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Eleitor está mais atento, crítico e observador

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Anna Ruth Dantas – Repórter

A campanha eleitoral de 2014 está começando agora e a partir das alianças e estratégias feitas em São Paulo. A análise, em tom de sentença, vem do jornalista e articulista político Gaudêncio Torquato. Ele observa que o tom das eleições nacionais, que ocorrerão daqui a dois anos, está sendo impresso a partir de agora. E, neste cenário, se destaca a participação do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, o partido que mais cresceu proporcionalmente no Brasil.
Gaudêncio Torquato: Cada vez mais o eleitor decide de acordo com a micro política, que é a política das pequenas coisas. É a política de resposta às reivindicações de eleitores nas regiões, nos bairros
Observando o resultado que já saiu das urnas em 2012, Torquato destaca que o eleitor decidiu a partir das questões locais. “Cada vez mais o eleitor decide de acordo com a micro política, que é a política das pequenas coisas. É a política de resposta às reivindicações de eleitores nas regiões, nos bairros”, afirma, ponderando que os valores gerais, como moral, ética, também são impressos a partir da vontade do eleitor para que o Brasil “caminhe direito”.

Na avaliação de Gaudência Torquato o pleito do Rio Grande do Norte traz duas peculiaridades em relação ao contexto dos resultados nacionais. O DEM, que reduziu o número de prefeitos em todo país, foi a segunda legenda em maior número de prefeitos potiguares.

Já o PT, que cresceu em todo país, inclusive nas pequenas e médias cidades, fez apenas seis gestores no pleito de 2012 no Rio Grande do Norte. “Veja bem, isso ocorre por conta da tradição política do Estado que tem uma grande estrutura partidária tradicional, dois líderes de famílias fortes representando a política do Estado, os Alves e Maia. Diria que está muito difícil quebrar a polarização”, analisa Guadêncio Torquato.

Para o DEM, o prognóstico do articulista político é um pouco mais tenebroso. Para ele, só haverá duas alternativas ao partido nacionalmente se unir a outra legenda ou se reservar ao papel de “nanico”. “Ao DEM não resta, futuramente, outro caminho que não seja procurar parcerias para se fortalecer. Há até quem trabalhe com a hipótese de uma fusão do DEM com o PMDB mais adiante”, ressalta. Ele chamou atenção para a liderança do senador José Agripino Maia e creditou a ela o desempenho do partido nas eleições municipais potiguares. “É preciso dizer que os líderes regionais ainda têm bastante força e conseguem dar ao partido uma certa vitamina”, completa

Sobre a grande renovação na Câmara Municipal de Natal, o jornalista faz uma análise em tom de alerta: “é preciso que as pessoas trabalhem bem os seus mandatos porque podem ser que caiam no vôo da galinha. Sabe como é o vôo ga linha?: Ela voa e cai, voa e cai”.

Confira a entrevista completa concedida pelo articulista político Gaudêncio Torquato:

O que o eleitor quis dizer com as urnas?

Primeiro quero constatar que esta campanha foi a mais racional campanha política  da contemporaneidade. Racionalidade por quê? Porque nós vimos um eleitor mais atento, mais crítico, mais observador. Esses fatores podem ser observados até na mudança de voto que o eleitor procurou dar no último momento, deixando a decisão para os momentos finais. Em São Paulo o que nós vimos foi uma abstenção muito alta chegando quase a 18%; isso é significante porque o eleitor também, de certa forma, faz uma crítica a velha política, a velhos costumes e afasta-se da esfera política. O eleitor desta feita ele se mostrou mais crítico, não se envolvendo, não vimos aquele envolvimento tradicional, a militância nas ruas, as bandeiras, gritando refrões, slogans. Vimos na capital um eleitor mais contrito. Evidentemente a emoção faz parte da alma nacional, estando presente no eleitor das pequenas cidades. Mas nas médias e grandes cidades vimos um eleitor mais contrito o que mostra certa reflexão. E qual o recado que ele quis dar com isso? Primeiro ele quer distinguir perfis que se comprometam efetivamente com suas demandas, com suas necessidades. Tendo sempre a dizer que cada vez mais o eleitor decide de acordo com a micro política, que é a política das pequenas coisas. É a política de resposta as reivindicações de eleitores nas regiões, nos bairros. Os grandes assuntos interessam, valores gerais? Claro, sem dúvida, que há um certo respeito, uma certa vontade de que o Brasil caminhe para mais moral, ética. Mas na área da escolha eleitoral os critérios são muito mais voltados para a micro política.

