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“É uma ilusão só pensar na Copa do Mundo”

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Sara Vasconcelos – repórter

Reclamação antiga de empresários e operadores do trade turístico, a baixa promoção do  Rio Grande do Norte como destino turísticos em países emissores na Europa é apontada pelo diretor geral da TAP na América do Sul, Mário Carvalho, como um dos motivadores da perda de mercado turístico para estados vizinhos e outros destinos mundo a fora. “É preciso uma divulgação forte, para que os turistas venham pra cá”, afirma. Assim como o país, o executivo acredita que o estado também não tem aproveitado a oportunidade de “vitrine mundial” oferecida pela Copa do Mundo. E adverte: “a Copa é apenas um mês. Há outros doze meses e é preciso promoção com planejamento e pesquisa do que o turista quer”. Em Natal desde ontem, o executivo  profere palestra para advogados e empresários do setor a partir das 10h de hoje na OAB/RN e será homenageado com o título de cidadão natalense na Câmara Municipal de Natal. Confira os principais trechos da entrevista:
Mário Carvalho: O poder público tem que tratar o turismo de forma mais profissionalizada
A TAP Portugal já opera em Natal há 14 anos. Quais os resultados e planos de investimentos para o RN?
Na realidade, o nosso investimento se dá em relação a quantidade de voos. Sempre se aumenta o número de voos, há forte investimentos. Hoje temos três voos semanais e fazemos planos para oferecer voos diários.

A partir de quando e quanto isso representa em investimento de recursos?
Não comento os valores, não há como quantificar, e não há uma previsão de prazo, porque isso depende do comportamento do mercado, se o mercado permite ou não, comporta ou não.

O mercado potiguar é promissor, é competitivo frente a outros mercados, destinos?
Eu diria que é promissor, no aspecto de atrair turismo, no nosso caso, da Europa para cá, mesmo ultimamente com a crise europeia e que deverá ser ultrapassada em mais dois, três anos.

O turismo estrangeiro no Estado sofreu uma queda de 65% de 2006 pra cá. Ao que você credita esta perda e o que fazer para reverter?
Diversos fatores contribuíram para essa queda, a crise financeira nos países europeus e o preço Brasil. O custo Brasil é bem superior aos outros destinos concorrentes, mas isso pode ser aniquilado com maior qualidade em serviços e com investimentos em promoção. O RN tem concorrentes e não só no Brasil, mas em todo o  mundo, o mercado europeu tem outros países e outras regiões fazendo promoção constante. E a promoção diminuiu bastante não só por parte do Estado, como também pela Embratur. E não é só o custo Brasil em si, mas também todo o aspecto cambial, o real está muito forte, antes o euro comprava muito mais real, o Brasil era bem mais barato e essa situação se inverteu. Há uma nova tendência de desvalorização do real, nos últimos dias, e isso se transforma em oportunidade de o Rio Grande do Norte ficar mais barato para o turista europeu. Frente a isso é preciso uma divulgação, uma promoção forte, para que os turistas venham pra cá.

O Governo Federal lançou o Plano Nacional do Turismo, pegando gancho dos megaeventos como as Copas das Confederações, do Mundo, Olimpíadas e espera aumentar a taxa de entrada de estrangeiros em 8,03% ao ano, de agora a 2016. Na atual conjuntura, o RN consegue acompanhar esse crescimento?
A Copa é uma grande oportunidade para alavancar o conhecimento da cidade em si, de todas as atrações que existem aqui e precisa ser muito bem trabalhado, divulgado lá fora, para que as pessoas venham para Natal que é uma das sedes. Não só para a Copa do Mundo, mas também a partir daí a coisa possa se desenvolver. É uma oportunidade de ouro de ter uma vitrine mundial.

