernambucana acabou sendo um capítulo à parte, na noite do rock. Além de bateria, baixo e guitarra, os rapazes da Orquestra Contemporânea de Olinda levaram instrumentos como Sax (barítono, tenor e baixo), atabaque, trompete, trombone de vara, tuba, pandeiro, surdo, triângulo e caxixi. O resultando não poderia ser outro: rock, frevo e maracatu. O publicou delirou e fez coro para o “bis”.

O sucesso do Festival DoSol é um fato.  Mas  não deve ser o único. Pelo menos esta é a opinião do diretor do Festival, Anderson Foca. Segundo ele, eventos como o Mada não devem ser retirados do calendário potiguar. “É importante que o Mada continue. A plataforma deles é outra e o DoSol não comporta uma programação semelhante”, disse. “Só eventos como o Mada e o DoSol são capazes de suprir essa carência musical. E sem o acesso a editais ou leis, não tem como arriscar”, acrescentou, lembrando que, há algumas semanas, trouxe para Natal um dos mais importantes nomes da música,  o produtor Mad Professor. “Tivemos um público de 100 pagantes. Quem tem coragem de arriscar assim?”.

próxima parada: Música contemporânea

As bandas que se apresentaram no último final de semana, participaram da primeira etapa do Festival DoSol. De 10 a 14 deste mês, na Casa da Ribeira haverá a etapa “Música Contemporânea”, com Clara e a Noite, Júlio Lima, Antônio De Pádua, Tesla Orquestra, dentre outros. Os shows acontecem a partir das 18h, com entrada franca.

A grande novidade desta edição do Festival são os shows no Circo da Luz, armado em Pium. Eles acontecem gratuitamente nos dias 14 e 15 deste mês, sempre a partir das 15h, levando atrações como: Venice Under Water (RN), Projeto Trinca (RN), Calistoga (RN), Dona Zefinha (CE) e Camarones Orquestra Guitarrística (RN).

LET’S GO, MARKY

Por Dionisio Outeda – Especial para o VIVER

O relógio marcava pouco mais das 20h de domingo e o Largo da Rua Chile já estava lotado. Camisetas pretas, jaquetas de couro e muitos gritos de “Hey Ho Lets Go” já ecoavam de jovens a veteranos do rock (alguns senhores já de cabelos brancos) e muitos curiosos.

As históricas ruas da Ribeira já receberam muitos e bons nomes do rock nacional, internacional, MPB e artistas locais. Mas o último domingo foi diferente. A atração da noite era especial. Uma lenda no total sentido da palavra. Pelo nome de batismo somente os fãs sabem de quem se trata. Mas o novaiorquino do Brooklin Marc Bell entrou para a história do punk rock como Marky Ramone, o baterista de maior duração e identificação com a lendária banda de punk que ganhou o mundo em 1974, saindo do subúrbio de Queens e Brooklin para a glória.

Um Marky beirando os 60 anos de idade mas com a mesma jovialidade que ostentava em 1978, quando subiu ao palco e assumiu as baquetas dos Ramones em substituição a Tommy Ramone, fundador mas que nunca teve o brilho de Marky.

Somente sua simples passagem pelas mal conservadas e escuras ruas da Ribeira foi um frisson. Não era para menos. Marky Ramone é o último dos Ramones – da grande formação da banda – que está vivo. Joey, Johnny e Dee Dee deixaram milhões de fãs órfãos na última década. Um a um foram saindo desta vida, aumentando o mito Ramones.

Marky sempre foi lacônico. Subiu ao palco por volta das 22h, acenou e soltou o imortalizado “Hey Ho Lets Go” e as lágrimas de emoção rolaram em mais de um rosto. Soube depois que até o produtor do festival, Anderson Foca, se emocionou ao ponto de preferir não ver mais o show.

No palco, Marky e a banda Blitzkrieg, seu novo projeto tendo à frente o enérgico vocalista Michale Graves.

O show, Ramones puro. Na essência e na postura. Uma faixa atrás da outra, cortadas apenas pelo “one, two, three, four …”

E assim começou, pela fase mais “down” da banda. Rockway Beach foi o cartão de boas vindas. Depois um petardo atrás do outro, todos sucessos que marcaram as muitas fases do Ramones. Desde o início da banda, em 1974, com a crua Beat On The Brat, passando pela época que voltaram ao auge (com Mondo Bizarro, de 89) e as imortalizadas Poison Heart, Blitzkrieg Bop,  Pet Sematary,   I Believe In Miracles, The KKK Took My Baby Away, Sheena Is A Punk Rocker, Wanna Be Sedated.  Não foi à toa que praticamente não contempla algumas faixas da época mais obscura do Ramones, final dos anos 70 e início dos 80. Foi a pior época da banda e músicas como “We Want the Airwaves” caíram no esquecimento. A canção não deve trazer boas lembranças ao introspectivo Marky. Mesmo assim, não passou em branco e a banda mandou “Do you Remember Rock roll Radio?”, dessa época decadente da banda, agravada muito provavelmente por conta do auge da disco music.

A essa altura, cestas de plástico voavam de mão em mão e muitos mergulhavam das caixas de som para os braços da plateia.

O  show era uma apoteose.

O fechamento foi uma ode ao punk rock. Blitzkrieg Bop no ritmo totalmente “Ramonesmaníaco”  e uma homenagem a Joey Ramone com a versão que ele fez da música de Louis Armstrong, What a Wonderful World, no álbum solo (póstumo) lançado em 2002 um ano após a sua morte.  Por sinal, mesmo ano em que o Ramones entrou para o Rock and Roll Hall of Fame.  Marky Ramone fez a alegria de muitas gerações. Sua figura se eterniza e seu som é o mesmo que o mundo conheceu em 1978.  Só faltou “Don’t Worry About Me”. Mas, para os fãs que estavam na Ribeira num calor insuportável, não fez diferença. O sentimento era um só: “Não se preocupe comigo”. 

Posso dizer: vi Marky Ramone.

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