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Dramaturgo Costa Filho: um relicário do teatro

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TRAJETÓRIA - Costa Filho comemora 30 anos de teatro

Reminiscências quase perdidas na história do teatro potiguar são lembranças que descortinam a carreira artística do dramaturgo potiguar Costa Filho. Trinta anos de vida dedicados aos palcos e aos bastidores, à arte e ao trabalho árduo de criação. Hoje é seu aniversário – ele completa 40 e uns não revelados – e seu  presente está focado no futuro.

Daqui uns anos, Costa pretende inaugurar seu próprio teatro, “A Casa do Seu Aprígio’, em um imóvel situado nas Quintas e que pertencia a seu pai. Os irmãos permitiram que o espaço servisse à fabricação do sonho do artista. “Meu pai era músico e faleceu há alguns anos, essa casa será uma espécie de sede para minhas produções e também uma forma de homenageá-lo. Estou trabalhando com recursos próprios e penso que vai demorar um pouco para  ficar pronto, talvez em 2012”, contou Costa Filho.    

Ele planejou fazer um teatro de bolso, com 100 lugares, e lembra que esse tipo de denominação – muito utilizada na década de 60 – foi esquecida nos dias de hoje. Pela referência à expressão,  percebe o quanto relatar sua vida é recontar um pouco a história do teatro natalense. Das brincadeiras de circo nas ruas próximas de casa, ao Teatro Alberto Maranhão, Costa Filho pisou muitas vezes nos palcos de extintas ou modificadas casas de espetáculos. 

Antes do teatro Sandoval Wanderley desabar por conta das chuvas, na década de 80, o artista encenou naquele local o musical infanto-juvenil chamado “Negrinha”. “Nós colocávamos e retirávamos as cadeiras. Não sei nem se alguém ainda lembra desse tempo, são reminiscências quase perdidas”.  

Mestre de muitos artistas potiguares, Jesiel Figueiredo também foi professor de Costa Filho. Aos 11 anos, ele integrou uma turma de alunos e passou a compor o elenco de uma peça infantil. “A identificação com o teatro foi tanta que eu fiquei no grupo. Ele foi o maior responsável por tudo o que comemoro hoje, meus 30 anos de arte”.

O artista criou seu próprio grupo, a Cia. Manacá de Teatro, que estreou em 1978. Como havia encenado alguns clássicos infantis com Jesiel, permaneceu o gosto pelos espetáculos para crianças. “E fiz muitos clássicos como ele fez”, espelha-se.

Foi com uma criação própria – “A bruxa e a flor alada” – que Costa Filho destaca a época em que conciliava os infantis com as peças adultas com o grupo Manacá. “A ‘bruxa’ foi uma coisa revolucionária para a época, que era muito focada para os clássicos, mas eu peguei um conto e adaptei para os palcos”.

Depois veio “Negrinha”, que trouxe a inspiração para o tema indígena.   “Enveredamos pelas lendas indígenas e compomos Tucuí”, relembra. Da formação original da companhia, ele ressalta que Lenira Dantas, Jaíra Oliveira e Gorete Barbosa permanecem até hoje na vida artística. “Tem também Luiz Eiras que hoje é um autor teatral”.   

Amigos e queridos por muitas gerações de artista, Costa Filho comemora a construção do TCP (Teatro de Cultura popular), que em agosto completa três anos, sonha com sua própria casa e aposta no projeto Teatro de Natal, previsto para ser executado em breve. 

Pelas lentes sensíveis de Costa Filho

Antes de iniciar a conversa com a reportagem do VIVER no café do TCP, ele posa para as fotos e revela sua sensibilidade. Meio sem graça, começou a recitar versos de Castro Alves para compor um personagem, forma mais fácil de se abrir para o foco da câmera.

Foi uma surpresa observar lágrimas desencadeadas por uma cena que tinha tudo para ser corriqueira. Ele se emociona ao se despir para a sessão de fotos. Esse Costa Filho versátil e produtivo conta que aprendeu com Jesiel Figueiredo a desempenhar mais de um papel – ao mesmo tempo ou isoladamente – como condição imprescindível para a sobrevivência na carreira artística. Ator, diretor, dramaturgo, cenógrafo, iluminador, figurinista – “que hoje chamam designer”, ironiza – e, mais recentemente, voltando a produzir seus próprios espetáculos. “Todo mundo sabe que é difícil ser artista no Brasil. Creio que não é uma característica nossa apenas”, justifica.

Há 25 anos, Costa é servidor público estadual e por 12 anos – de 1987 a 99 – cuidou da iluminação do teatro Alberto Maranhão. Com a construção do Teatro de Cultura Popular, foi convidado a integrar a equipe e chefia o palco. “Esse espaço nasceu para atender aos grupos e a gente utiliza as dependências do TCP para colocar a produções na rua. Lá embaixo tem as oficinas, um espaço bem legal que nos possibilita fazer os cenários e os figurinos”. 

Costa relata que por um longo período, idos da década de 70 ao começo dos anos 90, a Cia. Manacá e o grupo de teatro Alegria Alegria dominaram a cena infantil da cidade.  “O Alegria se tornou de rua para se adaptar à falta de espaços. Enquanto isso, nós nos revezámos nos palcos do TAM e do teatro de Jesiel. Quando este fechou, ficamos somente no TAM”. O tempo era outro e a concorrência diminuta.“Hoje em dia está muito difícil reservar uma pauta para o TAM. Montamos três espetáculos e não temos lugar para apresentá-los. Penso que é mais fácil conseguir uma casa em Fortaleza do que em Natal”, critica.

A Cia. Manacá de Teatro está com as peças “Branca de Neve” (que volta ao TAM no dia 20/07), “Cinderela” e “O Gatinho Nicolau”. “Também temos ‘O Pastelão e a Torta’, que há anos está no nosso cardápio. Fazemos um texto flexível para todas as faixas etárias. Desconfio que este seja o espetáculo mais antigo em cartaz por uma companhia de Natal”.

30 anos depois…

Muitas coisas evoluíram durante os 30 anos de carreira de Costa Filho. Os cenários se modificaram e ficaram maiores. “Na verdade, estamos mais ousados. Fazemos quatro cenários para os espetáculos e as pessoas nos chamam de loucos, porque não preferem dizer corajosos. Os efeitos cênicos são diferentes,  temos mais atores em cena. Fazemos tudo o que fazíamos antes, mas à medida que o tempo passa, o trabalho vai ficando mais esmerado”. A novidade da lei estadual de incentivo à cultura anima o já encorajado espírito de Costa Filho. “O presidente da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, garantiu que são três editais direcionados para o teatro, contemplando a dramaturgia, um espetáculo de circulação e um de rua. Estamos com expectativas  muito boas para as produções teatrais”. A Cia. Manacá de Teatro é uma verdadeira flor do sertão, resistente às intempéries do tempo ao longo dessas três décadas. Durante 16 anos, teve os trabalhos produzidos pela CM Produções Artísticas, mas agora o próprio Costa Filho coloca a pasta debaixo do braço e corre atrás dos patrocinadores. “Mantemos apenas os contratos com a STTU e Caern, que já existiam”. Há alguns anos, ele dirige, escreve e encena as esquetes educativas do TTT (Turma Teatro do  Trânsito) e do Chuá Chuá. Educar através do teatro tem sido uma constante na vida do artista. Quando convidado, ministra cursos de formação “e informação” para crianças e jovens que se disponham a aprender um pouco sobre teatro: “apenas noções”, resume timidamente.     

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