E o estado está sabendo aproveitar essa oportunidade?
Eu acho que o Brasil não está sabendo aproveitar, de manter uma divulgação constante. Os estados estão começando a se mexer, o que acho que é uma ilusão é só pensar na Copa. É preciso promoção com planejamento, saber o que o turista pretende, quais as necessidades e oferece-las. A Copa é um mês e o ano tem doze. Havendo boa vontade e interesse em oferecer um produto de qualidade isso pode ser ajustado.  Quando a gente diz que o Brasil é caro, é caro por que? É caro em relação a outros destinos do mundo e é caro sobretudo pela qualidade dos serviços oferecidos. Há de haver por parte de todas os intervenientes dessa cadeia produtiva de turismo, a preocupação constante com a qualidade dos serviços prestados e a preparação das pessoas que prestam esses serviços.

E como está esse padrão de qualidade em comparação a outros mercados?
Está muito, muito abaixo do que é visto em outros países. Você tem dificuldade até de encontrar alguém nos hotéis que falem outro idioma. Os preços praticados não justificam a qualidade. A relação preço qualidade não esta´correta, não é equilibrada.

Nesse primeiro quadrimestre, o Aeroporto Augusto Severo perdeu 60 mil passageiros. A queda foi maior do que em Pernambuco, Ceará, na Bahia. É o custo? É mais caro viajar para cá?
É a mesma coisa, não há diferenciação no custo. Se foi mais acentuado aqui, é devido a falta de promoção.

O que é preciso para que o novo aeroporto seja a porta de entrada de novos voos, novas empresas?
Boas condições. Isoladamente o aeroporto não reflete muita coisa.

O que é necessário?
Qualidade de serviço.

O Aeroporto de São Gonçalo do Amarante foi o primeiro a ser leiloado à iniciativa privada. Como a TAP enxerga essa privatização?
Acho que faz a economia  como um todo, desde que o governo estabeleça, como em outras concessões, limites. Que os detentores da exploração procurem a cadeia de turismo para atrair mais passageiros, voos e companhias. O aeroporto vai viver da quantidade de pousos  e decolagens, da quantidade de passageiros que circulam. E para essas companhais irem é preciso qualidade e preço.

O que mais o RN precisa para reverter essa perda de passageiros, de malha área e turistas estrangeiros?
É um conjunto de fatores. Vender só sol e mar não é tudo. Existe uma concorrência de sol e praia em diversos lugares do mundo. Quem vem pra cá, quer é sol e mar, e se chove, faz o quê?

A criação de novos produtos é uma das metas do PNT, que sugere a criação de parques naturais…
 Sim, novos produtos. Tem toda a natureza, mas só isso não chega. Agregar o clima e a beleza e segmentar e criar produtos, há parques fantásticos que não funcionam, não se promovem como atração turística. Natal foi uma base militar americana importante que pode ser usada, explorada turisticamente, a Barreira do Inferno, isso tudo e também para o turismo interno  é interessante. O Centro de Convenções me aprece que aqui ainda é pequeno, ou seja, é preciso um incremento de ofertas. Mas o mais importante é o poder público entender que o turismo é uma parte bastante importante da economia dos estados nordestinos e passar a investir, a tratar a atividade a sério, de forma mais profissionalizada.

O turismo ainda é feito de forma amadora no Brasil?
Essa é uma palavra forte, eu diria de forma empírica.

O poder público geralmente reclama falta de recursos para investimentos maiores. Concessões e PPPs podem ser a saída?
Todas as formas. O ideal é a participação do Estado como ente propulsor e investidor com a iniciativa privada de criar condições, para que os produtos sejam colocados na cadeia de  distribuição.

Como está o processo de privatização da TAP? Há empresas brasileiras interessadas?
O governo abriu uma licitação no final do ano passado que não se concretizou e deverá abrir uma nova esse ano. Não sei dizer se existem brasileiras, mas pelos jornais tem a Azul e o governo federal está interessada que companhias brasileiras participem do processo não só da TAP. Hoje a TAP é 100% estatal e precisa ser privatizada para ter acesso a capital de investimento.

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