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Economia não combina com ideologia

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TOMISLAV R. FEMENICK  – Mestre em Economia

Não é novidade nenhuma que, em certos aspectos, este nosso país é paradoxal. Vez por outra, os fatos aparentam falta de nexo ou de lógica e evidenciam contradições inexplicáveis. Vejamos um caso: quase todos os jornais, revistas e mesmo os noticiários de radio e televisão têm uma seção, uma página ou um caderno de economia e, paralelamente, nas universidades os cursos de Ciências Econômicas carecem de alunos ou simplesmente desaparecem, fecham suas portas. O resultado é o reinado do “senso comum”, desprovido de qualquer compromisso do saber formal acadêmico, o reinado das opiniões simplórias, eivadas de vieses ideológicos, sem compromisso com a realidade.

Essas palavras vêm a propósito dos comentários que fiz em meu artigo anterior sobre a política de câmbio, o dumping praticado por alguns países asiáticos, a perda de competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional, a concorrência desleal que as mercadorias importadas desses países fazem aqui com os produtos nacionais, o desemprego de trabalhadores brasileiros que desses fatos resulta e o aumento da taxação do IPI para as autopeças importadas. Apesar do artigo ter sido reproduzido em alguns sites e blogues, a minha caixa portal de e-mails sofreu uma verdadeira invasão de mensagens; muitos protestos e poucas concordâncias.

Vamos aos protestos. Eles vieram da esquerda e da direita. Resumidamente, os apoiadores do governo dizem que eu fiz uma leitura parcial das coisas (e poderia ser diferente em um simples artigo de jornal?), que a posição governamental tem que ser baseada nos compromissos internacionais, que “nunca na história deste país” estivemos tão bem etc. e tal. Por sua vez, os contrários ao governo bateram na tecla de que eu estava querendo aderir ao comando petista, que estava defendendo aumento de imposto, fazendo loas, enaltecendo o indefensável. Parece que ninguém leu o artigo na integra. Cada um só viu o que lhe interessava e excluiu o resto.  

    Só que os fatos da semana, mostraram que eu estava certo. Em entrevista ao jornal oficial “China Daily”, Wang Zhile, diretor do centro de pesquisas para corporações transnacionais, ligado ao Ministério do Comércio chinês, disse que “a elevação do IPI para importação de veículos deverá estimular os investimentos de montadoras chinesas no Brasil e criaram uma oportunidade madura para os atores domésticos produzirem carros lá” – quer dizer, aqui. Onde não houve proteção, a coisa é outra.

Aqui mesmo no Rio Grande do Norte a supervalorização do Real tem produzido efeitos catastróficos em alguns setores.  No acumulado do ano, isto é, de janeiro a agosto, as nossas exportações caíram 11,9%, se comparadas com o mesmo período do ano passado, o que representam uma queda de quase Us$ 7 milhões. O Sindicato dos Trabalhadores de Fiação e Tecelagem denunciou que Coteminas vai promover 400 demissões. Em março passado, a Guararapes, maior fábrica do ramo de confecções do Estado, teria demitido 200 funcionários, um procedimento considerado normal pela empresa, enquanto sua associada, as lojas Riachuelo vendem camisas, calças e outras peças fabricadas na China. Cada uma dessas peças representa emprego a menos aqui. No setor de turismo do Estado, o Real forte provoca vagas nos apartamentos dos hotéis e nas mesas dos restaurantes, buggys parados, menos vendas nas lojas de artesanatos e no comércio em geral, enquanto o dólar e o euro baratos provocam uma legião de turistas potiguares pelo mundo afora.

Mesmo quando há fatos positivos, sua análise mostra uma tendência preocupante. Se tomarmos como exemplo a geração de empregos no Rio Grande do Norte, veremos que até agosto passado foram realizadas 19.367 contratações contra 14.771 demissões, o que resultou na criação de 4.596 novos empregos. Todavia, se compararmos com o mesmo mês de 2010, contata-se uma retrassão de 32,27%. O quadro fica ainda mais preocupante se tomarmos como base o acumuldo no ano (de janeiro a agosto), que apresentou uma queda de 70% na geração de vagas de trabalho. 

No país inteiro o cenário começa a tomar contornos preocupantes. A perspectiva de queda do crescimento econômico, a ameaça de aceleração da inflação e do índice de endividamento das famílias tem provocado reflexos em lugares inesperados, como no campo do ensino superior. Hoje, dos 24 milhões de brasileiros entre 18 a 24 anos (30% da população e uma das metas do Plano Nacional de Educação) que deveriam estar nas universidades, só 13%, três milhões, estão cursando faculdades. A grande lacuna está no preenchimento de vagas das instituições privadas, onde o ensino é pago, mas que têm uma posição estratégica, para impedir que haja um apagão de mão de obra qualificada no país.

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