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‘É preciso dar o que o mercado quer’

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O enfraquecimento do dólar diante do Real levou os exportadores de camarão no Rio Grande do Norte a frear as vendas para o mercado externo e a apostar cada vez com mais força num mercado em franca expansão: o Brasil. Para aproveitar bem esse filão, entretanto, entender as preferências do consumidor é essencial, na visão do americano George Chamberlain, considerado um dos principais estudiosos da aquicultura internacional. Nesta entrevista, ele fala sobre o momento do setor e também sobre temas como sustentabilidade, explicando que é possível produzir mais e melhor, com menos impacto sobre o meio ambiente. “Podemos dobrar a produção de camarão em uma década, de forma responsável?”, questiona Chamberlain. O assunto será abordado por ele em palestra dentro da VIII Feira Nacional do Camarão-Fenacam, a ser realizada de 06 a 10 de junho, no Centro de Convenções de Natal. A Feira será realizada este ano junto com o maior congresso científico mundial da carcinicultura, a WAS – World Aquaculture Society. A programação dos eventos prevê simpósios e minicursos ministrados por autoridades nacionais e internacionais do setor, como o norte-americano que concede a entrevista a seguir.

Em suas viagens recentes, o senhor conseguiu identificar alguma nova tendência na produção da aquicultura e especificamente na produção de camarão?

Uma tendência global é o investimento em tecnologias para um maior controle sobre o ambiente de produção. Dessa forma se consegue melhorar a eficiência e reduzir o risco de doenças, além de otimizar as taxas de crescimento. Um exemplo é a captura e reciclagem de água em grande parte da cultura, através desse processo muitas fazendas melhoram a biossegurança e também reduzem os problemas de efluentes. Na Tailândia e na Malásia, alimentadores automáticos são rotineiramente utilizados em fazendas de camarão. Já na China, onde a carcinicultura está se expandindo rapidamente para atender ao aumento da demanda doméstica, as fazendas na região do Cantão instalaram tampas de plástico em grandes áreas de lagoas de engorda para estender o período de crescimento. Na América Latina, mais especificamente no Chile, as incubadoras de salmão têm controles computadorizados para monitorar e ajustar a temperatura da água, salinidade, pH, alcalinidade, CO², taxas de alimentação, e outros aspectos da cultura,.

Qual é seu conceito de uma produção aquícola sustentável?

A aquicultura sustentável se esforça para produzir mais com menos insumos. Os novos sistemas de produção de camarão visam produzir mais com menos alimentos, menos energia, menos água e menos terra. Muito desta tecnologia é impulsionada por melhorias na genética que está levando a um crescimento mais rápido na produção. No entanto, o potencial destes melhoramentos genéticos exige a melhoria dos sistemas da larvicultura e da engorda.

Como o camarão cultivado no Brasil não compete mais no mercado internacional, uma vez que seu mercado interno é mais atraente, que experiências de outros países o senhor pode compartilhar para o setor aproveitar ainda mais o mercado interno?

Uma grande dica é dar ao mercado o que ele quer. Assim, um entendimento claro das preferências dos consumidores é essencial. È necessário também o conhecimento das formas “corretas” de produção e processos de entrega. Além disso, deve-se questionar junto ao público-alvo se há preferências por um maior valor agregado ao produto ou por produtos naturais. As combinações de ações corretas podem levar a vantagens na produção e processamento. Por exemplo, na China, o mercado interno prefere camarão fresco. Isto reduz custos, como a necessidade de processamento e congelamento. Novamente, maior produção com menos custos.

O Brasil pode atender à demanda mundial de frutos do mar num futuro próximo?

Devido aos recursos naturais, o Brasil tem potencial para ser um dos principais produtores da aquicultura. Possui ingredientes com o ração a baixo custo, que é o maior gasto operacional em qualquer empresa de produção animal. Além disso, a energia e as obrigações trabalhistas também são relativamente baixos no país.

A indústria de alimentação aquática do Brasil está no mesmo nível competitivo do continente asiático?

Ambos os lugares estão bem estabelecidos e são progressistas. A Ásia e o Brasil têm indústrias tecnicamente avançadas, sendo que o segundo tem a vantagem de ter uma ampla gama de ingredientes e alimentos disponíveis, e muitas vezes disponível localmente, o que diminui os custos de produção e transporte.

Os recentes terremotos que ocorreram no Japão podem causar impacto sobre o consumo de camarão naquele país e, portanto, afetar a produção e a comercialização do crustáceo no resto do mundo?

O Japão continua a ser um forte comprador de crustáceos, apesar dos impactos dos terremotos e da tsunami que o assolaram. Muitas fazendas de frutos do mar na parte nordeste japonesa foram danificadas, o que provocou uma queda temporária das importações de camarão, os japoneses também reduziram o consumo devido às consequências imediatas do desastre. No momento, a demanda da produção dá início à recuperação e os grandes comerciantes japoneses, bem como os importadores, começam a comprar ativamente de suas principais áreas de abastecimento internacional. Recentemente, o portal seafood.com postou uma matéria onde mostra que o Japão está comprando camarão tailandês a preços médios 50% acima do ano passado, devido às inundações na Tailândia.

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