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Ensaio

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Dácio Galvão
Mestre em Literatura Comparada, doutor em Literatura e Memória Cultural/UFRN e secretário de Cultura de Natal
Desde o século XX é ponto pacífico se detectar na geografia do sul e sudeste, a maior produção crítica- criativa do país. Em Natal, na segunda década do mesmo século, um ano antes da Semana de Arte Moderna, houve Câmara Cascudo exercitando ensaios no livro autoral, Alma Patrícia, de 1921. Textos sobre Ferreira Itajubá, Auta de Souza, Abner de Brito (Cascudo dizia ser o Augusto dos Anjos “mais triste, mais negro”)… Essa publicação fez marco pioneiro no Rio Grande do Norte. Afora situações generalizantes registradas nas antologias e resenhas de revistas vamos ter uma lacuna do gênero. São anos sem publicação gerando espaço só preenchido tempos depois quando Moacy Cirne propõe certo aparelhamento crítico-teórico para a aldeia de Poti. 
Nascido no Sertão do Seridó, passando por Natal e ancorando no Rio de Janeiro, disparou -nos anos de 1960- um repertório municiado em Pierre Macherey (Para Uma Teoria Da Produção Literária) e Roland Barthes (Elementos de Semiologia). Também nos escritos advindos do gramsciano Galvano Della Volpe (Da Crítica do Gosto) e de Edoardo Sanguineti (Ideologia e Linguagem) integrante do italiano Grupo 63 de vanguarda artística. Na filosofia de Alan Badiou (Autonomia do processo estético) buscou sustentar uma radicalidade difusa do ponto de vista ideológico. Arsenal entrincheirado nas margens do não subjetivismo reinante na província potiguar. Era comum o “compadrismo e elogios mútuos”. Cirne detectava que até os idos de “1960 o romantismo, vivencial e existencial, impregnava a nossa vida literária”. Nesse sentido ressalte-se que não estava sinalizando para estudar a literatura local na perspectiva diacrônica buscando o sistema literário definido por Antonio Candido. Se nutria nas ciências das linguagens e declarava guerra contra as concessões gentis conservadoras.  Se voltava para a produção crítica no plano local sobretudo para uma poética inaugural da radicalidade oswaldiana de um José Bezerra Gomes. Da estrepolia visual de Jorge Fernandes. Do engajamento de Nei Leandro de Castro no poema-processo … Crivou a conceituação sincrônica sugerida pelo linguista Roman Jakobson. Seus postulados teóricos tinham duas direções básicas: a Ciência da História e a Semiologia. A teoria da história é acionada admitindo que “toda e qualquer linguagem só existe no interior das práticas sociais, práticas que se determinam através de conjunturas especificas”. O ensaísta-poeta enxergava na Semiologia “uma soma de discurso que se instaura através de percurso significante”. E foi filtrando textos para constituir uma linha evolutiva de criações inventivas no RN correlacionando com o de escritores de outros estados. 
Nossa lista é extensa: Antonio Pinto de Medeiros, José Gonçalves de Medeiros, Miguel Cirilo, Homero Homem, Anchieta Fernandes, Marcos Silva, Frederico Marcos, Zila Mamede, Sanderson Negreiros, Falves Silva, Dailor Varela… Resenhava na Revista Vozes. Em 1975, publicou o livro-marco Vanguarda: Um Projeto Semiológico.
Postulava a arte na expressão do momento histórico resultado de conjuntura própria, complexa, ligada ao social. Interessava a estrutura textual. E a transgressão para com linguagem estabelecida. Moacy Cirne apreendia na arte literária os signos em rotação. Faz falta. 
* Artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor
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