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Era uma vez 83

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Rubens Lemos Filho
Eram três reis. Sem canonizações vaticanas ou nomes imperiais. Os três moveram um povo na graça da liberdade do balé-bola. Dedé de Dora, Marinho Apolônio e Silva.
Os três reis devolveram aos seus súditos a alegria de poder gritar a palavra santificada por todos os homens que fazem do futebol um instrumento de amor extraterreno: “Campeão!”.
O tom exclamativo e o transe da torcida do ABC no Castelão(Machadão) em 1983 estão perenes, surgindo  das nuvens ainda que a nave oca e fria ocupe  o canto  da arquitetura belíssima.
Dedé de Dora, seridoense de Currais Novos, canhoto, veio para acabar a viuvez por Danilo Menezes, o maestro, que deixara o futebol e não um substituto ao menos parecido com seu jogo monarca, sublime, categórico, dominador, condutor de esperanças.
Em 1983, o América tentava o seu pentacampeonato e Rui Barbosa da Costa assumiu anunciando que acabaria a hegemonia do rival. Muito mais: faria um time inesquecível.
Marinho Apolônio, que pelo América foi implacável algoz, já estava no ABC em 1982, ano em que Silva, com a camisa vermelha, encantara com gols ao estilo de Reinaldo do Atlético Mineiro, sem força, na base do drible, do toquinho, da finta seca no beque, da frieza letal dos homens que conheciam cada palmo de uma grande área. 
Silva chegou primeiro e ressuscitou uma massa mortificada de derrotas e gozações. Ao primeiro treino, o entendimento perfeito com Marinho, na tabela, nos deslocamentos, no raciocínio gêmeo dos craques. Estreou fazendo três gols contra o Botafogo da Paraíba, amistoso que de banal não teve nada. Foi histórico.
Dedé de Dora, Marinho e Silva. Jogada que começava com Dedé recebendo pelo setor de armação,levantando a cabeça e imediatamente procurando Marinho Apolônio que, ao ser contemplado com o passe medido, enfiava a bola entre as pernas do marcador e partia para a tabelinha com Silva até o gol.
Na estreia do gigante zagueiro Argeu, em 28 de agosto de 1983, uma cena cômica. O ABC começa a triangular em seu campo. Dedé para Marinho, toque imediato a Silva que parte do círculo central. Balança à frente de Argeu e o desloca.
Silva segue com a bola dominada, imprime uma velocidade expansiva, acelera sem perder a classe, Argeu tenta segurá-lo pelo calção, não consegue. 
Se agarra na camisa 9, em vão, tenta contê-lo com uma tesoura, cai de bunda no gramado.Silva invade a área, espera a saída do goleiraço Rafael, do América, e bate devagar, com um doce cinismo, fazendo o primeiro de um 4×1 retumbante.
O ABC venceu o América em 1983 por 3×0, 4×2, 4×1, 3×1, sempre dando aula de técnica, os três reis no comando do pelotão, na regência da sinfônica. O Alecrim, numa noite de sexta-feira, sofreu 6×1, o que fez um velho professor de Matemática da antiga Escola Técnica Federal a perder a isenção diante dos alunos: “Este time é o ABSantos, Este time é o ABCeis”, bradava o carequinha Isaías.
E uma virtude soberana dos vitoriosos é a pujança do oponente. O América manteve sua base tetra e trouxe reforços, montando outro esquadrão: Rafael; Ivã Silva, Lúcio Sábiá, Otávio Souto(Argeu) e Vassil; Baltasar, Ailton e Valério; Amílton Rocha, Tião Marçal e Severinho. Cada clássico justificava o latim.
O ABC de 1983 foi tão mágico e perfeito que não há falha de memória que prejudique a escalação: Lulinha; Alexandre Cearense, Joel, Alexandre Mineiro e Dudé; Nicácio, Dedé de Dora e Marinho Apolônio; Curió, Silva e Djalma.
Um time que fez 114 gols num só campeonato. Marinho e Silva, juntos, marcaram 63 vezes, Silva, com 32 e Marinho, 31. Foi de Silva o gol de empate  na final contra o América, que vencia por 1×0 e levaria a decisão para uma partida extra.
Eram três reis. Dedé, Marinho Apolônio e Silva na jogada final, chute fraco, rebatido por Rafael, estocada leve na bola do gol, emoção extravasada. O ABC de 1983, o ABC de três magos da relva de Lagoa Nova.
Ingresso social 
É de largo alcance o Projeto Ingresso Social, que prevê o engajamento da Federação do Comércio na luta dos clubes, com a compra de ingressos a preço mais baixo e distribuição entre trabalhadores. 
Povão fora 
Desde a chegada das Arenas dos ricos, o povão foi mandado para o escanteio do futebol e é muito mais bonito jogo com pobre apaixonado, que faz do time, filho, do que com a burguesia. 
Democracia 
Aliás, legal mesmo é a democracia da felicidade. É uma iniciativa inteligente e correta na divisão do bolo de oportunidades. 
Matutão 
Está surpreendendo os mais otimistas o interesse dos municípios em mandar seus times para o Super Matutão, sem dúvida a sacada do ano em nosso futebol. 
Tricampeão 
No dia 29 de maio de 1983, o Flamengo conquistava o tricampeonato brasileiro batendo o Santos(3×0). No Maracanã. 
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