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Entrevistas originais

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Diogenes da Cunha Lima 
Escritor

A boa entrevista é produzida com técnica e arte. Exige do entrevistador o prévio conhecimento sobre o entrevistado, experiência e vida, o natural jeito de reagir. Normalmente, é realizada por jornalistas e pode transformar-se em base de importante reportagem. O repórter deve levar em conta, também, o local, tempo e outras circunstâncias para saber estimular as respostas do entrevistado.

Escritor gosta de falar de si mesmo e de sua obra. Em sua última entrevista, Jorge Luís Borges declarou: “Não criei personagens, tudo que escrevi é autobiográfico”. E explicou que preferiu manifestar-se por meio de fábulas e de símbolos. A sua ficção seria, pois, composta por múltiplos autorretratos. Semelhantemente, o poeta Mário Quintana, que foi também ficcionista, ao ser entrevistado afirmou: “Meus contos só tinham um personagem: eu mesmo”. Tentam demonstrar que são únicos, originais.

Há formas singulares de entrevista. Em 1971, Pablo Neruda recebeu o prêmio Nobel de literatura. Convidou o seu amigo Gabriel Garcia Marquez, que residia em Barcelona, para, em Paris, terem almoço comemorativo da premiação. Jornalistas idealizaram e filmaram o que se transformou em mútua entrevista. Cada entrevistador era também o entrevistado. Na oportunidade, o Poeta revalorizou o romance e o romancista exaltou a poesia. Ao final, o autor de “Cem Anos de Solidão” disse considerar Pablo Neruda o maior poeta do século XX e de todos os idiomas.

Pablo Neruda criou, também, outra forma original de entrevista. Ele a fez, deixando para publicação póstuma o “Libro de las Preguntas”, constante de 311 perguntas destinadas a um possível e imaginário leitor. As perguntas formam uma antologia onírica, lírica, poética. São frutos de íntimas dúvidas e perplexidades do Poeta. Como sou dele admirador imbatível, atrevi-me a ser seu entrevistado. Escrevi em português o “Livro das Respostas”. A segunda edição foi acrescida de CD com música especialmente composta pelo gênio de Danilo Guanais. Para aumentar a minha emoção, o ministro Aluísio Nunes Ferreira telefonou-me comunicando ter encontrado, entre as obras selecionadas, um exemplar exposto da Chascona, casa de Neruda em Santiago. Proibiram-no de fotografar. Com o celular, sem pedir licença, o poeta Assis Câmara documentou.

Gênero de entrevista original é o programa Memória Viva da nossa TV Universitária. Quando a concedemos, Carlos Lira e eu, o programa destinar-se-ia a gravar, para a história, as matrizes do pensamento e do afeto de personagens potiguares ou aqui residentes. Mas logo ultrapassou fronteiras, contando com protagonistas tão diferentes como Dom Helder Câmara, Luís Carlos Prestes e Fernando Collor de Melo. São documentos vivos de extraordinário valor de pessoas e intelectuais atuantes. Entre tantos, estão Câmara Cascudo, os governadores Dinarte Mariz, Aluízio Alves e Cortez Pereira, reitores universitários a partir de Onofre Lopes.

O Programa, após demorado intervalo, foi retomado pelo professor Tarcísio Gurgel, que operou maravilhas durante 12 anos. Joana D’arc Arruda Câmara anotou 450 especiais entrevistas.

Os expectadores que buscam o saber e os curiosos animam-se com verdadeiros tesouros encontrados.

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