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E agora, Diniz?

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AOS POETAS - Diniz já musicou Adélia Prado, Carlos Drummond, Augusto dos Anjos e Gonçalves Dias

A luz meio pálida que refletia do teto envolvia alguns casais num grande salão repleto de mesas, no início da madrugada de sexta-feira passada, na churrascaria Carreta, no bairro Cidade Jardim. Foi neste clima que o público recebeu o pernambucano Paulo Diniz e suas poesias musicadas para duas horas de revival em meio à luz da lua cheia que invadia o salão pela janela que dava para a avenida Roberto Freire. A janela, por sinal, esteve sempre tomada por um ou mais casais, que também se divertiam ao som do forró de Silverinha Banda Show, responsável pelo abre-alas da atração principal.   

Amparado numa cadeira e trazido nos braços pelo empresário e uma produtora local por conta de um problema na medula, o homem que fez sucesso musicando o poema “E agora José?” de Carlos Drumond de Andrade chegou com uma hora e meia de atraso. Recebido com aplausos, foi logo surpreendido por uma fã que fez questão de um autógrafo. “É sempre assim. Fotos, autógrafos e beijos. Continuo vivo, mas sem fazer estardalhaço”, diria depois à reportagem. 

Na madrugada de samba, sool e muita poesia, Paulo Diniz fez a alegria do povo. Após o show, foi a vez de contar à TRIBUNA DO NORTE, como anda a vida, os sucessos e os planos da carreira.

TN: Você já havia tocado numa churrascaria antes?
Paulo Diniz: (risos). É realmente… olha, meu público não é formado pela classe A e B. Tem muito povão. Em churrascaria nunca, mas toco muito em clube. Meu público não é muito intelectualizado. Posso estar na churrascaria, em cima do morro, como num teatro. O que importa é a animação. E quem foi no show na Carreta viu que tinha muita gente, o pessoal respondia… foi muito legal.

Qual lembrança você tem dos shows que fez em Natal?
PD: Ah, rapaz… foi em Natal onde levei meu primeiro calote (risos). Tinha voltado do Rio de Janeiro e assinei meu primeiro contrato com um empresário que agendou um show em Natal e outro em Mossoró. Toquei, mas o cara não pagou o que devia. Mas me recuperei depois. Outra lembrança que tenho é que tinha muita vontade de tocar no clube do América e conseguimos marcar um show em 1967. O problema é que deu uma chuva grande e inundou o clube. A apresentação acabou cancelada.

Como está sua carreira hoje?
PD: Continuo caminhando sem fazer estardalhaço. Estou vivo, muito bem aceito. Viajo para todo o canto. Claro que não trabalho tanto quanto antigamente, mas estou feliz, fazendo o que gosto. 

Você ficou um tempo parado por conta de problemas de saúde. O que aconteceu?
PD: É verdade… tive uma inflamação na medula que afetou minha perna direita e dificultou locomoção. Mas assim que tive a menor condição de voltar à trabalhar deixei a cama. Não consigo ficar muito tempo parado, sabe como é…

Quando você olha para o que já fez na carreira vê um Paulo Diniz diferente?
PD: Não me vejo nem pior nem melhor. Sinto alegria em continuar com o mesmo gás, fogo. Tenho estudado a profissão, estou lendo alguma coisa da literatura brasileira. Sou mais experiente. Como tenho alguns sucessos na carreira, às vezes me poupo e deixo o público cantar no meu lugar. É diferente do começo nesse sentido, mas ainda tenho novidades.

Você falou em literatura. Uma das grandes marcas do seu trabalho é a criação de melodias para poemas de autores brasileiros? Como começou isso?
PD: Sempre tive interesse pela poesia. Trabalhei como jornalista, fui radialista na rádio Globo, Tupi, isso tudo numa fase inicial da minha vida. Eu comecei a fazer sucesso ao 25 anos de idade e teve essa coisa da comunicação. Até que em 1972, gravei “E agora José?” (poema de Carlos Drummond de Andrade), que se tornou meu primeiro sucesso e resolvi continuar…

Então tudo começou com o poema de Drummond…
Foi. Tinha contato com outros poetas, mas não imaginava fazer melodias para os poemas até que deu certo. Aí vieram Jorge de Lima, Gonçalves Dias, Manuel Bandeira, Adélia Prado, Augusto dos Anjos. Hoje estou com um projeto de lançar um disco somente com os poemas musicados por mim. Estou vendo ainda quando vai sair, mas deve se chamar “O Sentimento do Mundo”.

Você é o cantor que mais musicou poesias no Brasil?
Pode ser… acho que sim. O Chico Buarque e o Fagner também gravaram, fizeram sucesso, mas em termos de quantidade acho que sou o que mais musiquei e gravei sim…

O que o “José” do poema de Drummond representa? Porque você acha que a música fez tanto sucesso?
Me identifico demais com ele… com o sofrimento. Mas acho que o campo de entendimento de um poema é muito vasto para te dizer exatamente no que me identifico com o personagem. E o interessante é que fiz uma canção modesta sem nenhuma pretensão de fazer sucesso. Criei apenas uma melodia de apoio, uma musiquinha simples mesmo. Jamais quis que a música fosse maior que o poema.

Mas você arrisca dizer como o público encara o José?
Olha, em Recife tem um bairro pobre, uma favela mesmo, chamada Alto José do Pinho, de onde saíram várias bandas de rock, e tem um movimento cultural bem forte. Quando canto essa canção lá o povo todo responde e sinto essa identificação. Existem muitos Josés no Brasil.

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