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Ensino da caligrafia está em xeque

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Kay-Alexander Scholz
Deutsche Welle

Berlim – Nas salas de aula da Alemanha, metade dos meninos e um terço das meninas têm dificuldade para escrever com uma caligrafia legível. É o que mostra um novo estudo sobre o desenvolvimento da escrita no país, divulgado recentemente pela Associação Alemã dos Professores. Uma das causas para o problema é a piora da coordenação motora fina, ou seja, da interação entre mão e dedos, que permite escrever, considera Josef Kraus, presidente da instituição. “A função motora do polegar ainda é a mais bem desenvolvida, devido ao ato de brincar”, disse Kraus durante a apresentação do estudo em Berlim. Mas a escrita à mão não é exercitada o suficiente. O estilo de vida digital das crianças afeta essa prática antiga.

Kraus também condena “os pecados da política e da pedagogia contra a cultura da escrita à mão” – por exemplo, a renúncia a ditados e a crescente tendência de provas de múltipla escolha. Além disso, ele atribui uma parcela da culpa a pais excessivamente cautelosos, que não deixam seus filhos desenvolverem e vivenciarem suas habilidades motoras.

Alguns estados da Alemanha vêm testando há algum tempo se não vale a pena abolir a escrita cursiva e assim tornar as coisas mais fáceis para as crianças. Até o momento, os alunos aprendem primeiro a letra de forma e depois a cursiva e, assim, desenvolvem a própria caligrafia. Esse método pode agora ser extinto: as crianças aprenderiam uma espécie de “letra básica”, de forma. Em seguida, aprenderiam a conectar as letras umas com as outras e escrever.

A líder dos secretários estaduais da Educação na Alemanha, Brunhild Kurth, é contra essa tendência. A digitalização não pode ser contida e, justamente por isso, as escolas precisam garantir “que os alunos desenvolvam um estilo legível e individual de escrita à mão”, diz. Para Kurth, a caligrafia é uma “expressão da personalidade” e promove o pensamento estruturado.

A escrita sempre foi uma expressão do desenvolvimento tecnológico e político. Quando, há 100 anos, a pena foi substituída pela caneta-tinteiro, as então costumeiras diferenças entre as linhas superiores e inferiores das letras deixaram de ser facilmente colocadas em papel. Isso porque uma pena é flexível, mas a ponta redonda de metal da caneta não.

Por isso, a partir de 1914, foi ensinada a escrita germânica Sütterlin, inventada na antiga Prússia – uma caligrafia com muito menos ornamentos, adaptada à escrita das canetas-tinteiro. A Sütterlin foi abolida posteriormente pelos nazistas, que adotaram o ensino da escrita latina, pois essa poderia ser lida mais facilmente nos territórios ocupados. Durante 600 anos a escrita alemã prevaleceu no espaço linguístico alemão. Com a Sütterlin, desapareceu a última escrita alemã.

Tudo teve início em 1450, quando Johannes Gutenberg inventou a prensa de tipos móveis e desencadeou uma enorme mudança estrutural: o uso da escrita não estava mais reservado à elite. A internet é constantemente comparada a essa revolução medieval e poderia ter consequências similares.

Klaus vê o perigo de uma nova divisão social, caso a escrita à mão perca importância nas escolas em favor da cultura digital. Pois pais com nível educacional mais elevado provavelmente vão continuar garantindo que seus filhos dominem a antiga técnica da caligrafia.

Na Holanda, as políticas de Educação estão um passo à frente. Nas chamadas “escolas Steve Jobs”, as crianças aprendem o conteúdo individualmente nos iPads. Apenas a escrita impressa, ou de forma, é ensinada.

A maioria dos alemães não quer seguir o mesmo caminho: uma pesquisa de opinião divulgada pelo Instituto Allenbach em março último mostrou que dois terços dos cidadãos acham importante que as crianças aprendam, além da letra de forma, a escrita cursiva.

Por outro lado, pais constantemente se relatam espantados com o quão intuitivamente seus filhos aprendem e sabem lidar com equipamentos eletrônicos. Será que, dessa forma, a transmissão de conhecimento ocorre de maneira mais fácil e rápida? Essa questão não pode ser respondida ainda, por falta de dados científicos.

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