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Empresários não acreditam na alta estação

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AEROPORTO - A porta de entrada dos turistas que desembarcam em Natal apresenta outro problema com o atraso nos vôos

Nuvens cinzentas que surgem no céu da economia podem atrapalhar o verão dos empresários de turismo no Rio Grande do Norte. A perspectiva do setor com a alta estação está mais para um dia nublado e muitos consideram que se o movimento se igualar ao do ano passado, já será um grande resultado. Isso porque problemas como a operação-padrão dos controladores de vôo, a valorização do real e a má repercussão do sexo-turismo, em reportagens na Europa, aumentam a probabilidade de “chuvas” no decorrer do período.

“Com os últimos acontecimentos, é complicado pensarmos em um crescimento. Se a alta estação representar um desempenho muito bom para nossa economia, sinceramente será novidade para mim”, avalia o presidente do Sindicado dos Corretores de Imóveis (Sindimóveis), Caio Fernandes. Os “últimos acontecimentos” ao qual se refere incluem não só as matérias retratando o “sexoturismo” e os problemas nos aeroportos, mas também um fato que atinge diretamente o trabalho de quem vende ou aluga imóveis para os visitantes.

“Não quero entrar no mérito de quem tem razão, mas o fato é que o investidor fica com um pé atrás quando vê um impasse como o das construções em Ponta Negra. Afinal, ele vai ter de ser advinho para saber se vale a pena comprar este ou aquele imóvel?”, questiona, ressaltando que os estrangeiros, principalmente, costumam ser exigentes com relação à documentação dos empreendimentos nos quais pretendem aplicar dinheiro, ou adquirir como moradia de férias. Somado a isso, a divulgação de Natal como um “europrostíbulo”, pode afastar muitos visitantes de fora do país. “Os estrangeiros levam muito em consideração essa má imagem, na hora de optar pelo seu local de lazer. E as notícias sobre Natal foram bastante negativas para a cidade”, lamenta o empresário.

Para o turista nacional, pesa a preocupação com os atrasos e cancelamentos de vôos. “Duvido muito que a freqüência continue a crescer. São muitas incertezas. Os turistas não sabem se terão de ficar um dia inteiro no aeroporto antes de chegar ao seu destino e eles não querem ter dor de cabeça nas férias”, destaca, sem no entanto culpar o poder público e a iniciativa privada local pelos problemas.

“Os empresários e as entidades que os representam estão trabalhando até em maior sintonia. Ainda assim pouco podem fazer pela mudança do quadro”, considera Caio Fernandes. Ainda assim, ele aponta um “oásis” em meio à turbulência: a praia de Pipa. “Muita gente que vem passar férias lá, ou mesmo fazer uma visita, nem mesmo passa por Natal. Ou segue direto, quando vem de estados próximos, ou desce no aeroporto Augusto Severo e já no desembarque fecha um pacote para ir àquela praia.”

Primeiros efeitos da retração já estão sendo sentidos

Embora Caio Fernandes afirme não ser possível, ainda, avaliar com segurança como será a alta estação, um ponto está claro, será menor que no último verão. “Em novembro do ano passado, Natal estava cheia de turistas. Normalmente, nessa época, poderíamos dizer que a alta estação já começou. Só que este ano nem mesmo as consultas têm sido feitas”, aponta o empresário. 

Por outro lado, os preços dos imóveis também não vêm aumentando. “Como há um compasso de espera, os valores ainda não mudaram. Afinal ainda estamos aguardando para ver qual será o impacto geral”, diz, resumindo sua opinião: “Vamos torcer que o céu melhore, mas hoje eu vejo algumas nuvenzinhas negras.”

Temporada não será das melhores

O presidente do Pólo Via Costeira, Mario Barreto, está pessimista com relação ao crescimento do turismo nos próximos meses. “Acho que o desempenho nessa alta estação deve ser uma surpresa, mas uma surpresa negativa”, analisa o empresário. Para esse pessimismo, somam-se fatores internos e externos, como a desvalorização do dólar e do euro em relação ao real, bem como a falta de divulgação do “destino Natal”.

“Outros estados também sofrem com a questão dos aeroportos, da valorização do real, mas pelo menos se prepararam melhor. A divulgação do nosso destino é, no mínimo, acanhada”, ressaltou. Ele acredita que no lugar dos 75% de ocupação alcançados pelos hotéis no verão passado, o próximo deve registrar algo abaixo dos 60%. “E quem perde não é só a rede hoteleira, pois toda uma cadeia depende da vinda desse turista. Para se ter uma idéia, de cada 100 dólares gastos, 15 ficam com os hotéis e 35 com o comércio”, revela. 

