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Entrevista: Rosana Mazaro

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Antonio Roberto Rocha
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Rosana Mazaro é integrante do Grupo Técnico de Trabalho do Turismo Náutico do MTur, é profa. dra. do Programa de Pós-Graduação em Turismo-PPGTUR/UFRN e presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação em Turismo (Anptur).

Quando falamos em turismo náutico, o que é fundamental ter em mente?

Gostaria de iniciar desmistificando a crença de que turismo náutico é sinônimo de marina náutica. O turismo náutico é um segmento muito específico e complexo, que envolve uma diversidade de estrutura e atividades. As marinas são importantes equipamentos náuticos que possibilitam que o turismo náutico aconteça. São empreendimentos – públicos ou privados ou uma combinação dos dois – que congregam toda uma gama de serviços oferecidos aos que praticam os esportes e lazer náuticos, desde infraestrutura física para a estadia e guarda de embarcações até  serviços necessários na construção, manutenção e reparos de embarcações de todos os estilos e tamanhos.

Rampas e píers também contribuem?
Uma simples rampa também é considerada um equipamento náutico importante e necessário em diferentes situações. Um píer com condições de embarque e desembarque é um equipamento importante em circunstâncias onde o calado ou obstáculos de navegação não permitam que se chegue diretamente em terra, por exemplo. Este é o caso de Fernando de Noronha (PE) e da Ilha Grande (RJ), onde as embarcações atracam em grandes píeres/molhes públicos para embarque/desembarque de carga e passageiros.

O que faz de Natal um lugar com potencial para o turismo náutico?
Natal tem sim uma enorme vocação para o turismo náutico, pois reúne diversos atributos que determinam esse potencial. Sua estratégica posição geográfica a coloca como ponto mais ocidental da América do Sul e importante confluência para cruzeiristas de todo o mundo, tanto para os navegadores que deixam o litoral brasileiro em direção ao Caribe, quanto para os que chegam do hemisfério norte e continente africano pelo Oceano Atlântico.

O Nordeste, em geral, propicia o segmento?
Outro importante fator é a inexistência de ilhas no litoral nordestino, favorecendo lugares que tenham estuários ribeirinhos com foz navegável e saída para o mar. Numa comparação com Recife, as condições de navegação no Rio Capibaribe, onde está instalado o Iate Clube Cabanga, um dos maiores do Nordeste, são muito piores que a nossa aqui no Rio Potengi. Em Recife, além de mais poluído, os efeitos da maré sobre o rio tornam impossível a navegação de um veleiro com dois metros de calado (profundidade abaixo da linha d’água) na maré baixa, com risco de encalhe. Natal não sofre essa limitação e tem um dos estuários costeiros navegáveis mais lindos do país. Ainda comparativamente, João Pessoa, que também tem seu porto e equipamentos náuticos em estuário ribeirinho, tem explorado muito bem esta condição, porém também não dispõe de equipamentos náuticos equivalentes em dimensão e importância. 

E nossos ventos? Sopram mais favoráveis?
Sim, outro fator importante são os permanentes ventos – denominados Alísios de Sueste – que varrem permanentemente o litoral do RN, favorecendo a prática de esportes e atividades de vela. Os ventos permanentes e sempre da mesma direção são muito favoráveis para as travessias oceânicas, que podem ser uma agradável velejada até Fernando de Noronha; ou mais longas, entre a América do Sul, Caribe e Pacifico, ou entre Europa, África e América do Sul.

O que falta para Natal soltar as amarras?
Visão dos gestores e investidores para entender que o turismo náutico é uma atividade geradora de renda e com diversas oportunidades de negócios. A náutica ao redor do mundo é uma atividade capaz de transformar lugares degradados e abandonados em ricas áreas dinâmicas de lazer e cultura, tendo o mar como elemento central. Em quase todo o Brasil, a exceção fica por conta da Bahia, São Paulo e Santa Catarina.

Só a prefeitura de Natal pode resolver a questão?
É o município quem estabelece as regras de instalação dos equipamentos náuticos. Em Natal, a vocação aponta para uma marina náutica na famosa ZPA-7, definida pelo Plano Diretor de 2007 e que não foi regulamentada.

O Brasil tem turismo náutico ativo em que locais?
Tem vários e muito bem articulados. Digo articulados porque, mesmo que específico, o turismo náutico precisa ser de interesse e reunir esforços de diferentes setores: gestores públicos, entes privados e uma gama de instituições que regulam, administram, exploram e fiscalizam as diversas atividades relacionadas ao turismo náutico, direta ou indiretamente. O próprio Ministério do Turismo, orientado pelo Plano de Marketing Estratégico para o Turismo Brasileiro, que definiu o turismo náutico como um dos segmentos prioritários para o Brasil, criou e manteve ativo até 2018 o Grupo Técnico de Trabalho para o Turismo Náutico-GTTN/MTur, que funciona como um fórum em nível federal, para concentrar todas as discussões e busca de soluções para o desenvolvimento do segmento.

Quais os Estados que “enxergam” o turismo náutico?
São Paulo é um exemplo de como a governança é fator chave no desenvolvimento do setor. Outro exemplo vem de Santa Catarina, que também conta com Fórum Náutico articulado e atuante. 

Porque a necessidade de criação de uma gestão específica para o turismo náutico?

Porque os planos diretores têm definido muito bem o uso da terra, porém o uso da água e de seus limites terrestres ainda é um tabu para os municípios brasileiros. Além do crônico desconhecimento do universo aquático e de todas as suas impensadas possibilidades, as áreas costeiras envolvem geralmente conflitos de interesses em seus uso, o que, agravada pela negligência dos governos, normalmente ocupados com outros segmentos e prioridades, tem resultado na degradação e não aproveitamento do potencial da vocação náutica de muitos lugares ao longo de nossa vasta e inexplorada costa.
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