No caso específico do Rio Grande do Norte, o PMDB foi o partido que fez o maior número de prefeitos, em seguida vem o Democratas.

Na verdade, o DEM foi o partido que mais perdeu no país nessa última eleição. Na minha contabilidade aqui o partido (DEM) fez um número pequeno de prefeituras. Tenho aqui os números e lhe informo: o DEM fez 276 prefeitos. O PMDB fez 1.019, o PSDB 689, o PT 628, o PSD 493. Veja que o PSD fez tirando do DEM. O PDT 308, o PTB 296 prefeitos.

Nesse caso o Rio Grande do Norte foge a regra porque foi o segundo em número de prefeitos.

Evidentemente isso se deve a uma liderança forte que é a do José Agripino. É preciso dizer que os líderes regionais ainda têm bastante força e conseguem dar ao partido uma certa vitamina. No caso do Rio Grande do Norte é uma liderança forte, um ex-governador, senador, importante líder nacional. Evidentemente, no Rio Grande do Norte o partido tem bastante oxigênio. Agora o PMDB no geral perde um pouco, mas continua a ser o maior partido, com a maior capilaridade na medida que fez o maior número de prefeitos. E aí no Rio Grande do Norte você tem a demonstração da fortaleza do partido no Estado. Realmente, é (o Rio Grande do Norte) o Estado onde o partido se apresenta com muita fortaleza, densidade, presença nos municípios.

Quando o senhor se referiu ao DEM citou o senador José Agripino Maia como um grande líder. Mas até que ponto o fato do DEM ter a governadora do Estado (Rosalba Ciarlini) influencia no desempenho dos candidatos a prefeito da legenda que foram bem sucedidos?

No caso do Rio Grande do Norte especificamente vejo muito mais presença, com muito mais força o argumento de que sustentação do partido no Estado se deve mais ao senador do que a governadora. É o que sinto a distância. Pelo peso, pela tradição, pela imagem do senador junto ao partido. Agora eu vejo uma certo pragmatismo; ao DEM não resta, futuramente, outro caminho que não seja procurar parcerias para se fortalecer. Há até quem trabalhe com a hipótese de uma fusão do DEM com o PMDB mais adiante. Não está descartado. Tenho acompanhado bastante as articulações nesse sentido. Tenho sabido disso, claro que as conversas vão surgir depois do segundo turno, a partir de novembro ou dezembro quando os partidos começarem a analisar de maneira mais completa as planilhas eleitorais, vão trabalhar no sentido de futuro. Porque o partido pequeno, nanico, não é nada. E eu acredito que o DEM tem uma grande vocação de poder. Sempre foi um partido muito governista, muito voltado para o poder. Não vejo absolutamente o DEM como um partido nanico. Acho que a tendência dele é procurar uma parceria que possa dar ao partido mais vigor, mais musculatura.

O senhor acredita que a governadora pelo fato de fazer uma administração desaprovada, segundo mostram as pesquisas, possa comprometer ainda mais o DEM pelo fato de ser ela a única governadora do partido no país?

É uma hipótese bastante provável porque ela demonstrando fragilidade, demonstrando desaprovação por parte da opinião pública, na comunidade potiguar, isso carrega, leva, induz o eleitorado a, de certa forma, desprestigiar o partido que é dela. Essa é uma inferência baseada na lógica. Agora vejo que tem na política, o que está sustentando com muita firmeza a posição do partido é o senador José Agripino Maia. Ele é um político respeitado. A não ser que a governadora resgate o seu poder, sua imagem, sua força, a sua liderança, essa hipótese é também bastante provável na medida que ela comece a ter uma ação forte, os programa mais fortes e passe a ter a confiança do eleitorado.

No caso do PSD, que é presido no Rio Grande do Norte pelo vice-governador Robinson Faria, ele foi o terceiro partido em número de prefeitos. A legenda já nasce forte, passando pela primeira eleição?

Nasce grande sim. Nasce como a terceira bancada. A nível nacional é a quarta bancada, sai só atrás do PMDB, PSDB e PT. Tem 493 prefeitos. Certamente, será um parceiro importantíssimo no Brasil e no caso do Rio Grande do Norte na definição dos rumos de amanhã. Porque evidente que é um partido com quase 500 prefeituras, imagine 500 prefeituras no Brasil é uma meta ambiciosa. O prefeito Kassab havia me confessado que a meta era 500 prefeituras e ele conseguiu. Diria que o Gilberto Kassab é um dos mais hábeis articuladores políticos do Brasil e tendo a acreditar que ele irá fazer parte da base governista nos próximos tempos e com isso o partido já nasce grande tanto a nível nacional quanto a nível estadual.