Esse prejuízo, porém, não é novidade. De acordo com o presidente do Pólo Via Costeira, o ultimo mês de agosto já representou uma redução de 40% no movimento de turistas internacionais, em relação ao mesmo mês de 2004. “Essa queda foi basicamente dos mercados da península Ibérica, Espanha e Portugal, onde tem havido repercussão negativa. Isso é muito temeroso”, aponta.

O presidente estadual da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Enrico Fermi, considera que se a ocupação chegar aos 75% do último verão, já será muito bom. “Vamos ter essa noção lá pelo final do próximo mês, pois nossa alta estação vai basicamente de 28 de dezembro a 28 de agosto, devido às aulas escolares”, explica. Ainda assim, ele diz ter uma expectativa positiva. “O problema nacional nos aeroportos já se resolveu. Agora o internacional é uma incognita”, admite.

O presidente regional da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), Nilo Machado, acredita que o mercado possa superar as dificuldades surgidas com a crise nos aeroportos e com a repercussão do turismo-sexual em Natal. Mesmo assim, a aposta é de uma redução de 15% a 20% no movimento, em relação ao último verão. “Há sempre uma esperança e com o tempo o impacto desses problemas vai se apagando. Porém, essa alta estação pode realmente trazer dificuldades”, reconhece.

Já a presidente da Associação dos Meios de Hospedagem e Turismo (AMHT), Rosângela Batista Silva, vem observando fatos que podem contrariar o clima de pessimismo. “Os vôos, principalmente os vindos da Escandinávia, tem trazido muitas famílias”, aponta. Isso significaria que, pelo menos nessa parte da Europa, as reportagens a respeito da cidade não tem reduzido o interesse do turista em conhecer o Rio Grande do Norte.

Apesar desse sinal positivo, ela admite que os problemas nos aeroportos tiveram influência na redução do volume de turistas nos últimos feriados.

Garcia vê movimento superior ao ano passado

Um dos mais otimistas com um bom desempenho do turismo no verão que se aproxima é o secretário estadual do setor, Renato Garcia. “Não será um estouro, mas acredito em um movimento superior ao do ano passado”, avalia. No seu entender, os problemas nos aeroportos jã estão completamente sanados e as matérias negativas com relação ao turismo sexual não abalaram a boa imagem que o “destino Natal” desfruta no exterior. 

“Até a semana passada, estavam previstos cerca de 40 vôos charters para Natal no mês de dezembro. Número aproximado ao do ano passado e que pode até aumentar em janeiro. Somados aos seis vôos semanais da TAP e um da BRA, serão 17 por semana, em média”, comemora Renato Garcia. O secretário também está confiante na superação do impacto das notícias negativas veiculadas no exterior. Ele diz vir mantendo contato com representantes do setor em Portugal, Espanha, Itália e nos países escandinavos e as respostas têm sido positivas.

“Um repórter norueguês que esteve aqui em 2004, voltou este ano e nos fez um relato das mudanças ocorridas em decorrência das medidas que tomamos. Ele afirmou que o problema da exploração infanto-juvenil realmente deixou de existir e até mesmo a prostituição adulta tem menor impacto”, afirmou Renato Garcia, dizendo ter convicção que os turistas saberão “filtrar” as notícias negativas, algumas das quais chegaram a tratar culpados, no caso exploradores de menores, como vítimas.

Outro dado positivo seria a confirmação, na prática, da promessa feita pelos diretores das empresas aéreas TAM e GOL, que vêm disponibilizando mais linhas para o Rio Grande do Norte – “O problema dos aeroportos seria mais grave se tivesse ocorrido em pleno mês de dezembro. Agora, a essa altura, ainda dá para quem desistiu de vir mudar de opinião e decidir por viajar”.

O secretário também considera que a preservação da paisagem do Morro do Careca, com a limitação dos empreendimentos próximos, pode até representar transtornos a curto prazo, mas irá garantir no futuro a manutenção do potencial turístico da cidade. “O destino Natal é uma marca muito forte. Todos esses problemas serão minimizados e vamos continuar em uma curva ascendente”, aposta Renato Garcia.

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