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Educadoras que fizeram época

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Se no final do século 19 e início do século 20 Isabel Gondim, Nísia Floresta e mais uma meia dúzia de nomes femininos marcaram a história da educação no Rio Grande do Norte, ensinando outras mulheres num tempo de forte preconceito, na atualidade um dos nomes de grande destaque na área é o da professora universitária Maria Arisnete Câmara de Morais. Sua contribuição tem sido, exatamente, o estudo e difusão do trabalho dessas mulheres pioneiras.

Professora vinculada ao Departamento de Educação e ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN, Arisnete coordena, há oito anos, a Base de Pesquisa Gênero e Práticas Culturais, de onde têm saído dezenas de trabalhos (livros, dissertações e teses) sobre a atuação das primeiras educadoras do Estado.

Pesquisadora do CNPq, com doutorado em Educação pela Unicamp – SP e Pós-Doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales – Paris, Maria Arisnete tem desempenhado um papel decisivo no trabalho de resgate dessa história, como pesquisadora e também como orientadora.

No livro “Leituras de Mulheres no Século XIX”, de 2002”, ela analisa o processo de formação da leitora brasileira, e na obra “Isabel Gondim uma Nobre Figura de Mulher (2003), que inicia a Coleção Educação e Educadores do RN, evidencia a atuação da educadora e escritora Isabel Gondim na construção da sociedade letrada norte-rio-grandense em fins do século 19 e início do século 20. Sobre o tema, ela ainda organizou os livros “A Mulher em Nove Versões”, de 2001, e “Carrossel de Leituras, Ensaios de Vida”, de 2003, reunindo artigos resultantes das pesquisas.

A Base de Pesquisa Gênero e Práticas Culturais foi criada em 1998, com o objetivo de formar pesquisadores na área de história da educação, enfocando, principalmente, o desempenho de professoras e escritoras que se destacam na sociedade a partir do século 19. Nesse período, já formou vários doutores e mestres, os quais, sob a orientação da coordenadora, produziram importantes trabalhos.

Entre eles, destacam-se as dissertações de mestrado “Jornal das Moças (1926-1932): educadoras em manchete, de 2002”, de autoria de Manoel Pereira da Rocha Neto; “Dolores Cavalcante e o jornalismo em Ceará-Mirim/RN (1903-1930), 2002, de Elisângela de Araújo Nogueira de Melo; “História da educação das mulheres em Natal (1889-1899), 2003, de autoria de Rossana Kess Brito de Souza Pinheiro; “Uma mulher entre livros Zila Mamede e o silencioso exercício de semear bibliotecas”, 2004, de Marize Castro; “Palmyra Wanderley e a educação da mulher no cenário Norte-Rio-Grandense (1914-1920)”, 2004, de Isabel Cristine Machado de Carvalho; “As mudanças na Educação do RN nos idos de 1950 e 1960: a prática de Lia Campos”, 2005, de Daniela Fonsêca Vieira; “A prática docente de Myriam Coeli na década de 1960”, 2005, de Amélia Cristina Reis e Silva. Teses de doutorado, são seis: “A dimensão das palavras: práticas de escrita de mulheres”, 2001, de Charlinton José dos Santos Machado; “Faces de mulher do Brasil da décadas de 1960 e 1970”, 2002, de Ilane Ferreira Cavalcante; “Uma mulher e um livro Teresa Margarida da Silva Orta e as aventuras de Diófanes”, 2004, de Maria da Conceição Flores; “A educação da mulher norte-rio-grandense segundo Júlia Medeiros (1920-1930)”, 2005, de Manoel Pereira da Rocha Neto; “Histórias do corpo negado: uma reflexão educacional sobre o gênero e violência feminina”, 2005, de Lígia Pereira dos Santos; “Sociedade, Mulher e Educação nos romances de Graciliano Ramos”, 2005, de Maria Lúcia da Silva Nunes.

Marcos na educação feminina

• As ordens religiosas, sobretudo a dos jesuítas, são as instituições que primeiro se dedicam ao ensino no Brasil. No Rio Grande do Norte, o processo educativo começa quando são instaladas as vilas. Cabe aos missionários, inclusive, a tarefa da instrução civil e religiosa. As meninas são excluídas do ensino.

• Em 1827 surge, no Brasil, a primeira lei sobre educação das mulheres, permitindo que freqüentem as escolas elementares. As instituições de ensino mais adiantado são proibidas a elas.

• Dois anos depois, em 1929 Natal recebe a primeira aula feminina, da professora Josefa Francisca Soares da Câmara.

• Somente 52 anos depois as mulheres conseguem autorização do governo federal para estudar em instituições de ensino superior, no entanto, as que seguem este caminho são criticadas pela sociedade.

