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Em memória do planeta Alecrim

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Yuno Silva – repórter

O ‘planeta’ chamado Alecrim, importante entreposto comercial que acumula intensa movimentação desde o início do século 20, ganha as telas através do documentário “Cais do Sertão”. A sessão de lançamento está marcada para hoje, logo mais às 18h30, no Mercado da Avenida 6 esquina com a Avenida 4. Gratuita e aberta ao público, a exibição servirá para moradores e frequentadores do Alecrim refletirem sobre as histórias, as transformações ao longo do tempo, a situação em que se encontra e as possíveis soluções para o caos urbano que aflige o centenário bairro.
O antigo prédio, que até hoje abriga a Associação dos Escoteiros e a Escola Frei Miguelinho, foi reformado e perdeu seus traços originais. E o Alecrim atual, no seu burburinho cotidiano.
Produzido pelo documentarista Paulo Laguardia, “Cais do Sertão” levou três anos para ficar pronto – desde a pesquisa até a edição das imagens – e um de seus principais méritos é recontar uma história nem sempre lembrada e, na maioria dos casos, desconhecida para muitos natalenses. Outro fator positivo, que confere maior relevância e contundência ao documentário, é o viés crítico da abordagem e o esforço para não cair na armadilha da cômoda posição de ser meramente contemplativa. “Foi um processo natural, as pessoas falam por si e dão seu ponto de vista a respeito do bairro sem nenhuma interferência da equipe”, disse o diretor e roteirista.

Vale lembrar que o título do documentário faz alusão ao apelido recebido pelo Alecrim nas primeiras décadas do século 20, justamente por ser um importante entreposto de produtos que chegavam do interior do Rio Grande do Norte pelo Potengi. Inclusive, um dos motivos da capital potiguar não ter sido transferida para Macaíba naquela época deve-se muito a vocação comercial do bairro, que completou 100 anos oficialmente em outubro de 2011.

O interesse de Paulo Laguardia pelo bairro não é de agora: ele morou no Alecrim, trabalhou mais de uma década por lá e a passagem do centenário do bairro era a deixa que faltava ao documentarista. “Além do comércio popular e da grande população residente, o Alecrim tinha um vida cultural pujante. Não à toa, era o principal palco para comícios, tinha seis cinemas, dois teatros e duas ou três casas de shows. Sem falar do Carnaval”.

CRÍTICAS AOS POLÍTICOS

Laguardia lembra que registrou apenas duas unanimidades durante as filmagens de “Cais do Sertão”: a crítica aos políticos e o amor das pessoas entrevistadas pelo bairro. “Não tenho a menor intenção de politizar o documentário, tanto que todos os nomes citados foram cuidadosamente evitados, mas o conteúdo foi preservado. Há depoimentos fortes como o que afirma, com todas as letras, que os políticos se ‘acorvadaram’ na hora de executar projetos de reurbanização do bairro pelo simples receio de ‘perder votos’. A opinião geral é a de que o Alecrim não aceita remendos”.

Como forma de reforçar argumentos, o documentário também apresenta projetos aprovados e não executados, caso da reurbanização de um trecho da Avenida 9, entre as Avenidas 1 e 2. “Cerca de R$ 500 mil, que deveriam ter sido aplicados na organização desse pequeno e complicado trecho, foram devolvidos ao Ministério das Cidades por falta de execução”, lamentou Laguardia, que pretende distribuir uma cópia do filme para cada candidato à Prefeito de Natal nas próximas eleições como forma de mostrar os anseios da população que convive com os problemas do Alecrim.

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A PESQUISA…

Laguardia encontrou bastante informação nas chamadas fontes oficiais (arquivos públicos, acervo de jornais e Instituto Histórico e Geográfico), mas teve certa dificuldade em conseguir imagens históricas – boa parte do acervo de imagens apresentado em “Cais do Sertão” foi amealhado de particulares.

Sobre os destaques do documentário, ele ressalta, em primeiro lugar, a importância econômica. A questão cultural (da efervescência ao declínio), os conflitos e as figuras emblemáticas e até folclóricas também estão entre os assuntos abordados. “São detalhes pitorescos e curiosidades contadas pelos moradores, tipos e personagens que fazem ou fizeram parte do cotidiano, como os chamados ‘cabeceiros’, que carregavam produtos comprados na feira na cabeça, em uma época quando o transporte era escasso. Valorizamos todos esses personagens”, disse.

O documentário contou com patrocínio do Grupo Vila, através da Lei municipal Djama Maranhão de Incentivo à Cultura, e apoio da Fundação Capitania das Artes, que cedeu equipamento para edição das imagens. Responsável pelas pesquisas, roteiro e direção, Paulo Laguardia foi assessorado por equipe formada por Marcelo Barreto (fotografia), Rogério Vital (cinegrafista), Bruno Sarmento (edição), Adriana Amorim (produção) e Danielle Brito (direção de produção).

DOCUMENTÁRIO É COSTURADO POR HISTÓRIAS, POESIAS E CANÇÕES

A dinâmica do documentário é entrecortada por notas históricas, citações, poemas e músicas que falam sobre o Alecrim. A cantora Nara Costa declama poesia de François Silvestre sobre o bairro, o pesquisador e folclorista Gutenberg Costa fala sobre a visão preconceituosa para com o Alecrim e afirma que boa parte dos problemas percebidos no Alecrim estão relacionados “à falta de resistência da população” quanto à cobrança por soluções; e na “falta de atenção dos gestores”. Os historiadores Luciano Capistrano e Job Neto; a arquiteta urbanista Maria Eleonora Macedo; o professor universitário João da Mata, cujo pai era feirante e trabalhava na famosa feira do bairro; e o músico Reinaldo Azevedo, guitarrista da Banda Anos 60, que fala sobre a vida cultural do bairro, também estão entre os depoentes do filme.

#saibamais#A lista ainda inclui participações do cantor e compositor Babal, que lembra da infância e dos muitos lugares que inspiraram e inspiram sua música; de Normando Bezerra, que exalta a trajetória do Alecrim Futebol Clube; dos empresários Magno e Eduardo Vila (do Grupo Vila) e Derneval Sá, da Casa Sarmento; e Anchieta, presidente de uma das duas associações de camelôs que atuam por lá. “A partir das informações e dos depoimentos, o público poderá tirar suas próprias conclusões e apontar soluções”.

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