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“É preciso imunizar em massa”

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Se confirmada a previsão da Destaque Promoções e o Carnatal deste ano receber um milhão de foliões, entre 10% e 30% dos foliões – algo em torno de 100 mil e 300 mil pessoas –  poderão contrair o vírus do H1N1. Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS) e se referem à contaminação em eventos de massa, como o Carnatal. Diante desses números, o presidente da Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia, Hênio Lacerda, reafirmou, em entrevista a TRIBUNA DO NORTE, que o recomendável era que o evento não fosse realizado.
Hênio Lacerda, presidente da Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia

TRIBUNA DO NORTE: Qual o risco real de se ter um aumento nos casos da Gripe A com o Carnatal?
Hênio Lacerda:  Um documento do mês de novembro, liberado pela Organização Mundial de Saúde, informa que, apesar dos dados sobre a doença serem escassos e levando em consideração alguns pontos como a incidência da doença  no local, estima-se que em ocorrendo um evento de massa a contaminação com o vírus H1N1 pode variar de 10% a 30%. E como também é estimado neste documento, cerca de 10% das pessoas infectadas poderão evoluir para a forma grave da doença. E desses casos graves, cerca de 10%  correm o risco de ir a óbito em decorrência da doença. Mesmo se tendo pouca informação, esse número por si só, já deveria alertar para a não realização do evento.

Quanto tempo depois de contraído o H1N1 o paciente começa a apresentar os sintomas?
A partir de 24 horas a pessoa já pode desenvolver os sintomas da Gripe A, que podem ser retardados até sete dias depois de contraída a doença. E essa é a preocupação porque se ele começa com 24 horas e eu vou na quinta-feira e tenho contato com alguém que tenha o vírus e está no período de transmissibilidade, que pode ser até um dia antes do início dos sintomas, eu tenho a chance de pegar e com 24 horas transmitir  para outras pessoas. Isso se ela não evoluir para a forma grave porque se tiver na forma leve, ela toma um remédio, passam os sintomas e vai novamente contaminar outras pessoas. Além disso, as pessoas vão ter a ‘chance’ de se contaminar em quatro dias diferentes. E vira uma bola de neve. Por isso, a recomendação é de quem tiver algum sintoma de gripe deve ficar em casa porque se conseguirmos isolar o paciente fonte a gente diminui a transmissibilidade da doença. Isso serve tanto para o Carnatal como para qualquer outra atividade como trabalho, escola, etc.

E quais são os sintomas da Gripe A? E da Gripe Sazonal? Um paciente consegue  diferenciar um vírus do outro?
Os sintomas observados para a Gripe A são: febre alta, entre 38,5º e 39º,  tosse e dor de cabeça. E aí vem outros sintomas menos comuns como a dor de garganta, entupimento do nariz e a coriza, dores muscular, vômito, diarreia. O que vem sendo observado, mas muito discretamente é que a influenza sazonal, apresenta mais dor de garganta. Na verdade, não tem como diferenciar. Clinicamente é impossível de distinguir qual é o agente causador da Gripe A e da Gripe Sazonal. Só quem pode diferenciar é o exame do DNA do vírus.   
                          
O que as autoridades precisam providenciar para conter um provável avanço da doença no Carnatal?
Não tem o que ser feito. As recomendações da OMS para a prevenção do H1N1 são completamente antagônicas ao Carnatal. A primeira é evitar aglomeração, depois vem não haver contato muito próximo, não compartilhar objetos pessoais. E neste evento, apenas em um bloco são  cinco mil pessoas, onde não se consegue ter nem meio metro de distância um do outro. Não há recomendação de uso de máscara.  Se é para ir de máscara é melhor cancelar o evento. 

Levando em conta que o Carnatal não vai ser cancelado, o que os foliões podem fazer para evitar o contágio?
Eu não consigo ver o que pode ser feito. Não compartilhar objetos como copos e latinhas, não beijar na boca, são coisas que se recomendam fazer, mas que não vai impedir o contágio. É como se eu convidasse um grupo de diabéticos para comer um banquete de doces e dissesse que eles não poderiam comer.

