Valério Mesquita
Escritor
01) Dos poucos automóveis que havia no município de Boa Saúde, dois ou três jeeps, um era de Sebastião Xavier. Em tempo de festa da padroeira, aconteciam as novenas celebradas em lugares diversos. Numa dessas noites, Sebastião chegou em um sítio onde todos rezavam. Tião desceu do jeep, abriu a porteira e adentrou o veículo. Passados uns dez minutos, resolveu ir embora. Foi saindo ligeiro, quando alguém do terreiro gritou: “Feche a porteira, seu f.d.p.”. Ouvindo essas palavras ofensivas, engatou uma ré e, ciscando parou em frente à casa. “Quem foi que gritou aí?”. O silêncio geral. Sebastião sacou o 38, disparou quatro tiros para o ar. A correria foi grande. A porteira não comportava. Só ficou a santa. Depois que Sebastião retirou-se as coisas se acalmaram. No entanto, encontraram Zé Fogueteiro enganchado na cerca de arame farpado. O coitado dizia baixinho: “Homem, me solte. Eu juro que não fui eu que chamei e não vi quem foi, eu juro…”.
02) O município de Ruy Barbosa gera e guarda fatos inusitados. O doutor Joaquim, esposo de dona Maria Aparecida, conhecida por Nica é um elemento extremamente “educado e delicado”, a ponto de ter seus dotes machistas em xeque, principalmente pela oposição. Em campanha, Nica, enquanto discursava, não podia deixar de ouvir achaques dos adversários. “Bota o bambi pra falar!”, gritavam os do contra. O dócil Quincas, certa vez, perdeu as estribeiras e gritou: “Minha filha, diga aí a esses f.d.p. que eu não sou isso. Pode dizer tudo aquilo que nós fizemos ontem à noite”. Não precisou de tamanha apelação. Nica foi eleita.
03) O vereador Altivo Paiva, mulherengo a toda prova e casamenteiro até demais, viu chegada a hora de jogar a toalha. Baseado “na lei da idade”, foi até a uma agência do INSS requerer a almejada aposentadoria. Passando o visto na papelada, a funcionária pediu: “Tá tudo nos conformes. Por favor, me dê aí sua RG!”. Altivo mexeu nos bolsos e confessou: “Esqueci esse documento minha santa. Mas eu vou buscar lá em casa. Venho já! Eu moro aqui perto”. A funcionária riu, e resumiu: “Abra aí uns dois botões da camisa…”. Feito isso, a moça tranquilizou o neo-aposentado. “Não precisa ir em casa. Esses seus cabelos brancos comprovam sua idade”. Em casa, Altivo contou o caso a esposa. “Você devia”, disse a mulher, “era ter arriado as calças! Quando ela visse o falecido, talvez tivesse dobrado a aposentadoria por invalidez!!”.
04) O prefeito Hostílio Medina voltava à sede do município (Ielmo Marinho), depois de uma missão administrativa, sempre ao lado do fiel escudeiro, motorista e secretário para assuntos alheatórios, o diligente Dão. O prefeito dormia à vontade. Dão, que dirigia até carrossel, jamais tirara uma carteira de habilitação. Mesmo assim, enfrentava trânsitos tais como Natal, Fortaleza, etc. Nessa viagem, ao aproximar-se de um posto da polícia rodoviária, o federal estendeu o braço e, o carrão preto foi para o acostamento.“ A coisa vai pegar”, pensou o esperto motorista. Lentamente foi baixando o vidro do carro, e antes que o policial falasse, Dão fingindo procurar algo, ia resmungando: “Doutor juiz. Doutor juiz. Onde sua excelência colocou os documentos do carro? Minha carteira ta junto. Doutor juiz, acorde Excelência!”. Hostílio só roncava.O policial ouvindo o cuidado com que o motorista tentava acordar o “magistrado”, falou: “Por favor, não incomode o senhor juiz. Boa noite e boa viagem”. Dão ganhara mais uma na base da traquinagem.
