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Entre os grandes

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Nascido no bairro das Rocas, em Natal, o chargista Cláudio Oliveira esconde por trás da sua tranqüilidade uma crítica afiada em relação à sociedade, à política e ao mundo.

Considerado hoje um dos maiores do Brasil, Cláudio é chargista do jornal Agora, do grupo Folha, e também da Tribuna do Norte – substituindo Edmar Viana. Recentemente, recebeu  duas indicações para o prêmio HQ Mix Brasil, considerado o “Oscar” do humor gráfico brasileiro: um na categoria de Melhor Chargista do Brasil em 2007 e outra, de Melhor Livro de Charges do ano, com a obra “Pizzaria Brasil: da Abertura Política à Reeleição de Lula”. A última vez que o chargista recebeu esse prêmio foi em 1998, quando concorreu com o livro “Pitatas de Maluf”.

O prêmio é organizado pela ACB (Associação dos Cartunistas do Brasil) e pelo Imag (Instituto Memorial das Artes Gráficas do Brasil). As indicações são feitas pela comissão organizadora da premiação e a entrega dos prêmios será no dia 23 de julho, no Sesc Pompéia, em São Paulo.

Debruçado sobre os desenhos desde criança, Cláudio começou sua carreira como chargista no jornal Tribuna do Norte, em1976. “Eu fazia charges de futebol e  quando o Henfil foi morar em Natal, nessa mesma época, eu comecei a publicar no velho Pasquim e passei a fazer charges  políticas, com um cunho social forte”, conta Cláudio Oliveira que permaneceu na Tribuna até 1988 e hoje está de volta.

Na década de 80 cursou jornalismo na UFRN e logo depois fez especialização em “Artes Gráficas” em Praga, República Tcheca.

Em1993 se mudou para São Paulo – trabalhando na Folha de São Paulo – e amadureceu seus traços e críticas. “Desde que ouvi Henfil dizer que todo chargista deveria desenhar pensando a charge como uma visão crítica sobre a realidade política, econômica e social do País e não com charges bobas de mero divertimento, tudo mudou para mim”. 

Essa transformação pode ser vista em suas charges publicadas diariamente na TN com questionamentos sobre o movimento político local e nacional. “Minha rotina diária é estar informado. Acordo e já leio todos os noticiários, assisto aos jornais na televisão e leio a TRIBUNA DO NORTE. Isso tudo me inspira para criar”.

Depois de observar com atenção as informações, Cláudio senta e começa e a desenhar. Com papel simples e pincel seus questionamentos viram desenhos. “É como uma mágica. Depois de me inspirar, o desenho acontece com rapidez. Faço também um esboço a lápis, que dá muita agilidade. Antes eu fazia com aquarela e como o jornal requer algo quente e rápido, em termos de noticiário, tenho pouco tempo para executar”. Depois do desenho pronto, Cláudio leva ao computador e escaneia a imagem. “Essa parte da tecnologia é muito importante. Por ela que consigo publicar todos os dias estando longe”.

Mesmo longe, suas idéias são divididas com o jornalista esportivo da TN Everaldo Lopes. “Everaldo manda um esboço por e-mail e dá muito certo. É um trabalho que faço com satisfação porque o humor do Cartão Amarelo é muito popular. Everaldo Lopes, assim como Edmar, trazem algo singular na composição e nas idéias, eles conseguem fazer um humor de compreensão ampla”, contou Cláudio.

Everaldo Lopes lembra quando Cláudio começou, e até hoje sua arte só evoluiu. “Tem as charges que ele ridiculariza o personagens e outras que são mais caracterizados e esse é o forte de Cláudio. Essa flexibilidade dos personagens, Ele torna a figura da charge especial por isso”, contou Everaldo.

O livro

O livro “Pìzzaria Brasil: Da Abertura Política à Reeleição de Lula”, editado pela Devir Livraria – indicado como um dos melhores do Brasil na categoria charge – foi lançado no ano passado e carrega nas suas páginas a história construída por Cláudio Oliveira em 30 anos de carreira, essa que se mistura a história sócio-política e econômica do Brasil.

Com prefácio de Chico Caruso, o livro traz a primeira charge política feita por Cláudio Oliveira e publicada no Pasquim em abril de 1977. “Também escrevi um texto para não ser um livro de charges mas uma história ilustrada. Procurei dar um enfoque da reflexão sobre os rumos do País”, disse . Ele passou quatro anos preparando o livro que relembra fatos como a Ditadura, os anos de Chumbo, Delfim Neto e seu “milagre econômico”, a campanha Diretas Já, o Plano Cruzado, o Impeachment de Collor, FHC e o plano Real, a eleição de Lula, o Mensalão e a reeleição de Lula. Segundo o autor, sua obra serve para retratar de forma humorada a sua indignação com situações absurdas que aconteciam e ainda acontecem no Brasil.

Sobre a obra, o prefaciador Chico Caruso escreveu: “Quando soube que o Oliveira tinha conhecido o mundo vermelho in loco, fiquei muito surpreso. Como fico agora, com este livro que está nas suas mãos: é um puta livro de história! E economia, sociologia e política, desses anos recentes. Uma pesquisa séria e ponderada, como bons comunistas – se existissem mais – deveriam sempre fazer. E essa quantidade de textos – para mim, que só faço e leio figurinhas, é surpreendente – quase não deixa ver o excelente caricaturista que o Cláudio sempre foi”.

Bate-papo / Cláudio Oliveira

Como era seu contato com Edmar Viana? 
Um grande amigo. Lembro do primeiro desenho que publiquei em 75 e foi quando conheci Edmar. Esse tempo foi muito importante para mim porque foi quando comecei a participar do Gruphq. Eu lia muito o Cartão Amarelo que meu pai gostava e é uma referência forte na minha carreira. Minha volta hoje é uma satisfação, apesar do momento ser triste, pela morte de Edmar.

Além dele, quais são suas referências?
Henfil sempre e também tenho uma grande referência que faço o traço da caricatura dos irmãos Caruso, mas não a charge e sim a síntese do caricaturado. Outras referências que tenho vem da primeira metade do século XX, que são os chergistas J. Carlos (carioca), Nássara e o paulista chamado Del Monte.

Você disse não ter esperanças de ganhar os prêmios. Por quê?
A categoria charge merecidamente é sempre do Angeli. Quanto aos livros, estou concorrendo com Henfil, uma publicação dos anos 90 chamada “Urubu”, de charges publicadas no jornal “O dia”, na década de 70, é um nome sagrado da charge brasileira.

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