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Dos festivais online ao Cine Drive-in

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O setor estava em crise quando veio a pandemia, mas foi justamente o audiovisual que funcionou como uma válvula de escape para a sobrevivência ao isolamento social. Festivais virtuais mostraram que o formato híbrido pode permanecer, assim como ações inovadoras, como os drive-in, permitiram atividades presenciais
Caboré é um dos primeiros coletivos de cinema do Rio Grande do Norte
O setor audiovisual é responsável por um dos maiores impactos financeiros de economia criativa em todo o mundo. Segundo dados do Sebrae, num estudo de mapeamento e impacto econômico do setor no Brasil*, em 2015 o audiovisual gerou, no mundo, mais de 400 bilhões de dólares por ano (European Audiovisual Observatory). Só no mercado cinematográfico, no mesmo ano, as empresas nacionais distribuíram 616 filmes, que atingiram 42,5 milhões de pessoas (24,6% do público total), gerando uma renda de 557,2 milhões de reais. Além da contribuição artística e social, é inegável a importância financeira do setor, pois se trata de uma atividade que se ramifica em vários e diferentes trabalhos.
Muito antes das massivas restrições causadas pelo novo coronavírus, o audiovisual vinha enfrentando dificuldades de fomento e críticas às leis de incentivo. Obviamente, durante a pandemia esse cenário acabou por se agravar. Paradoxalmente, foi justamente o audiovisual que funcionou como uma válvula de escape para a sobrevivência ao duro isolamento social. 
Cine Drive-in Natal resgata a exibição do cinema em um formato histórico
Reinvenção
Para o realizador Carito Cavalcanti, o começo de 2020 significou uma suspensão de cinco meses e uma “ausência inescapável e desesperadora dos projetos presenciais”, num momento desafiador em que a saúde física e mental já estava ameaçada. O cineasta é diretor da Praieira Filmes, produtora reconhecida pelo trabalho de documentação de projetos culturais de impacto, através da produção de filmes publicitários, institucionais, documentários, ficções, videoclipes, webséries, teasers, aftermovies, conteúdo para web, entre outros, nas áreas de comunicação, marketing, educação, arte e cultura.
Mas em tempos árduos, as dificuldades batem à porta e a ressignificação precisa acontecer de alguma forma. Após o choque inicial, a categoria passou a atender e entender a necessidade de reinvenção do próprio trabalho, o que fez com que, mesmo aos trancos e barrancos, houvesse um fortalecimento da comunicação através dos meios virtuais, ampliando o número de trabalhos. Coube aos diretores, cineastas, produtores, e todos que dependem dessa área, não só sobreviver, como ressurgir.
A volta do Drive-in
Um exemplo de sucesso de inovação em pleno 2020 pandêmico foi a iniciativa Cine Drive-in Natal, um evento de resgate ao cinema num formato histórico. Essa iniciativa seguiu uma tendência mundial e obteve ótima resposta localmente, gerando, ainda que momentaneamente, renda para muitos profissionais ligados direta ou indiretamente à cultura. O evento ofereceu um respiro social num momento de intensa necessidade e opções escassas, afinal os ingressos foram distribuídos gratuitamente, proporcionando a imersão de diversas classes sociais. 
Segundo a diretora Keila Sena, que idealizou e dirigiu o projeto juntamente com Haylene Dantas, foi desafiador realizar o evento num momento tão único, atendendo com responsabilidade aos protocolos de distanciamento social, além de tratar-se de um acontecimento de execução pouco conhecida para a geração que o desenvolveu, portanto, totalmente dependente de pesquisas, intuição e muitas apostas de comprometimento profissional. Mas Keila afirma que no fim das contas a necessidade fez a obra e a equipe tornou-se referência no formato dentro do Rio Grande do Norte, estando agora aptos a realizarem eventos dessa natureza posteriormente.
Cena de Fronteira, ficção experimental da Praieira Filmes
Não só eventos semipresenciais surgiram em novos formatos, como também shows, palestras, espetáculos e muitas outras atividades. Refazer-se foi preciso. As mostras de filmes, até então presenciais, encontraram também seu caminho no mundo virtual.
Legado: Festivais mistos
Mesmo em meio a tantas restrições, o diretor da Casa da Praia Filmes, Pedro Fiuza, participou e competiu, ao todo, em 28 mostras, festivais e sessões nacionais e internacionais, com documentário, clipe, longa-metragem e curtas, lançados previamente. Dentre os eventos, Fiuza, juntamente com sua equipe, participou de festivais importantes como o Kinoforum, onde estreou o curta “Vai Melhorar”, também o Cine PE, além de ter ganhado sete prêmios, incluindo o Melhor Longa-Metragem de Ficção Internacional para “Fendas”, no FICPA (Festival Internacional de Cine de Pasto), na Colômbia.
Segundo o diretor, houve empecilhos, pontos negativos, e no fim das contas, os eventos on-line não foram capazes de substituir integralmente os presenciais, que geram uma renda mais significativa, além de permitirem a possibilidade mais concreta de fazer contatos. Mas a conquista do espaço virtual acabou sendo também positiva, sobretudo para o público que está conseguindo ter acesso a mostras e obras às quais normalmente não teria. 
