Símbolo da “Frasqueira”, Orlando “Dudé”, 62 anos, não se conteve em emoção ao entrar pela primeira vez na nova casa do ABC. “É uma satisfação e uma alegria muito grande. Não tem palavras para explicar tanta emoção”, disparou o folclórico torcedor, que portava um mega-fone, sua mais nova invenção.
Mas, o que realmente impressionou “Dudé” foi a grande carreata que a torcida fez, do ginásio Humberto Nesi (Machadinho) até o Frasqueirão, na Rota do Sol, passando pela BR-101 e Estrada de Ponta Negra. “Acompanho o ABC desde 1972, quando foi inaugurado o Machadão (na época, ainda Castelão), e nunca vi uma carreata como essa. Quer prova maior de que a torcida do ABC é a maior do Estado? É muita emoção”, disse “Dudé”.
A emoção e alegria do torcedor parece ter contagiado todos os torcedores do ABC, que observava os detalhes do estádio como se não acreditasse no que estava vendo. “É de arrepiar. Nunca pensei em viver este momento”, comentou o policial civil, Gustavo Henrique Cavalcanti de Albuquerque. Quem optou pelo ingresso mais barato – R$ 20,00 – teve que assistir ao jogo inaugural debaixo de um sol escaldante, característico do verão potiguar, o que acabou incomodando alguns torcedores, que tentavam se proteger como podiam, com óculos escuros, boné ou até com a própria camisa sob a cabeça.
“Não dá para assistir jogo aqui desse lado (módulo 2, mais conhecido por arquibancada da Frasqueira) neste horário. É muito quente”, reclamou André Luís Trindade Fernandes, técnico em informática. O sofrimento da Frasqueira deve permanecer por alguns jogos do Campeonato Estadual, já que a iluminação do estádio tem previsão para ficar pronto apenas em março. Os postes já estão sendo colocados.
Emoção de conselheiros e dirigentes na missa
O choro da alegria, da satisfação e do dever cumprido. Assim foi interpretada a emoção do presidente Judas Tadeu e do seu vice, Fernando Suassuna, ao final da missa celebrada pelo padre Lucas. O discurso carregado de emoção acabou sensibilizando os presentes na sede social, na manhã do último domingo.
“Dedico esta obra a todos os dirigentes, conselheiros e torcedores do ABC e a minha família, minha esposa e minhas duas filhas, que tiveram paciência comigo”, disse Judas Tadeu. “É um dia, realmente, inesquecível e de muita emoção”, destacou Ernani Alves da Silveira, 80 anos, presidente do Conselho Deliberativo.
A grandeza da obra e a importância da data chegaram ao extremo na definição de Ernani: “a independência do ABC Futebol Clube”. E continuou: “Esta obra começou em janeiro de 1959, com a construção da sede social da (rua) Potengi. Lá foi dado o primeiro passo. Depois veio Morro Branco, em seguida Ponta Negra, até chegarmos ao que estamos vendo hoje. Para mim é um orgulho enorme”.
Centro de Treinamento é a próxima meta
Aos 51 anos, o vice-presidente Fernando Antônio Brandão Suassuna desabafou em meio à bênção do padre Murilo, declarado, por Judas Tadeu, capelão do ABC: “É muito gratificante. Este dia vai ficar marcado como o dia que começou uma nova era no futebol potiguar. O ABC que era conhecido por ser um clube pobre, hoje pode considerar-se rico”.
O dirigente aproveitou para revelar o próximo passo da diretoria. “A nossa próxima obra será o Centro de Treinamento, que deve ser construído na periferia de Natal com recursos de parceiros estrangeiros. Vamos tentar parcerias com clubes do exterior que tenham o interesse de investir no Brasil e em nosso futebol”.
Traço verde na história do Frasqueirão
þDeu empate na partida histórica entre ABC e Alecrim, no amistoso que marcou a inauguração oficial do estádio Maria Lamas Farache, popularmente conhecido como Frasqueirão. O atacante Da Cunha colocou um traço verde na nova fase da história abecedista ao marcar o primeiro gol do estádio, o feito — registrado aos 38 minutos do 2º tempo — foi reconhecido por todos que compareceram ao dia de festa, a comemoração correu sob aplausos dos quase 3 mil, torcedores que atenderam ao apelo da ocasião, marcando presença nas arquibancadas do mais novo palco do futebol potiguar. Coube ao meiocampista Kel acabar com o sentimento de frustração que começava a tomar conta da massa alvinegra, decretando o empate aos 45.
“Desde que ficamos sabendo que o Alecrim faria a partida de inauguração do Frasqueirão contra o ABC, nós jogadores passamos acalentando esse sonho, afinal um golzinho aqui (Frasqueirão), de alguma forma, colocaria nosso nome registrado na história do futebol potiguar. Estou muito feliz com o feito e mais feliz ainda por passar a integrar a história do ABC”, comemorou o jogador Da Cunha, que também marcou o seu primeiro gol como profissional de futebol.
O destino parece ter reservado um momento especial para Da Cunha, que até o início do ano jogava bola apenas por diversão e, no máximo, defendia a equipe da empresa Garra Vigilância em campeonatos de bairros. Seguramente, ao receber os votos de feliz 2006, ele não imaginava que viria a se tornar um profissional de futebol e que logo em sua primeira participação como tal, sairia do anonimato direto para os anais da história.
“É um garoto bom, se tivermos um pouco de paciência ele vai longe no futebol”, atestou o técnico do Alecrim, Vereador, que fala com a autoridade de ter descoberto o novo valor. “Fui avisado sobre esse rapaz observei alguns jogos dele e resolvi chamá-lo para integrar nosso elenco. É um jogador muito esforçado, habilidoso e se tiver calma terá tudo para vencer no esporte”, prevê o técnico alviverde.
Sonho pelas mãos “matutas”
O presidente Judas Tadeu foi obrigado a controlar as emoções, quando recebeu as autoridades e os representantes dos homenageados no campo de jogo para solenidade oficial de inauguração do estádio Frasqueirão. Para delírio dos alvinegros, o dirigente em poucas palavras conseguiu expressar para a governadora Wilma de Faria e o presidente da Câmara de Vereadores Rogério Marinho, representante do prefeito Carlos Eduardo Alves, o que o projeto significava para “nação do ABC”: “aqui eu estou diante do meu grande sonho.”
Logo em seguida, Tadeu avisou que o poder da oratória não era o forte dele, mas com o jeito simples de se expressar o presidente abecedista foi ouriçando a massa. “Eu sai de Janduís para encontrar uma grande paixão em Natal (o ABC) e jamais imaginei que um matuto fosse ser o instrumento da concretização do sonho de milhares de pessoas”, destacou.
Convidada a discursar, a governadora Wilma de Faria, trajando preto, parabenizou toda família alvinegra ressaltando a importância do projeto para o esporte potiguar, reforçando que Judas e a diretoria do clube mereciam todos os aplausos por colocar em prática um projeto de tal porte. Na ocasião a governadora lembrou que as portas do seu gabinete sempre estiveram e vão continuar abertas para o ABC e para todos aqueles que tenham planos de desenvolver o esporte no estado. Finalizando Wilma disse que o projeto Cidadão Nota 10 este ano irá beneficiar o futebol, facilitando o acesso do público aos estádios através de uma campanha de troca de notas fiscais.
