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Dois Papas e um Oscar

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Alex Medeiros

Pode minimizar o pregresso prêmio de O Pagador de Promessas, de 1962, e as resenhas de Cidade de Deus, de 2002. O cinema com a assinatura de um brasileiro agora se divide entre antes e depois de Dois Papas, dirigido por Fernando Meirelles e em cartaz desde dezembro na Netflix. O que estou querendo dizer é que tecnicamente nunca houve tanta qualidade num filme com presença brasileira, assim como não tivemos ficção tão bem composta.

Meu prognóstico pode furar com larga distância da realidade, mas arrisco dizer que pela primeira vez o Brasil tem, sim, a chance de abocanhar uma estatueta do Oscar. É uma chance que sequer chegou perto nas demais vezes em que uma produção envolvendo profissional compatriota foi indicada na festa de Los Angeles. A trama bem conduzida por Meirelles e o show de interpretação de Jonathan Pryce e Anthony Hopkins (dois monstros) são coisas magníficas.
Veja bem, estou me atendo aos aspectos técnicos e à composição de um roteiro fictício muito bem amarrado para prender a atenção da plateia, fatos essenciais para o êxito de qualquer obra cinematográfica. E o filme tem isso.

O diretor brasileiro conseguiu, guardadas as devidas proporções e histerias, aquilo que Orson Welles fez em 1938 com um texto de H. G. Wells interpretado no rádio. As pessoas estão acreditando piamente nos encontros dos papas.

No filme, o alemão Joseph Ratzinger e o argentino Jorge Bergoglio, que seriam ungidos Bento XVI e Francisco, se reúnem várias vezes em circunstâncias sem precedentes na história do Vaticano. E não há verdade literal nos diálogos.

O drama bem imaginado por Meirelles e o roteirista Anthony McCarten começa com o bispo argentino viajando à Roma para pedir permissão para se aposentar, mas é rejeitado pelo pontífice que confidencia desejo de renúncia.

Se a carta de demissão é verídica, o deslocamento até à comuna de Castel Gandolfo, residência de verão dos papas, bem como o teor da extensa conversa é pura criatividade baseada nas visões distintas dos dois religiosos.

E o que poderia ser um arrastado papo de dois idosos cansados, ganha na objetividade de Meirelles um tom nervoso e uma sequência de suspense e tensão em primorosas edições de flashbacks de ambos na eleição do concílio.

Os diálogos de Bento e Francisco se desenrolam numa ficção baseada em seus posicionamentos pessoais revelados em textos e discursos, assim construindo o debate de duas visões antagônicas sobre o destino da igreja.

A narrativa se localiza no período entre 2005 e 2013, quando Ratzinger e Bergoglio comporiam uma rivalidade eleitoral no Vaticano, ao mesmo tempo em que enfrentam os seus fantasmas internos, estes sim fatos verdadeiros.

A austeridade conservadora do alemão é atingida por corrupção e escândalos de bispos e padres, enquanto a bondade progressista do argentino se colide com um passado de relações com o regime militar do seu país a partir de 1976.

Dois Papas é quase um thriller silencioso na força do debate que expõe as vísceras católicas, e é uma obra de ficção que de tão bem elaborada ilude os incautos. E como cinema, coloca o Brasil pela primeira vez, de verdade, na fila do Oscar.

DOIS PAPAS

Fogo no terror
Reação mais que necessária dos EUA contra milícias terroristas do Iraque que, sob o comando de um general iraniano, assassinaram soldados americanos e civis em dezembro. Bombardear o terror não é terrorismo, como quer o Irã.

O cinismo
Quem diria que veríamos a militância de playground defender um general miliciano? Logo que o militar iraniano explodiu no ataque de Trump, a esquerdopatia cuspiu ódio contra os EUA em defesa do terrorismo no Iraque.

O cinismo 2
No plano provinciano, o tipo de indignado que votou em Natália Bonavides ou Fernando Mineiro criticou o “maluco do Trump”. Ou seja, choro e ranger de dentes pelo general iraniano, silêncio sobre o assassinato do Coronel Nunes.

Incêndios
A mídia mundial repercute desde as primeiras horas de 2020. Mais de meio bilhão de animais morreram nos incêndios da Austrália. E a indignação de encomenda do Macron e da Greta só existiu para a girafa morta na Amazônia.

O papa
“É preciso carisma, é preciso autoridade divina para descer de um carro, em meio à multidão faminta e doente pela guerra, e abrir-lhe os braços, paternalmente, dando-lhe alento e, depois, retirar-se ileso”. (Marcelo Tenório)

Carne forte
A pecuária nacional está em festa. O aumento nas exportações iniciado em 2018 se consolidou em 2019 registrando recordes e fazendo do Brasil o maior exportador de carne bovina do planeta. Só quem tem carne fraca, resmunga.

Fundo de investimento
Criado em Natal pelo economista Karol Diniz, o fundo de ações Marsupial Kanguru FIA surpreendeu o mercado investidor aparecendo entre os de maior rendimento de 2019. Junto a gigantes como BTG, Alaska, Dynamo e Atmos.

O fundão
Há coisa mais feia do que votar a favor do fundo partidário que vai torrar R$ 2 bilhões dos cofres públicos na farra eleitoral. Se omitir da votação, sem sequer aparecer no plenário, é mais grave. Confiram os nossos deputados fujões.

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