São Paulo – Os novos cálculos do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2000 e 2005, apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anteontem, não comoveram economistas tradicionais do País, como o ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore e Ilan Goldfajn, ex-diretor do BC. “É curioso, mas ficamos mais ricos porque descobrimos que o governo gasta mais”, destacou Pastore, referindo-se ao aumento da participação do governo nos novos cálculos.
Segundo Pastore, o IBGE fez o trabalho que tinha de fazer para melhorar a qualidade dos dados e se adequar ao mercado internacional. Mas, completa o economista, o que dá para perceber até o momento é que a diferença entre o PIB anterior e o de agora é o consumo do governo. “A fraqueza toda não estava na produção industrial, já que o IBGE tinha feito uma extensa revisão nessa área. O ponto fraco estava num setor chamado governo.” Pastore destaca que esse aumento do consumo do governo no cálculo do PIB trouxe algumas conseqüências, como a queda do investimento. “Descobrimos ontem que estamos poupando menos e investindo menos. E ainda assim estamos festejando porque ficamos mais ricos. Este é um País extremamente estranho. Festejamos coisas que não deveríamos festejar”, observou Pastore, referindo-se à reação do governo e de alguns economistas.
Para Ilan Goldfajn, sócio da Ciano Investimentos, nesse ritmo podemos ter uma grande decepção e virar um México. “Teremos investment grade (grau de investimento), inflação de 4% e juros menores. Mas o crescimento não sairá dos 4%”, lamenta. Segundo ele, o problema é que as reformas necessárias para um maior crescimento da economia não sairão do papel e os gastos do governo vão continuar elevados. “É o mesmo que ocorre no México. Eles não conseguem nem ajustar o mercado de trabalho deles.” Os dois economistas discutiram também os prós e contras do aumento das reservas do País, hoje em torno de US$ 105 bilhões. Para Goldfajn, o principal benefício é a redução da volatilidade, que beneficia decisões de investimento e o comércio exterior.