Observando a Cãmara Municipal de Natal, que passa por um amplo processo de renovação, tem a nova vereeadora Amanda Gurgel, com mais de 32 mil votos, que levou dois vereadores do PSOL ao Legislativo. Poderíamos considerar esse fato o chamado “voto de protesto”?

É um voto de reconhecimento a uma professora que conseguiu ter visibilidade nacional  por ocasião daquela performance dela, que ainda hoje está na lembrança do eleitor. Como ela ganhou muita visibilidade, tornou-se uma celebridade. Há uma tendência do eleitor em escolher certos perfis que se apresentam de maneira mais espetacularizada, que tenha um pouco essa aura da heroína, do heróia. Ela se tornou uma pessoa admirada pela coragem dela, a denúncia, pela palavra. Eu me lembro que em São Paulo foi eleito vereador o pai do menino que foi assassinado, o Ottar, cuja mãe é deputada federal, eleita na última legislatura. O pai agora é vereador por conta da visibilidade alcançada com um trágico acidente que vitimou o seu filho, o Ottar. Então as celebridades, as pessoas que participam de eventos importantes na vida pública e que, de certa forma, ganham visibilidade tendem a ser votadas. Agora é preciso que as pessoas trabalhem bem os seus mandatos porque podem ser que caiam no vôo da galinha. Sabe como é o vôo galinha?: Ela voa e cai, voa e cai. Russomano em São Paulo foi o vôo da galinha. Claro que era uma galinha mais gordinha, mas caiu. Então, é preciso que as pessoas trabalhem porque tem vereadores de um mandato só. Pode ser que ela tenha encontrado sua vocação pública, mas precisa trabalhar todo tempo. O mandato pode ser dado como passaporte de reconhecimento, uma pessoa, uma história, mas pode ser retirado mais adiante.

O fato da governadora ter ganho no principal colégio eleitoral dela, a cidade de Mossoró (com a candidata Cláudia Regina), embora não tenha feito campanha em Natal, tenha perdido em vários municípios do interior, ainda assim ela sai fortalecida das urnas?

Se ela faz a prefeita da primeira cidade depois da capital, e é a cidade dela, não pode ser desprezada. Ao contrário. Ela demonstrou que tem muita vitamina para consumir. Diria que Mossoró é uma cidade muito importante, cidade pólo, porta de uma reigão, eleitorado significativo, demonstra um certo oxigênio da governadora. É um trunfo que ela tem na mão. É como se ela dissesse: podem falar de mim, mas eu elegi em Mossoró. Palmas para ela (Rosalba).

O senhor ficou surpreso com o segundo turno em Natal ficou surpreso?

Não fiquei surpreso. Fiquei um pouco surpreso com a ascensão do Mineiro que chegou a quase 24%. Extraordinária a votação. Diria que melhor performance do PT em Natal. Trata-se de um fenômeno interessante. A ascensão de Mineiro é responsável por esse empurrão dado ao segundo turno. No segundo turno é interessante observar o PT.

Falando em PT, o partido no país cresce, mas no Rio Grande do Norte fez só seis prefeitos?

Veja bem, isso ocorre por conta da tradição política do Estado que tem uma grande estrutura partidária tradicional, dois líderes de famílias fortes representando a política do Estado, os Alves e Maia. Diria que está muito difícil quebrar a polarização. Até em certo momento há inclusive parceria (Maia e Alves), como está existindo agora. Mas o PT, ao contrário do que se imagina, está adensando, crescendo no interior do Brasil. Está deixando as grandes cidades e crescendo para as médias e pequenas cidades. O PT cresceu mais nos fundões do Brasil. O Rio Grande do Norte é exceção onde o PT não tem crescimento a altura do crescimento nacional.

2012 está desenhando 2014?

A campanha de 2014 começa agora, a partir de São Paulo. Todo cenário que está sendo montado para o segundo turno visa, abre o painel de 2014, abre o palanque de 2014. Tudo que a acontecer agora terá grande repercussão para 2014. Veja o caso do governador Eduardo Campos se movimentando, indo para Belo Horizonte, Fortaleza, correndo para tentar dar ao PSB grande musculatura. O PSB foi o partido que mais ganhou proporcionalmente nas últimas eleições, vemos aí interesse grande em que ele apareça de maneira mais forte no palco de 2014. O cenário é de 2014.

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