O ensino profissionalizante deu um salto nos últimos anos, sobretudo em direção ao interior. No Rio Grande do Norte, a expansão dos Institutos Federais, deflagrada pelo governo federal a partir de 2006, fez crescer oito vezes o número de unidades existentes – de duas para 16 institutos. Mais do que preparar profissionais para o mercado, o ensino profissionalizante tem mudado a qualidade do ensino médio e transformado perspectivas de jovens e os arranjos produtivos locais.
Em Currais Novos, município 172 quilômetros distante de Natal, a bacia leiteira da região foi diretamente beneficiada com a instalação, há seis anos, do instituto. O Centro de Tecnologia do Queijo é mais do que um setor de beneficiamento dos derivados do leite. Ali, entre laboratórios equipados com maquinário de ponta e salas de aulas, misturam-se conhecimento científico, pesquisa e muita criatividade.
“É uma preocupação oferecer ensino de qualidade e melhorar o nível da educação, básica e profissional e fixar o conhecimento na região”, afirma o diretor geral Rady Dias.
O resultado – além de produtos e novas receitas que abastecem as 16 unidades do IFRN – são profissionais qualificados para inovar o setor de alimentos. O queijo coalho preparado com goiabada ou caju cristalizado é prova disso, aliás, tarefa de sala de aula.
Os alunos, explica a professora Uliana Medeiros, são incentivados a criar novos produtos e dominar o processo desde a concepção, fabricação, até a inserção no mercado.
“A gente precisa pesquisar os produtos, testar medidas, ver como é feita a melhor manipulação, conservação. É o lado prático, mas também com abertura para nossa contribuição”, explica a aluna do curso técnico subsequente em tecnologia de alimentos, Janaína da Silva Albuquerque, de 21 anos,
“O campo é muito vasto, além da usina de leite, podemos atuar em indústrias de diversos segmentos, hospitais, supermercados e os rendimentos valem a pena”, Sheyse da Silva Cortez do Nascimento, de 20 anos, enquanto mistura e retira o soro da massa do queijo.
A empregabilidade é alta. De acordo com dados do IFRN, 70% dos egressos ocupam postos de trabalho. E os salários dos técnicos chegam a R$ 2,6 mil em empresas da região.
Formada há três anos, a técnica em alimentos Ana Luísa Bezerra Garcia, de 22 anos, disse que não teve dificuldade para conseguir emprego. Trabalhando em uma cooperativa de laticínios e num frigorífico da região, ela supervisiona todo o processo produtivo.
“A estrutura de laboratórios, o nível dos professores foi fundamental para a formação que permitiu uma mudança de vida”, lembra. A melhoria, segundo Ana Luísa, se estende às empresas que avançaram na qualidade e segurança alimentar.
Academia
Mesmo fora da proposta inicial, analisa o diretor geral Rady Dias, os IFs acabam incentivando a busca pela pesquisa e pelo ensino superior. “Muitos dos nossos alunos vão para a Universidade, para a carreira acadêmica. Cerca de 70% dos que se inscreveram no vestibular foram aprovados”.
Natural de Lagoa Nova, o aluno Joanderson Souza, de 19 anos, teve dois projetos de iniciação científica aprovados, que tratam de práticas de manipulação de alimentos um em feiras livres e hospitais e outro a análise da água da lagoa, que causou a mortandade de peixes naquela cidade.
“Pretendo continuar na área, fazer faculdade de engenharia de alimentos ou produção. Não quero parar”, diz.
Outros três IFs serão entregues este ano no RN
A expansão dos Institutos se deu a partir de 2005, quando foi modificada a lei que permitiu a educação técnica profissional ser mantida pelo governo federal. Entre 2006 até hoje, o Rio Grande do Norte saltou de duas unidades, em Natal e Mossoró, com aproximadamente 5 mil alunos – destes 4 mil só em Natal – para 16 campi, sendo um de Educação à Distância.
Na 3ª fase do programa de expansão, há três outras unidades para Ceará-Mirim, São Paulo do Potengi e Canguaretama com previsão de funcionamento no segundo semestre deste ano e investimento de R$ 35 milhões. São R$ 8,2 milhões para construção e R$ 3,6 milhões em equipamentos, materiais, montagem de laboratórios, por unidade. Esse ano, serão iniciados os projetos de construção de outras duas unidades, em Parelhas e Lajes.
“Contemplamos as cidades pólos, com maior concentração de desenvolvimento econômico, a partir da potencialidade de cada cidade e permitindo a interiorização do ensino médio de qualidade”, explica o reitor do IFRN Belchior Oliveira. Instalado em frente ao Pico do Tororó, onde nasceu a cidade, o IFRN em Currais Novos tem 967 alunos matriculados.
O polo atende nove municípios da região Seridó, com cursos de nível médio, técnico e superior passará a atuar também na área de mineração e geologia. O centro de tecnologia em mineração está em construção, explica o diretor geral Rady Dias e deverá alavancar a atividade econômica.
Escola possui cursos de extensão para a comunidade
A profissionalização é meta não apenas entre jovens de 15 a 25 anos. Depois de verem os filhos indo para a faculdade, mulheres como a diarista Gecélia da Silva, de 45 anos, voltou a estudar depois de 38 anos. Gecélia é uma das 130 mulheres que participam do Programa Mulheres Mil, oferecido no IFRN-Currais Novos.
O convívio escolar, o contato com computador e as aulas no laboratório de manipulação de alimentos gerou mais que a oportunidade de ocupação e renda. “Eu me senti viva, senti que ainda posso lutar pelos meus sonhos”, conta. O abandono escolar, ainda na 3ª série do ensino fundamental, se deu pela necessidade de ajudar os pais na agricultura.
O programa Mulheres Mil faz parte das ações do programa Brasil Sem Miséria, articulado com a meta de erradicação da pobreza extrema, estabelecida pelo governo federal. Voltado para mulheres em situação de vulnerabilidade social, garante acesso à educação profissional, ao emprego e renda.