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Encantos da cidade

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Tádzio França
Repórter

Deve haver algo mais entre o sol e a praia quando se pensa em lazer numa cidade litorânea de apelo turístico. E há. História e vivências culturais típicas são opções que  estão despontando com mais evidência em Natal  graças ao projeto Territórios Criativos, que em parceria com o Sebrae e prefeitura municipal, gerou o  Natal Encantos Criativos, um roteiro que seleciona práticas criativas locais em oito pontos da cidade entre as Rocas e a Vila de Ponta Negra.

O visitante acompanha, in loco, o fazer cultural das comunidades, direto com os seus produtores. O chamado ‘turismo cultural de experiência’ transforma práticas locais em negócios sustentáveis, a partir da junção de talentos e valores. A inspiração veio da mesma experiência realizada em Recife, no bairro Bomba do Hemetério, um lugar humilde e estigmatizado pela violência, mas que através do Territórios Criativos pôde estruturar a apresentar suas qualidades. Agora é a vez de Natal.
Turistas aprendem a rendar nas tardes da Tapiocaria da Vó, em meio à “Zoada do Bilro” e as histórias narradas pelas experientes rendeiras da Vila de Ponta Negra
Turistas aprendem a rendar nas tardes da Tapiocaria da Vó, em meio à “Zoada do Bilro” e as histórias narradas pelas experientes rendeiras da Vila de Ponta Negra

Ponta Negra ficou com o maior número de produtos. A Vila Criativa oferece as vivências Bonequeiras da Vila, Cores da Vila, Jangada Show, No Atelier com Lídia Quaresma, Vila das Artes, e Zoada do Bilro. Já o bairro das Rocas ficou com as vivências que têm a música em comum, a cargo da Malandros Te Recebe, e o Axé das Rocas.

“O melhor é que a gente não inventou nada. Tudo já estava lá. O projeto apenas destacou, reuniu, e capacitou os produtores para atuar de uma forma mais turística e organizada”, afirma Maíza Pessoa, gerente da unidade de comércio e serviço do Sebrae.  A estruturação dos oito produtos natalenses foi realizada pelo Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano (IADH), que idealizou uma ambiência criativa e festiva para os  pontos escolhidos das Rocas e  Ponta Negra.

Durante o trabalho de um ano entre as instituições e os produtos, foram realizadas pesquisas, entrevistas, capacitações, desafios individuais, laboratórios criativos conjuntos, constituição de governanças locais, formação de núcleos de comunicação, oficinas e intervenções de arte urbana para repaginação de equipamentos estratégicos, além de simulações turísticas para teste dos produtos. As próprias comunidades identificaram as vivências, sendo selecionadas as de maior potencial turístico.

Vivências do tempo

As vivências são realizadas  apenas sob agendamento prévio. Quase todas estão associadas a algum tipo de tradição histórica. Uma das mais marcantes é a das Bonequeiras da Vila. Desde 2012, um grupo de mulheres engajadas politicamente em questões de raça e feminismo produzem as bonecas ‘abayomis’, ou seja, bonecas feitas de nós e trançados. A tradição surgiu durante as travessias dos navios negreiros, em que as mulheres africanas escravizadas rasgavam as vestes para fazer as bonecas e entreter seus filhos durante a viagem desumana.

Segundo Ledalícia Sodré, uma das bonequeiras, até então as bonecas só eram vistas em feiras itinerantes ou sob encomenda. “Agora com o projeto, poderemos ampliar nosso alcance”, afirma. Durante as vivências, as artesãs falam sobre a história das bonecas, seu significado, e ensinam a fazer. “A abayomi foi feita pra ser doada. Cada nó dela carrega uma intenção, um desejo de prosperidade, saúde e amor. É um amuleto. Além de ser um símbolo de resistência negra e feminina”, explica. As vivências são feitas no ateliê de Lídia Quaresma, e incluem quitutes e exposição das bonequinhas.

O som dos bilros contam histórias ancestrais. E é a trilha da vivência Zoada do Bilro, que é realizada na Tapiocaria da Vó, um espaço que desde o final dos anos 90 abriga oficinas de bilros conduzidas pelas artesãs originais dessa arte. Principalmente a rendeira Maria de Lurdes, 83 anos, a “vó”, uma das figuras mais atuantes do ramo em Ponta Negra. A vivência aproxima o visitante das rendeiras através de uma oficina demonstrativa das técnicas e elementos das rendas. Há ainda degustação da culinária local e exposição de produtos das famosas rendeiras locais.

A vivência Cores da Vila leva o visitante a passear pelas praças e ruas do bairro para conferir a arte urbana escrita nos muros da área, e é convidado para fazer sua própria pintura no muro. A atividade termina com visita ao Espaço Berimbau, onde estão os produtos da artista Nathy Passos, e degustam suas iguarias caseiras.

Já no Atelier de Lídia Quaresma a aquarelista fala de seu processo criativo e convida o visitante a pintar camisetas, personalizando uma peça para si mesmo. A vivência Vila das Artes é uma oficina sensorial de desenho e pintura conduzida pelo artista plástico Osvaldo Oliveira. Os visitantes criam suas telas no jardim da casa, que é transformado num aprazível atelier arborizado.

A Jangada Show é a vivência mais próxima de um programa turístico habitual. Existe há sete anos, e é o único barco a contornar o Morro do Careca. A proprietária Thays Beretta ressalta que providenciou alguns diferenciais para a vivência. “Criamos um passeio mais elaborado pra ocasião. Contamos a história da região, do Morro, dos pescadores e as lendas locais, e a relação com a Mata Atlântica”, explica. Há também bóias para os visitantes curtirem a Praia das Tartarugas, na rota do passeio. Golfinhos costumam aparecer durante o passeio.

Nas Rocas a vivência é musical. O barracão da Escola de Samba Malandros do Morro se abre para  o visitante embarcar na história da agremiação, conhecendo detalhes de seu cotidiano e participando das oficinas de passista. A folia continua na sede do grupo Axé Obá, que carrega a bandeira das influências afro em suas atividades. Da capoeira ao coco,  do maculelê ao samba de roda, passando pelo afoxé e samba reggae. O banquete de ritmos é servido como vivência festiva. “As sedes estavam depredadas e abandonas, e graças ao projeto foram restauradas pela própria comunidade, sob orientação dos artistas pernambucanos”, ressalta Maíza.

Turismo experimental

Firmar o potencial turístico da Natal Encantos Criativos é o próximo passo. O Sebrae está engajado na ‘promocomercialização’ do projeto, desde que o catálogo foi lançado em abril deste ano. A divulgação acontece em todos os eventos, feiras e congressos que envolvem turismo. Há um ambiente que estará na CasaCor RN até este domingo.

Na próxima semana o projeto vai receber o primeiro grupo de turistas que comprou todo o pacote, vindos de João Pessoa (PB). Até agora três agências que trabalham com um perfil alternativo de turismo se interessaram em promover os pacotes, como a Dandara Turismo. “Não é um turismo de massa. Ele tem um perfil específico, e deve ser trabalhado assim”, diz Maíza Pessoa. Ela ressalta que o projeto estimula a autogestão. Algumas pessoas das comunidades foram escolhidas para promover o projeto e estão recebendo consultoria. “O pessoal já está buscando novos parceiros, como a UnP. Todos estão animados, pois há um sentimento caseiro e pessoal”, conclui.

Saiba mais natalencantoscriativos.com.br

Com Cinthia Lopes, Editora

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