Quais os cuidados que se deve ter pós-Carnatal?
Não existe. A recomendação é que pessoas do grupo de risco (crianças, idosos, gestantes…) devem ficar em casa. E já que o evento vai ocorrer, a gente pede que as que tiverem febre procurem o atendimento médico  e não vão para o evento. Porque além de poder piorar a doença, podem passar para outras pessoas.

Considerando a prática da auto medicação, que medicamentos não podem ser  utilizados de forma alguma em pacientes com H1N1?
O Ácido Acetil Salicílico (AAS) não pode ser utilizado em quem tem o vírus do H1N, principalmente, nas crianças. Essa substância favorece uma alteração na resposta imunológica, que consequentemente, vai afetar o fígado e o cérebro. O vírus já pode causar isso, mas quando se junta a esse medicamento piora.

A vacina é o único tratamento eficaz?
Se existia uma coisa que poderia ter sido feita para evitar uma preocupação maior era ter feito uma vacinação em massa. A vacina já está disponível nos Estados Unidos, mas no Brasil ela só vai ser disponibilizada em fevereiro. Uma das nossas recomendações é que a Secretaria de Saúde veja uma possibilidade de se adiantar a vacinação. Porque caso não seja feita uma imunização em massa, vai virando uma bola de neve.

Sesap desmente sonegação

A subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde, Juliana Araújo, afirmou ontem que os dados repassados pela Sesap sobre a Gripe A (H1N1) são reais. De acordo com Juliana, o grande número de pessoas nos hospitais de Natal, públicos e privados, não reflete necessariamente casos de infecção pela doença.

“Temos 448 fichas, das quais ainda precisamos dar conta da metade. Das que já foram computadas, temos grande parte com notificações que não atendem em nada ao que preconiza o Ministério”, explica Juliana. As notificações “equivocadas” trazem casos de pessoas que não apresentam os sintomas mais característicos da gripe, como febre e dispneia (dificuldades para respirar). “É justamente por isso que existe uma discrepância entre o que diz a Sesap e a Secretaria Municipal. O nosso protocolo é o do Ministério”, acrescenta Juliana. Para a Sesap são cerca de 300 notificações de suspeitas até agora enquanto que para a SMS, esse número já passa de 600.

A Secretaria Estadual de Saúde não tem acompanhado de perto a distribuição do medicamento Tamiflu. Segundo Juliana Araújo, o uso de medicamento segue um protocolo definido, onde o médico, ao receitá-lo, precisa especificar o lote e os sintomas do paciente. As fichas voltam para a Sesap que, assim, teria o controle do quanto foi utilizado até o momento. Contudo, não há pessoal para fazer esse monitoramento. “Não temos tido como computar essas fichas. O controle que temos é, se um hospital usar o seu estoque muito rápido, fazer uma visita para verificar essa utilização”, diz Juliana. O RN recebeu mais de cinco mil caixas de tamiflu.

A comunicação entre os hospitais privados e a Secretaria de Saúde também está prejudicada. De acordo com o diretor da Promater, Nelson Mendonça, os hospitais privados não recebem a confirmação se seus pacientes estão com o vírus. Fica tudo nas mãos da Sesap.

Saúde intensifica ações de prevenção contra gripe

As Secretarias Municipal e Estadual de Saúde estarão intensificando ações de prevenção e cuidados contra a Gripe A (H1N1). O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) também montou uma estrutura para realizar atendimento aos pacientes com suspeitas de Gripe A, que estejam no Carnatal.

Um posto de atendimento será colocado na avenida Miguel Castro, próximo à Caixa D’água da Caern. Serão instalados 12 leitos. Outros dois leitos estarão no corredor da folia.

Segundo a chefe do setor de vigilância em Saúde do Município, Cristiana Souto, os pronto-atendimentos do Sandra Celeste, Cidade da Esperança, Cidade Satélite e Hospital dos Pescadores estarão com equipes de plantão para receber os pacientes mais graves. A secretaria também vai disponibilizar o Tamiflu nessas unidades.

Questionada sobre a estrutura dos leitos, recomendada pelo MP (isolamento respiratório, quartos privativos com vedação de portas, entre outras exigências), Cristiana informou disse que o Hospital Giselda Trigueiro possui um leito que atende a essas exigências. Ela falou ainda que é de responsabilidade da Sesap providenciar esse tipo de leito nos hospitais.

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