ENTREVISTA/ Wendell Bezerra Lopes – coordenador dos Cursos de Engenharia de Petróleo e Gás da UnP
O principal fator por trás da queda das vendas de etanol no país é o preço, aponta o professor doutor Francisco Wendell Bezerra Lopes, coordenador acadêmico dos Cursos de Engenharia de Petróleo e Gás da Escola de Engenharia e Ciências Exatas da Universidade Potiguar (UnP), com graduação, mestrado e doutorado em Engenharia Química. Segundo ele, dá para devolver competitividade ao combustível, que fez as vendas de carros flex dispararem no país. A solução, segundo ele, seria combinar a implementação de políticas de incentivo a produção de cana e a redução dos tributos. “O problema é que não vemos nenhuma ação sendo tomada a respeito”. Os preços do etanol só voltarão a cair na bomba quando as medidas forem implementadas. Até lá, abastecer com gasolina e não com GNV e etanol continuará sendo mais vantajoso.
O anuário do Sindicom (2012) mostra aumento em torno de 20% nas vendas de gasolina e queda nas vendas de etanol e GNV no RN e no país. Por que estes combustíveis (etanol e GNV), que eram bem mais vantajosos, perderam competitividade?
O principal problema continua sendo o preço. Os preços do litro de etanol e do metro cúbico de GNV comercializados no nosso estado os tornam inviáveis, se comparados ao da gasolina. Para ter uma ideia, enquanto em estados como São Paulo (maior estado consumidor nacional) o litro de etanol está sendo comercializado por cerca de R$ 1,70 por litro, aqui dificilmente é encontrado por menos de R$2,25. Esse valor que anteriormente sofria reduções em períodos de safra da produção do destilado da cana de açúcar, hoje permanece constante. A situação do GNV não é muito diferente. Há pouco tempo era comercializado por pouco mais de R$1,00. Hoje é encontrado de R$1,90. Mas isso não é exclusividade de nosso estado. Em estados vizinhos, esses valores não são muito diferentes.
Dá para reverter este quadro? De que forma?
Sim, principalmente se algumas políticas de incentivo à produção de cana de açúcar (caso do etanol) forem implementadas e a redução de tributos para esses combustíveis alternativos for tratada com seriedade. O setor sucroalcooleiro não tem sido incentivado a realizar novos investimentos na expansão da produção.
O preço do etanol voltará a ficar competitivo?
Talvez, se as medidas forem adotadas. O problema é que não vemos nenhuma ação sendo tomada a respeito. Apesar de algumas mobilizações e protestos dos consumidores em redes sociais reivindicando por reduções nos preços dos combustíveis, não observamos nenhuma ação significativa para alterar este cenário.
Qual a tendência para este e o próximo ano? A gasolina continuará mais vantajosa?
Tudo indica que sim.
Quais as principais consequências da queda das vendas de etanol e GNV no Brasil?
Caso o etanol deixe de ser vantajoso em relação ao açúcar, este segundo passará a ser o foco da produção. Para ter uma ideia da importância do etanol na matriz energética nacional, o Brasil já economizou US$ 266,7 bilhões com a substituição da gasolina por etanol desde 1975, quando o Próalcool foi implementado. O volume de recursos é referente a 2,33 bilhões de barris de gasolina que foram substituídos pelo etanol combustível nesse período. Esta informação foi divulgada durante o Global Agribusiness Forum, que aconteceu esta semana em São Paulo. Neste mesmo evento, mostrou-se que além da falta de investimentos que praticamente interrompeu o ciclo de expansão do setor desde 2008, mais de 40 usinas fecharam suas portas desde 1975.
Saiba mais
Segundo o professor doutor Francisco Wendell Bezerra Lopes, coordenador acadêmico dos cursos de Engenharia de Petróleo e Gás da Escola de Engenharia e Ciências Exatas da Universidade Potiguar (UnP), abastecer com etanol é vantajoso quando o litro custa menos de 70% do litro da gasolina. “Se a proporção ultrapassa essa porcentagem, abastecer com gasolina torna-se mais interessante financeiramente”, afirma. Segundo Wendell, com a gasolina em R$2,69 – valor médio praticado pelos postos de Natal – substituir a gasolina só seria vantajoso se o preço do etanol estivesse abaixo de R$1,88, “o que representaria uma redução de mais de 15% do preço atual do etanol”. Segundo ele, o uso do GNV é mais viável para consumidores que rodam quantidades consideráveis por mês. No entanto, é preciso considerar a redução da potência do veículo e as taxas de instalação do sistema de conversão para o novo combustível e inspeções periódicas. “No site http://www.tonognv.com.br/ na seção “simulação” o consumidor pode simular até que quilometragem mensal rodada é viável a utilização do GNV”, diz.