A primeira oportunidade da carreira de Elino Julião foi dada no início da década de 50 pelo radialista Genar Wanderley, que comandava o programa de auditório Domingo Alegre na rádio Poti. Na época, morava no bairro das Quintas com a família, onde ficou por 18 anos. Após o alistamento militar, voltou à rádio e conheceu o futuro parceiro Jackson do Pandeiro, que o convidou para integrar a banda dele no Rio de Janeiro. Mas acabou conhecendo o Brasil inteiro.
Desse tempo, dizia que cantava mais que Vicente Celestino, apesar da dificuldade em gravar. O trabalho autoral de Elino começou em 1961, na casa de Jackson, quando gravou o primeiro disco pela Chanticlê.
As decepções vieram quando Teixeirinha, que lançara o trabalho ao mesmo tempo que ele, fez sucesso primeiro. Mas Jackson o demoveu da idéia de abandonar a carreira. A mudança de gravadora surtiu efeito. Pela Philips/Poligran gravou os primeiros sucessos, como Puxa-fogo e Xodó do Motorista, que logo viraram hits. Em seguida, foi para a CBS, hoje Sony Music, onde ficou 23 anos.
Ainda no Rio, foi contratado da extinta Rádio Tupi e da Rádio Nacional. São Paulo virou casa por seis anos , quando conheceu Oswaldinho do Acordeon, Luiz Gonzaga e o irmão dele, Zé Gonzaga. O fim do casamento com a CBS, que chegou a promover uma caravana com os músicos pelo Brasil, acabou em 1986, para dar lugar a Michael Jackson e Júlio Iglesias..
Mesmo assim, à essa altura do campeonato, onde se acende uma fogueira Julião tem que estar presente. Do sertão ou nas vilas suburbanas existe um pedaço de Elino. A irreverência e o humor das letras, espécie de crônicas sociais, chegaram a lhe render a alcunha de machista, como quando gravou, já em Natal, o CD “A mulher é quem manda”. Numa das letras, Julião retratava a realidade das mulheres que gostam de apanhar dos maridos. Sobre os anos de carreira, desconversava, como lembra a viúva Veneranda. “Ele só dizia que tinha 50 anos de Rio de Janeiro”, contou.
Um fervoroso torcedor do América
Elino Julião colecionou paixões arrebatadoras na carreira. “Caba invocado” quando o assunto era o coração das donzelas que passaram feito cavalo celado em sua frente, o peito do forrozeiro também ardia por um outro encantamento.
De acordo com o sobrinho Francisco Nascimento, Julião balançava pelo América. O que pouca gente sabe é que dentro daquela máquina de produzir sucessos populares havia um torcedor vibrante daqueles que se descabelam quando o time vai mal e enchem o peito para contar vantagem com o maior rival. “Ele torcia mesmo. Quando ele estava em Natal a gente ia muito para o Machadão ver os jogos do América. Meu tio torcia muito, adorava futebol”, conta.
Francisco lembra de uma história passada em 1997, quando o Mecão figurava entre os principais clubes do país, na série A do campeonato brasileiro. “Não lembro agora qual foi o jogo, mas cheguei na casa dele e foi logo dizendo: `Meu sobrinho, vamos ao estádio? ´ Sim senhor, respondi. Lembro que ainda falei que a vitória daquele dia seria dedicada a ele, que riu antes da gente ir. Foi bom porque conseguimos ganhar o jogo. Ele teve até um desentendimento com um pessoal na emoção da vitória, mas conseguimos contornar a situação. Elino era assim, quando o América entrava em campo era daquele tipo de torcedor que vibrava muito”, disse.
Durante o sepultamento, o sobrinho sentiu a falta da bandeira do clube do coração no caixão. “Acho que ele deve estar reclamando em algum lugar do céu”, afirmou.