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Empresas reclamam de exigências

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CRÉDITO - Excesso de burocracia e garantias de exigência bancárias entravam crescimento das pequenas e médias empresas

Os bancos oficiais vão destinar R$ 930 milhões ao crédito empresarial este ano no Rio Grande do Norte. Mas o valor não desmancha as rugas que se formam entre as sobrancelhas dos empresários quando o assunto é pedir dinheiro emprestado. Embora as instituições financeiras afirmem que esse tipo de financiamento está cada vez mais acessível, o empresariado reclama da burocracia e das garantias em excesso. Porém, ambos as partes concordam em um ponto: é preciso desatar o nó do crédito para que as empresas potiguares, em sua maioria micro e pequenas, possam crescer.

Este ano, a Caixa Econômica Federal espera emprestar R$ 380 milhões em crédito empresarial, 35,7% a mais do que em 2006. E o gerente regional de Negócios do banco, Teófilo Calife, afirma: “Não existe burocracia” para pegar dinheiro na Caixa. No entanto, para o presidente da Federação do Comércio de Bens e Serviços do RN (Fecomercio RN), Marcantoni Gadelha, quando os bancos falam em “facilidade”, se referem à maior oferta de recursos. “Os bancos estão abarrotados de dinheiro. Diante dessa necessidade de vender o estoque da sua mercadoria, eles estão procurando criar alternativas menos burocráticas. Porém, neste momento, a facilidade ainda não é uma realidade”, avalia Gadelha, “Somos um país em que a poupança privada é muito baixa. Se não há crédito, então não se pode desenvolver as empresas, e, por conseguinte, o mercado e a economia”.

Porém, para os superintendentes do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste do Brasil, Rodrigo Nogueira e José Maria Vilar, respectivamente, o foco da diferença das impressões dos bancos e dos empresários está na comunicação. “O acesso ao crédito é simples sim. O que falta é mais comunicação, é estreitar e encurtar os caminhos entre as empresas, empresários e as instituições financeiras”, diz Nogueira.

Teófilo Calife admite que a liberação do dinheiro é facilitada para empresas que já são clientes da Caixa, mas diz que, para as novas, são requeridos apenas três documentos e as taxas começam em menos de 1% ao mês. “Há cinco anos, movimentávamos R$ 5 milhões por ano em crédito empresarial. Agora, nosso fluxo é de R$ 35 milhões ao mês e isso é crescimento para o estado”, diz Calife. Vilar assegura que as vantagens as taxas de juros estão cada vez mais atrativas. No BNB, para investimentos fixos, como compra de equipamentos e capital de giro, os juros anuais variam de 5% ao ano (micro produtor) a 11,5% ao ano (grandes empresas) e, dependendo do setor, e os empresários ainda podem contar com um bônus de adimplência, de 25% para os empreendimentos localizados no semi-árido, e de 15% para as demais áreas. Além disso, ele fala da tentativa do banco de se aproximar das empresas: foi criado o cargo gerente de negócios MPE em 46 agências do BNB no Nordeste.

Sebrae sugere crédito especial

O superintendente do Sebrae RN, Zeca Melo, acredita que ainda há um espaço a ser preenchido em relação ao crédito empresarial: dinheiro para que as micro e pequenas empresas (MPEs) saiam do vermelho. Devendo, as firmas não conseguem crédito, o que impede novos investimentos.

A linha de “saneamento financeiro”, tiraria as MPEs das garras das altas taxas de juros do cheque especial e dos cartões de crédito. “Como é complicado conseguir crédito a custo mais baixos, as micro e pequenas acabam recorrendo a estes meios, que têm taxas de juros extorsivas”.

Ele também defende a ampliação das modalidades de microcrédito, voltadas para quem ainda não se formalizou ou está no processo, e, portanto, não tem garantias reais ou recebíveis para oferecer.

Zeca Melo corrobora a posição da Fecomercio e da Fiern em relação ao excesso de garantias reais exigidas e à burocracia ainda impostos pelos bancos. Contudo, ele acredita que as condições dos empréstimos têm ficado mais confortáveis.

 Apesar de reclamar que as quedas da Selic (taxa básica do Brasil) são repassadas sutilmente pelos bancos e as altas são imediatamente sentidas pelos consumidores e empresas, Zeca Melo enxerga melhoras. Segundo ele, as taxas de juros, embora ainda sejam algumas das mais altas do mundo, têm diminuído. Para o superintendente, outros pontos positivos da situação atual são a maior quantidade de linhas para financiamento de capital de giro e o acesso do comércio aos recursos do Fundo Constitucional do Nordeste (FNE).

Ele espera que a situação seja mais confortável no próximo ano, quando os bancos estiverem adequados ao capítulo da Lei Geral das Micros e Pequenas Empresas – sancionada em dezembro do ano passado -, que obriga as instituições a publicar resultados e destinação de recursos a linhas específicas para MPEs. Além disso, a LGMPE a portabilidade das informações cadastrais da empresa em caso de mudança de banco. Porém, para o presidente da Fiern, Flávio Azevedo, o crédito é um ponto frágil na Lei Geral das MPEs. “A lei não mexe nas garantias, que é o principal problema”, critica. 

“Financiamentos têm muitas exigências”

TRIBUNA DO NORTE:  O senhor já declarou que o acesso ao crédito dos bancos é burocrático e requer garantias que as empresas, muitas vezes, não podem dar. No entanto, os bancos dizem que está cada vez mais fácil pegar dinheiro emprestado para investimento nas empresas. O que acontece, então?

Flávio Azevedo: Discordo da informação dos bancos. O que os bancos hoje dispõem é de linhas de crédito e de recursos fartos. Todavia, o acesso ao crédito, ou seja, a efetivação do empréstimo ao empresário continua difícil pelas garantias reais exigidas (hipotecas, recebíveis, etc.) e burocratizado.

O que o senhor acredita ser necessário para que o dinheiro dos bancos chegue mais facilmente às mãos dos empresários?

FA : Simplificação da burocracia existente, flexibilização das exigências cadastrais e das exigências das garantias, dando mais ênfase à análise da viabilidade econômica-financeira do empreendimento que o empresário pretende financiar.

Como essa dificuldade de acesso ao crédito afeta o crescimento da economia do estado?

FA : Para a realização de um empreendimento, o dinheiro é um insumo necessário como qualquer outro. Com sua carência, quase que generalizada no segmento das micro e pequenos empresas, a aumento de suas atividades (produção, oferta de empregos, etc.) torna-se quase impossível.

O senhor conhece alguma empresa – de qualquer porte – que esteja tendo ou  já tenha tido dificuldades para conseguir crédito devido à burocracia e às garantias “impossíveis”?

FA :Conheço várias que, quase diariamente, nos procuram na Fiern. Por questão de ética, não posso citá-las. Todavia, lhe sugiro procurar aleatoriamente no catálogo telefônico e com certeza você obterá depoimentos nesse sentido.

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