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“É preciso vencer os demônios”

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Lia Luz – especial para a TN

Baton Rouge/EUA – Personalidade mais esperada do Simpósio de Liberdade Hemisférica – Recordando a Flórida Ocidental: 76 dias de rebelião que ecoaram no hemisfério (Hemispheric Freedom Symposium), em Baton Rouge, capital de Louisiana, nos Estados Unidos, o ex-presidente da Costa Rica Oscar Arias, ganhador do Nobel da Paz em 1987, emocionou a plateia ao proferir um discurso com ares poéticos e tom dramático, indicando os caminhos possíveis para a América Latina chegar ao desenvolvimento.

Antes de tomar a palavra, durante jantar de encerramento realizado no último andar do Hilton Baton Rouge Capital Center,  Arias foi apresentado com pompas e honrarias por Charles “Buddy” Roemer, governador de Louisiana entre 1988 e 1992 e seu fã confesso. “Arias é um herói para mim desde que entrei na política. Já admirava-o desde quando era um jovem congressista, em Washington, D.C.”, bajulou Buddy, que por mais de dez minutos teceu diversos elogios aos feitos do laureado, até de fato convidá-lo a ocupar o palanque.

Presidente por dois mandatos, de 1986 a 1990, e de maio de 2006 a maio deste ano, Arias mostrou talento, como experiente homem público, para discursar. Do início ao fim, modulou a voz para emprestar mais dramaticidade às palavras previamente escritas num inglês perfeito e literário, sugerindo terem sido elaboradas por ou com a ajuda de algum nativo na língua. “Podemos nos tornar algo melhor do que a nossa história nos propõe? Podemos usar as lições do passado para nos tornarmos melhor?”, questionou. Para ele, isso só será possível se os países forem capazes de “vencer os demônios da história e se olharem no espelho com criticismo”.

Um desses demônios, segundo ele, é o hábito ainda atual de seguirmos culpando nosso passado como colônia pelas desgraças atuais, como a fome, a ignorância, o desemprego, a desigualdade e a falta de acesso às tecnologias que servem de passaporte à educação. “Os países ficam buscando justificativas, incluindo inimigos imaginários, instituições financeiras internacionais, ao invés de entregar respostas. Muito tempo passou desde o começo de nossa vida como países independentes. Já perdemos o direito de culpar nossa história pelo nosso presente”, defendeu, lembrando que são dois séculos de liberdade e até hoje não há nenhum país desenvolvido na região. “Outras nações que também partiram de condições semelhantes conseguiram avançaram graças a boas políticas públicas, como Singapura.”

Ganhador do Nobel defende mais verbas para a Educação

Segundo Oscar Arias, para a América Latina ingressar no caminho do desenvolvimento, é preciso vencer diversos obstáculos, como a falta de mecanismos para apoiar ideias inovadoras, a falta de transparência nas ações públicas e a fragilidade da democracia. “À exceção de Cuba, todos os países elegeram seus presidentes em eleições livres, mas há exemplos de líderes que usam as instituições democráticas para subverter a democracia”, reconheceu. “Muitos chegam ao poder e mudam a constituição para ficar eternamente no poder”, acrescentou, numa clara alusão a Hugo Chávez.

Outro ponto considerado crítico por ele é o mau uso do dinheiro público, o qual poderia ser combatido com mais investimentos na educação e em outras áreas estratégicas. Em cinco anos, disse, a América Latina aumentou em 100% os gastos militares, sendo que nenhum país, exceto a Colômbia, enfrenta, de fato, conflitos armados (Arias não mencionou os problemas do tráfico no Rio de Janeiro). “A Costa Rica foi o primeiro país, em 1949, a não ter um exército, declarando a paz”, salientou. Como presidente, aliás, Arias lutou fortemente pelo processo de paz na América Central, feito que lhe rendeu o Nobel da Paz. No ano passado, também exerceu papel de conciliador, ao tentar mediar o conflito político que se instalou em Honduras quando o presidente José Manuel Zelaya foi deposto.

“Se puder deixar apenas uma mensagem é que a América Latina tem condições de vencer os demônios do passado. Há 200 anos, as nações acharam forças para declarar independência. Agora, precisamos encontrar essa mesma força para declarar uma nova independência, e entrar no novo século”, finalizou.

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