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Eles, os algoritmos

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Vicente Serejo

Se eles fossem só uns chatos, seriam suportáveis. Ou se não abusassem da liberdade que não lhes foi dada, seria compreensível. Não. São atrevidos e irônicos. Agora mesmo, aproveitaram-se de algumas compras que fiz nas livrarias do Rio e São Paulo, e passaram a mandar, todos os dias, o noticiário do campeonato de halterofilismo e de tênis de mesa. Como é que um homem sedentário, gordo, setenta anos e hipertenso, seria halterofilista, num heroico e inútil levantamento de pesos? 
Eles, os algoritmos, sabem de tudo. Já sabem que sou casado com Rejane e quando ela sai zapeando, na mesma hora começam a chegar ofertas. Outro dia, veio de uma indústria de São Paulo um longo texto mostrando as vantagens de uma lixeira automática. Depois, foi a vez da inteligência de uma cafeteira. Confesso que tenho preferido as notícias inesperadas. Não as que divertem com o riso, mas as que espantam, de tão estranhas, ora, se grande e estranho é esse mundo de meu Deus.  
Os deputados e senadores querem distribuir milhões e milhões do erário público, mas de um jeito secreto, como se fosse justificável um poder abusar do próprio poder e atribuir a si mesmo um turbilhão de dinheiro. O novo ministro, o pastor André Mendonça, festejou a chegada triunfante ao Supremo sob o guarda-chuva de uma frase ambígua: a de que é ‘terrivelmente evangélico’. Desde que, como juiz da Corte Suprema, o advérbio de modo não resvale para o ‘terrivelmente submisso’.  
Tem mais. O general Augusto Heleno, do alto de suas também augustas dragonas, liberou o avanço do garimpo e, claro, não faria sem o consentimento do senhor presidente. A primeira-dama, dona Michele Bolsonaro, acaba de iniciar sua carreira de show-woman como bispa evangélica, mas não se sabe como fará com os pecados do marido. Deu na capa da Ilustrada, da Folha, que o tipo ideal, a partir de agora, é o homem ‘Desconstruidão’, aquele livre da velha ‘masculinidade tóxica’.
Ora, tem mais. O novo nicho promissor, no mercado erótico, é o sex shop. Até ai, e depois de tão longa pandemia, seria natural. Só que são sex shops só para os evangélicos. O que prova que eles também são sonsos e mostram que, nem em nome de Deus, se é de ferro. Hoje, o principal sex shop vende todos aqueles brinquedos, alguns caros e sofisticados, mas a dona não quer que chamem de sex shop. Na entrevista, à Folha de S. Paulo, ela propõe ‘Consensual’. Ora, só Deus é fiel e casto. 
Não pense o leitor que basta ouvir e entender estrelas, como queria o poeta Olavo Bilac. Astrônomos norte-americanos levaram cinquenta anos desconfiados de que há no universo ‘estrelas impossíveis’. E há.  Elas nascem, vivem, envelhecem e morrem, como nós, os humanos, com muito mais longevidade, claro. Envelhecidas, ficam anãs, vítimas das grandes estrelas que devoram as pequenas. Nesse mundo, Senhor Redator, e pelo visto, a ambição começa no céu. Parece mentira.  
ELEIÇÃO – A fervura ainda é baixa, mas já borbulham as especulações em torno da eleição do Parlamentar do Ano, com dois nomes disputando e bem na surdida: Tomba Farias e Albert Dickson. 
IMPASSE – Contra o deputado Albert Dickson pesa uma grave restrição, ele que é médico, segundo se ouve nos corredores: a defesa do tratamento precoce do Coronavírus condenada pelos cientistas.
RUIM – Para um velho rastejador de vestígios da Assembleia, como considerar Parlamentar do Ano aquele que foi contra uma posição nacional e internacionalmente contestada? Compromete o poder?
HUMOR – Para um gaiato que ouvia a conversa num café de Petrópolis, seria muito mais correto, em nome da pandemia, não ter Parlamentar do Ano este ano. “É só alegar: o Covid contaminou”. 
AVISO – Tem quem ache tão frágeis e politiqueiras as suspeições levantadas pelo deputado Kelps Lima que se o governo tiver um bom contendor desmonta o circo e arreia no chão toda a empanada. 
ALIÁS – O deputado, que é advogado, precisa provar que os governadores receberam propinas da compra dos respiradores. Ai, sim, terá em mãos algo contundente para pautar o gran finale da CPI. 
ARTE – Acertou em cheio a Cosern quando patrocinou a exposição itinerante com os painéis luminosos, em cubos de nove metros, com obras de trinta artistas levados a Mossoró, Caicó e Natal.  
AVISO – De JLM, via e-mail, sobre a tristeza das noites, na crônica de ontem, sobre os bem-te-vis que foram embora: “Não esqueça que a noite também tem os seus grandes sortilégios”. Esse JLM!…
LIVRE – Qual seria, nos Estados Unidos, o valor da indenização de Henrique Eduardo Alves, com mais de quarenta anos de mandato federal, ex- ministro e ex-presidente da Câmara, pelos onze meses de prisão arbitrária e injusta? Os que acusaram e prenderam saberiam calcular quanto seria o valor?
MAIS – Henrique, inicialmente, foi absolvido da acusação mais grave, de corrupção, e, agora, de lavagem de dinheiro. Livre das acusações, Henrique será candidato, sim, a deputado federal. Seus acusadores certamente não o indenizarão, mas o povo do Rio Grande do Norte irá fazê-lo em 2022. 
GLÓRIA – Uma sertaneja de Cerro Corá, educada pelos avós, e de nome pouco comum – Clija Chait – vive em Los Angeles, e é hoje um dos grandes nomes da alta gastronomia, sócia de vários restaurantes. Acaba de abrir o restaurante-café Fanny’s, no Museu do Oscar. É, o sertão chegou lá. 
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