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Donos de restaurantes reclamam que altas taxas de aplicativos encarecem produtos

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Mariana Ceci
repórter

Com o distanciamento social, os gastos com serviços de entrega de alimentos e bebidas tiveram aumento de 94,67% entre os meses de abril e junho no Brasil em relação ao ano anterior. O levantamento, feito pela startup de gestão financeira Mobills, que analisou dados de mais de 160 mil usuários com gastos focados nos aplicativos de entrega de comida, como Ifood, Rappi e Uber Eats, que ganham adesão cada vez maior da população. Apesar de terem servido como ponte entre os clientes e restaurantes, dando maior visibilidade a negócios iniciantes e aumentando a demanda em muitos estabelecimentos, proprietários afirmam que esse crescimento não têm correspondido ao aumento do lucro, devido principalmente às taxas cobradas pelas plataformas. Em alguns aplicativos, a taxa cobrada pode chegar a até 27% em cima do valor de cada pedido, e a dificuldade de diálogo com as plataformas para negociações tem feito com que muitos proprietários invistam em serviços de entrega por aplicativos próprios.
Aplicativos de entrega de comida ganham adesão cada vez maior da população
#SAIBAMAIS#

O estudo da Mobills foi feito a partir da análise de dados de 160 mil usuários de aplicativos de entregas focados no delivery de comida. De acordo com a startup, o crescimento é quase o dobro do registrado entre os meses de janeiro e maio de 2019. “Eles foram ficando cada vez mais fortes a partir do ano de 2018, porque são um instrumento extremamente valioso para os restaurantes, mas também foram impondo regras cada vez mais severas. Começaram a atuar como intermediários, mas se oferecendo enquanto serviço”, diz Artur Fontes, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no RN.

De acordo com o presidente, os aplicativos são ferramentas positivas principalmente para o pequeno negócio, que pode começar a ter uma demanda maior a partir das plataformas. Entretanto, aliado ao aumento da demanda, ele explica que vem também uma dependência direta da plataforma para existir.

“Para o pequeno comércio, tem um lado muito bom porque você começa a fazer o serviço de delivery sem praticamente nenhum investimento. É uma forma muito prática de se começar o que, por outro lado, também acaba estimulando a informalidade e uma dependência gravíssima desse comércio dos aplicativos”, explica.

Outro ponto ressaltado pelo representante foi que as relações com os clientes foram se tornando cada vez mais dependentes da plataforma, que em alguns casos só permitem o contato a partir de seus intermediários. “Os aplicativos ao longo do tempo foram criando ferramentas para minar essa relação do cliente com o restaurante. No Ifood, por exemplo, criou-se uma dificuldade a partir do momento que nós não pudemos mais ter acesso ao telefone do cliente, então o contato ficou cada vez mais difícil e burocrático”, afirma.

Restaurantes têm queda superior a 75% no faturamento durante pandemia

O aumento na demanda por delivery e no valor gasto em cada restaurante
não necessariamente impediu que os restaurantes tivessem uma queda
considerável de faturamento durante o período da pandemia. Apenas no Rio
Grande do Norte, de acordo com uma pesquisa feita pela Empresa Potiguar
de Promoção Turística (Emprotur), 72% dos estabelecimentos do RN
apresentaram uma queda no faturamento superior a 75% durante a pandemia.

Kayo Carvalho, do Pittsburg, afirma que foi necessário criar vantagens para  não perder clientes

#SAIBAMAIS#

Para
muitos proprietários, as taxas cobradas pelos aplicativos, que podem
chegar a até 27% em cima do valor de cada pedido, têm feito com que
muitos reflitam, cada vez mais, sobre a adoção de aplicativos próprios e
outras formas de realizar pedidos diretamente no restaurante.

É o
caso do Pittsburg, em Natal. A rede de lanchonetes possui um sistema
próprio, por ver que as taxas cobradas pelos aplicativos acabaram se
mostrando uma desvantagem apesar da facilidade de acesso. A empresa
passou a investir mais na divulgação do novo sistema a partir de
fevereiro, e já observam um aumento considerável na adesão. “O que nós
fizemos foi criar vantagens para que os clientes vissem sentido em
utilizar a nossa plataforma. Promoções, descontos, cartões fidelidade,
coisas que poderíamos oferecer com uma perda menor do que teríamos pelos
aplicativos convencionais”, explica Kayo Carvalho, diretor da rede.

Sócio
da hamburgueria Carpanos, em Natal, Amilton Dantas relata que a
comodidade inicial trazida pelos grandes aplicativos, que permitiu ao
cliente ter acesso ao cardápio de forma rápida e eficiente, acabou
deixando muitos restaurantes e consumidores “reféns” das plataformas, o
que acaba impactando, em última instância, no preço dos produtos
comercializados. “Hoje, o que acontece é que você acaba virando refém:
ou você está ali, ou você não vende. E como as taxas são altas, ou você
repassa o valor para o cliente, ou você tem que vender uma quantidade
muito grande para ter alguma margem de lucro”, afirma.

De acordo
com ele, o restaurante já está trabalhando para se desvincular cada vez
mais dos aplicativos maiores, e já busca oferecer vantagens para
clientes que optem por outras formas de entrega. “Nós mesmos estamos
trabalhando cada vez mais para conseguir nos desvincular das plataformas
para adotar modelos nos quais o cliente possa fazer o pedido
diretamente a nós, por entender que há algumas questões, como a forma
como os entregadores são tratados, que precisam ser modificadas”,
afirma.

A cozinheira Carla Pereira, de 26 anos, é uma das
pequenas empresárias que já iniciou as pesquisas para uma possível
adesão aos aplicativos, mas ainda não deu entrada no processo.
Proprietária de um negócio recente, que ainda não possui uma grande
clientela, ela conta que preferiu continuar fazendo entregas de forma
individual, em seu próprio veículo. “Pesquisei junto com minha irmã como
funcionam os modelos dos aplicativos, e há muitas especificações que
ainda não podemos seguir, por sermos um negócio pequeno e que não tem
tantos clientes. Por isso, decidimos continuar com o modelo de pedidos
diretos, e faço às entregas no carro da família, com minha mãe. É uma
coisa que fizemos pensando no futuro também, porque é preciso pensar na
sua capacidade de produção e de atender à demanda que eles impõem para
aderir, caso contrário, pode prejudicar seu negócio”, diz Carla. Na hora
de cobrar, ela faz o cálculo do gasto de gasolina entre sua casa e o
ponto de entrega, e cobra apenas o valor necessário para pagar o
combustível.

Atualmente, existem dois planos possíveis de adesão
pelos restaurantes ao Ifood, uma das plataformas mais populares no Rio
Grande do Norte: o primeiro, o plano “básico”, que não dispõe de
entregador, cobra R$ 100 mensais para vendas acima de R$ 1,8 mil no mês,
com taxa de 12% sobre o valor de cada pedido, e um acréscimo de 3,5%
para os pagamentos feitos diretamente pelo app. O segundo, o plano
“entrega”, já dispõe de entregador e cobra R$ 130 por mês para vendas
acima de R$ 1,8 mil, com taxa de 27% sobre cada pedido.

De
acordo com Amilton, o valor cobrado em cima de cada pedido acaba tendo
que ser repassado ao cliente, e o resultado é um produto mais caro. “É
complicado porque os restaurantes não podem abrir mão de 20% do valor de
um pedido, por exemplo, e aumentar o preço nessa proporção acaba sendo
prejudicial para o consumidor e para o proprietário”, destaca.

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