Ramon Ribeiro
Repórter
A programação está dividida em dois eixos temáticos: Tela Ambiental, no primeiro dia, e Tela Contracultura, no segundo. No primeiro, as atividades começam com uma mostra de curtas, seguida pela mesa de abertura, composta pelo poeta e artista visual paraense Bené Fonteles e a diretora paulista Regina Jehá, onde falarão da relação dos seus trabalhos com a questão ambiental.
Bené tem quase 50 anos de carreira e soma dezenas de exposições nacionais e internacionais. Ele trabalha com apropriação de objetos da cultura brasileira para montar instalações, procurando sempre aproximar o homem da poética contida na natureza. Além de artista, é também é ativista ambiental. Já Regina é uma cineasta bastante premiada no país, tendo lançado a poucos meses o documentário “Frans Krajcberg: Manifesto”, onde o arte-ativista polonês – naturalizado brasileiro –, fala sobre sua trajetória e descaso da humanidade com o meio ambiente. A exibição do tal filme encerra a noite de abertura. A mediação deste debate ficará com o artista plástico carioca, agora residente em Natal, Sérgio Cézar, conhecido como o arquiteto de papelão.
No segundo dia, a programação começa novamente com uma mostra de curtas, desta vez será um apanhado das produções viabilizadas pelos editais CineNatal dos anos anteriores. Na sequência acontece a mesa “Encontros Agripínicos”, em que a cineasta paulista Lucila Meirelles e o músico Cid Campos conversam sobre o romancista, cineasta e dramaturgo José Agrippino de Paula, nome importante da contracultura brasileira nos anos 60 e 70, influenciador da geração tropicalista, e criador do espetáculo “Rito do Amor Selvagem”, um dos primeiros eventos performáticos e multimídia do país, cuja estreia se deu há exatos 50 anos. Para este debate, o mediador convidado será o cineasta Carito Cavalcanti.
Lucila começou com trabalho em performance arte, mas ganhou grande projeção nos anos 80 e 90 com vídeo premiados, dentre os quais, “Pivete”, “Crianças Autistas”, “Yara Bernette: Mergulhada na Música” e “Cego Oliveira no Sertão do Seu Olhar”. Seu trabalho mais recente é o documentário “Rito do Amor Selvagem”, sobre a trajetória e obra de Agripino de Paula. A obra será exibida logo após o debate com Cid Campos, músico com destacado trabalho no campo da poemúsica e que não por acaso compôs a trilha sonora do filme de Lucila. Ele também fará o show de encerramento da Mostra.
Segundo a chefe do Núcleo de Audiovisual e Novas Mídias da Secult, Anayde Targino, a Mostra Cine Natal está alinhada com os principais temas em voga nos festivais pelo país. “A questão ambiental está muito em evidência no país. E para Mostra, estamos trazendo nomes que tem bastante o que falar sobre o tema”, explica Anaýde. “E com relação a Contracultura, é uma possibilidade de refletirmos sobre uma forma diferente de ver a cultura, a partir de uma visão não segmentada”.
Oficinas
Bené Fonteles falará da relação de sua arte com questão ambiental
De acordo com o Diretor de Políticas Culturas da Secult, Josenilton Tavares, o órgão está em constantes conversas com o segmento audiovisual natalense para afinar os direcionamentos para o setor. “Em conversa com o grupo de trabalho, ficou resolvido que seria legal priorizar a capacitação no setor. Então por isso as oficinas, que vão acontecer agora durante a mostra”, diz o gestor.
Cine Natal
Embora esteja promovendo agora ações de capacitação e difusão de filmes, a Secult segue apoiado a produção de novos trabalhos via edital Cine Natal. O edital deste ano foi lançado em agosto com valor total de investimentos na ordem de R$ 29 mil – a mais enxuta de todas as edições. Mas a baixa nos recursos se deve à paralisação da parceria com a Ancine, que nos anos anteriores entrou com apoio financeiro na proporção de três vezes o valor investido pela Prefeitura.
“A Ancine foi reformulada e suspendeu os editais que estavam previstos para este ano. Isso nos impossibilitou de ter essa parceria que estava prevista, que era a gente entrar com R$ 200 mil e eles com três vezes mais esse valor. Então para esse ano, ficamos só com nossos recursos extras para essas ações”, esclarece o gestor. “Estamos na espera do governo federal. Na hora que a Ancine voltar com a parceria com os entes federados, nós entraremos com a contrapartida de R$ 200 mil”.
No entanto, Josenilton lembra que os recursos investidos no audiovisual neste ano não se limitam aos R$ 29 mil do edital. “Os investimentos foram feitos de maneira fragmentada. Chegamos a um valor de 100 mil, mas dividido em ações. Estamos com um grupo de trabalho do audiovisual, composto por pessoas do segmento junto à Funcarte, tudo para discutir os caminhos para a política público no setor. E ouvindo o grupo de trabalho ficou definido que o uso dos recursos extras que estavam previstos para esse ano, seriam usados dessa forma, com valores menores para o edital Cine Natal, mas em compensação abrindo para outras demandas que geralmente não são atendidas, como o apoio a cineclubes, pesquisas e principalmente capacitação”, explica o Josenilton.