“O virtual tem muito potencial de democratização, que pode ser intensificado se mais gente tiver acesso à internet e se esse ambiente não reproduzir alguns vícios antiquados da distribuição convencional. Portanto, em minha opinião, os festivais poderiam ser mistos, tendo parte de sua programação também virtual, e muitos já estão considerando isso, a partir do retorno positivo neste formato”, disse Fiuza. 
O diretor acredita que, inegavelmente, esse tipo de circulação foi importante e ajudou, mas é difícil mensurar o que poderia ter sido experimentar as exibições presenciais, a troca com o público, os debates e as conversas entre parceiros. 
Curta metragem de ficção ciéntifica, “Em Torno do Sol”
Recursos ao Coletivo
O fato é que para que todas essas inovações tornem-se possíveis, são necessários, além de muito trabalho e vontade, recursos. 
No Brasil, as fontes de recursos disponíveis para o financiamento audiovisual podem ser divididas basicamente em três tipos: Privados, Públicos Diretos e Públicos Indiretos. Um exemplo é a Lei Aldir Blanc, que possibilitou ao setor artístico a manutenção dos seus trabalhos neste período tão complexo. 
Além das leis de incentivo, parcerias são imprescindíveis para fazer a coisa acontecer. É o que conta Babi Baracho, sócia-fundadora e administradora do Caboré Audiovisual. O Caboré é um dos primeiros coletivos de cinema do Rio Grande do Norte, nascido em 2013, formado por 10 integrantes, colaboradores, e uma produtora com quatro sócios, além de um catálogo com mais de 15 curtas-metragens e a produção da websérie SEPTO, que tem parceria com o canal Brasileiríssimos. “Através do Brasileiríssimos nós conseguimos impulsionar a campanha de financiamento coletivo”, conta Babi. Além da possibilidade de financiamento, essa parceria rendeu a entrada da obra em circuitos de festivais de webséries. Hoje a obra é licenciada para dois streamings internacionais, a Revry TV (EUA) e a Personal Play (Argentina). 
Há uma necessidade permanente de se avançar nas políticas de incentivo à cultura, sobretudo no segmento do audiovisual. As parcerias são essenciais para o desenvolvimento de projetos que contemplem a importante cadeia do audiovisual.
Para o diretor do Mudernage, um combo cultural voltado para música e audiovisual, Seo Cruz, uma coisa é certa: o resultado disso tudo, que veio para ficar, é a possibilidade dos cidadãos comuns e artistas utilizarem de forma bem mais frequente o vídeo como suporte ou forma de expressão.
Seo Cruz, em pleno 2020 pandêmico, manteve-se em movimento, lançou três episódios da sua websérie “Território Criativo” com apoio Edital de Economia Criativa do Sebrae/RN para a sua etapa de finalização; circulou com seus curtas em festivais, com destaque para a participação de “Em Torno do Sol”, na Romênia (Galactic Imaginarium Festival), Rússia (Gagarim Festival) e Estados Unidos (McMinnville Sci-Fi Film Festival); finalizou o som da série televisiva “Onde Está o Cinema Brasileiro”, com direção de Dênia Cruz e realização da produtora Prisma Filmes, que em breve será exibido em âmbito nacional em canal de TV paga; e está atualmente realizando a edição do documentário “Santos do Esquecido”, com direção e realização do australiano Alasdair Keith.
Cena do curta “Vai Melhorar”, de Pedro Fiuza
O diretor da Casa da Praia Filmes, Pedro Fiuza, estava rodando, no ano passado, um longa experimental que se estenderia por todo o ano, mas acabou gravando apenas duas diárias. Além disso, seu projeto “A Edição do Nordeste”, mesmo tratando-se de um filme de montagem, com imagens de arquivo, foi afetado com a crise da Cinemateca Nacional, dificultando o contato com seu acervo. Outros projetos em fase de desenvolvimento também foram adiados, por falta de perspectivas de realizá-los este ano. 
Para o Caboré Audiovisual também não houve gravação de produções próprias, mas seguem neste ano com novos projetos. Os profissionais estavam preparados para rodar duas obras, ainda durante a pandemia: o curta-metragem “Time de Dois” e o episódio piloto da série “Amores”, ambos escritos e dirigidos por André Santos. “Time de Dois” foi contemplado em edital municipal com recursos da Lei Aldir Blanc. A obra aborda a temática LGBTQIAP+ e discute relações homoafetivas no meio esportivo, mais especificamente, no futebol. “Amores” foi contemplado no Edital de Economia Criativa do Sebrae e em um edital estadual com recursos da Lei Aldir Blanc. Trata-se do piloto de uma série de comédia dramática que mostra a amizade de três amigos e a vida amorosa de cada um deles. De maneira divertida e leve, a série fala sobre aceitação, tolerância e diferentes formas de amar. 

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