Quatro nomes de destaque

Isabel Gondim
Poeta, educadora, dramaturga, ensaísta e autora de livros didáticos, Isabel Urbana Carneiro de Albuquerque Gondim — maior nome feminino na educação do RN — nasce em Papari, hoje Nísia Floresta, em 1839. Dotada de grande inteligência, com dons especiais para a literatura, preocupa-se especialmente com a formação das mulheres. Seus livros são muito adotados nas escolas públicas até o início do século 20. Em 1873, escreve “Reflexões às minhas alunas”, indicado nas escolas femininas. O livro, de cunho moralista, analisa os vários momentos da vida feminina: da menina em fase escolar, da moça em puberdade, da moça em sua juventude, da mulher casada e da mulher mãe. Publica ainda os livros de poemas “A lyra singela” (1933), “O Brasil” (1903) e “O preceptor” (1933); a obra ensaística “Sedição de 1817 na capitania” (1907); e, no teatro, “O sacrifício do amor” (1909). Morre em março de 1933.

Nísia Floresta
Escritora, poeta e educadora, Nísia Floresta Brasileira Augusta é considerada por muitos a mais notável mulher da história do RN. Ela nasce em 12 de outubro de 1810, em Papari. É batizada como Dionísia Gonçalves Pinto, mas fica conhecida pelo pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta. Em 1831, dá seus primeiros passos nas letras, publicando em um jornal pernambucano uma série de artigos sobre a condição feminina. No Rio Grande do Sul instala e dirige um colégio para meninas. No Rio de Janeiro, funda e dirige os colégios Brasil e Augusto, notáveis pelo alto nível de ensino. Nísia morre em Rouen, na França, aos 75 anos, a 24 de abril de 1885, de pneumonia. É lá que mora por mais tempo e onde publica diversos artigos.

Sinhazinha Wanderley
é o cognome da professora Maria Carolina Wanderley Caldas. Nascida em Assu, em 30 de janeiro de 1876, ela antecipa, nos primeiros anos do século 20, práticas pedagógicas modernas, levando para o cotidiano do ensino a música, o teatro e a poesia. Contribui para a formação de várias gerações. Antecedendo à institucionalização da educação moderna, mantém à própria custa, o Externato São José, cujo funcionamento se dá na sala de sua casa. Lá, ela atende crianças pobres de ambos os sexos, até a criação do Grupo Escolar Tenente Coronel José Correia, em 1911, no qual é efetivada em 1918, após ser admitida nos exames de capacitação, então com 40 anos. A educadora morre em Assu, em 1954, aos 78 anos.

Judith Bezerra de Melo
Nasce em Natal no ano de 1893. Até aposentar-se, em 1931, por motivo da diabetes, presta importante serviço à sociedade letrada natalense. Judith tem primorosa educação na casa do padre José de Calazans Pinheiro. Ela aprende música, francês, piano e bandolim. Torna-se professora diplomada em 1910, pela Escola Normal de Natal. Junto com o marido, Severino Bezerra de Melo — professor por muitos anos dos cursos ginasial, colegial e médio — passa a residir em São José do Mipibu, onde dirigem o Grupo Escolar Barão do Mipibu. O casal fica lá até 1922, quando da aprovação, em concurso, de Judith para o Grupo Escolar Frei Miguelinho, criado em 21 de abril de 1913 (hoje Padre Miguelinho), na rua Fonseca e Silva, s/n, Alecrim. Morre aos 91 anos, ainda lúcida.

Educação feminina no RN em estudo

Nísia Floresta – Vida e Obra. Livro de 1995.

A Mulher em Nove Versões Livro de
2001

Leituras de Mulheres no Século XIX. Livro de 2002.

Isabel Gondim uma Nobre Figura de Mulher (2003). Livro.

Jornal das Moças (1926-1932): educadoras em manchete. Dissertação de mestrado de 2002.

História da educação das mulheres em Natal (1889-1899). Dissertação de mestrado de 2003.

Palmyra Wanderley e a educação da mulher no cenário Norte-rio-grandense (1914-1920). Dissertação de mestrado de 2004.

As mudanças na Educação do RN nos idos de 1950 e 1960: a prática de Lia Campos. Dissertação de mestrado de 2005.

A prática docente de Myriam Coeli na década de 1960. Dissertação de mestrado de 2005.

A Educação da mulher norte-rio-grandense segundo Júlia Medeiros (1920-1930). Tese de doutorado de 2005.

Os trabalhos podem ser consultados na Base de Pesquisa Gênero e Práticas Culturais: abordagens históricas, educativas e literárias, da UFRN. Coordenadora: Maria Arisnete Câmara de Morais. E-mail: [email protected]. Tel.: 3642 1373.

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