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Esclarecida morte de F. Gomes

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Marco Carvalho – repórter

“O Dão confirmou a participação do ‘Gordo da Rodoviária’ como mandante da morte de F. Gomes. Ele diz ter recebido uma promessa de pagamento em troca do assassinato”. Dão é João Francisco dos Santos, assassino confesso do jornalista. “Gordo da Rodoviária” é Laílson Lopes, empresário preso na manhã da última terça-feira sob suspeita de ser o autor intelectual do crime. A frase é do delegado Márcio Delgado, da Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor), que conduz as investigações sobre a morte do caicoense. Para a Polícia, o crime está solucionado.

Ronaldo Gomes e  Márcio Delgado revelam, durante coletiva, como a polícia chegou até o mandante do assassinato de F. GomesO que também contribuiu para a elucidação foram as quebras dos sigilos telefônicos de Laílson e Dão. “Eles se falaram vinte minutos antes do crime e cerca de uma hora depois. Durante a madrugada também houve intenso contato dos dois com o advogado Rivaldo, que viria a defender Dão durante o processo”, esclareceu o delegado geral da Polícia Civil, Ronaldo Gomes, durante entrevista coletiva na manhã de ontem. A Polícia baseou-se nos dois argumentos, a confissão de Dão e os telefonemas, para apontar Laílson Lopes como mandante do crime.

Para Ronaldo Gomes, a motivação do crime seria uma antiga rixa entre F. Gomes e o “Gordo da Rodoviária”. “O jornalista denunciava o que via de errado na cidade. Uma dessas denúncias foi direcionada para o comércio de celulares de Laílson, que segundo F. Gomes, era uma fachada para a prática de outros crimes”, disse.

Inimizade

De acordo com o delegado Márcio Delgado, todos conheciam a inimizade entre o jornalista e o empresário em Caicó. “Também pode ter contribuído para o crime, o fato de a esposa de Laílson trabalhar diretamente com F. Gomes na rádio. Há informações de que a mulher chegava no trabalho com sinais de espancamento e o jornalista pedia que ela fosse atrás dos seus direitos e denunciasse o marido. Também não descartamos  ciúme do ‘Gordo” pelo fato de sua mulher trabalhar com F. Gomes. Isso pode ter sido o motivo do assassinato”, afirmou.

No ano de 2007, o empresário Laílson Lopes foi detido por um suposto envolvimento em fraudes de notas fiscais de aparelhos celulares. O episódio foi divulgado pelos meios de comunicação, inclusive pela Rádio Rural de Caicó, que tinha F. Gomes como um dos responsáveis pelo conteúdo jornalístico da emissora. O comerciante também processou o Estado, solicitando R$ 500 mil por danos morais, mas a Justiça julgou improcedente o pedido. Já a ação contra a rádio, que pede R$ 600 mil, teve a última movimentação no dia 25 de janeiro deste ano e o processo está concluso para sentença.

Laílson foi encaminhado ao presídio de Caraúbas e está detido preventivamente. “Ele nega participação e contato com o Dão. Mas as provas dos telefonemas e do depoimento confirmam essa ligação”, ressaltou Márcio Delgado.

A polícia informou ainda que as ligações telefônicas ocorreram às 20h55 [20 minutos antes do homicídio], às 22h06, tendo prosseguido durante a madrugada até às 2h45.

bate papo – Geraldo Rufino » Promotor

O senhor não viu elementos suficientes para oferecer denúncia ao juiz de que o Valdir seria o mandante do crime. Dessa vez, com o Laílson, o senhor acredita que há provas suficientes?

Aguardo o término do inquérito para me manifestar oficialmente. Mas, de antemão, acredito que, dessa vez, há indícios suficientes.

O fato de não ter sido possível escutar o conteúdo da conversa entre o Dão e o Laílson, já que só há o registro, pode comprometer o peso dessa prova?

Iremos considerar isso. Mas existem provas mais fortes no caso. Laílson negou qualquer tipo de contato com o Dão, mas não acreditamos.

Já há uma expectativa de quando sairá a decisão em oferecer denúncia contra Laílson ou não?

Ainda não me informei com o delegado de quando receberei o inquérito. Mas já está perto.

Delegado vê indiciamento como uma estratégia

O presidiário Valdir Souza do Nascimento foi o primeiro nome a ser levantado como mandante de F. Gomes, tendo sido inclusive indiciado pela polícia. O juiz Luiz Cândido, da comarca de Caicó, contudo, disse não ter recebido denúncia do Ministério Público. O promotor Geraldo Rufino não viu elementos suficientes para apontar Valdir como a pessoa que teve a autoria intelectual do crime e pediu a reabertura do inquérito.

Ontem pela manhã, o delegado geral Ronaldo Gomes explicou que, na verdade, o indiciamento de Valdir foi parte de uma estratégia de investigação. “Com toda a atenção voltada para Valdir, podíamos deixar a outra linha de investigação [a que apontava Laílson Lopes como mandante] livre. Na época, tínhamos indícios que Valdir era o mandante, mas o indiciamento acabou funcionando como uma estratégia”, esclareceu.

O indício citado por Ronaldo era o telefone celular encontrado na cela de Valdir no presídio de Alcaçuz. Como os dois, Dão e Valdir, já tinham ligações criminosas em outras oportunidades, a polícia seguiu por esse caminho. “Valdir está fora do inquérito. Concluímos que ele não teve participação”, encerrou Ronaldo Gomes.

Ministério Público desconhecia a estratégia  feita pela polícia

O promotor Geraldo Rufino Júnior, que participou do caso que apurou o assassinato do radialista F. Gomes, não sabia da estratégia da Polícia Civil de indiciar o presidiário Valdir Souza do Nascimento como possível mandante do crime também como forma de deixar “mais relaxado” o empresário Laílson Lopes, o conhecido Gordo da Rodoviária, apontado como mandante do homicídio. De acordo com o promotor, o Ministério Público e a Justiça não foram informados sobre a estratégia da Polícia.

No dia 2 de dezembro do ano passado, a Polícia Civil, através da Delegacia Especializada em Combate ao Crime Organizado (Deicor), cumpriu mandados de busca e apreensão em Natal e Caicó para apurar o possível envolvimento de Valdir no crime. O presidiário, que cumpre pena por tráfico, teria sido alvo de algumas matérias do próprio F. Gomes acerca dos crimes. Esse foi um dos fatos apontados pela Polícia como possível motivação para que Valdir encomendasse o crime, mas o Ministério Público não acatou o pedido de denúncia contra Valdir.

“Houve um indiciamento normal. Examinei, achei que não havia motivos para denunciar e não denunciei”, explicou Geraldo Rufino. “Conversei com os delegados antes e disse que achava fracas as provas contra Valdir”, disse o promotor.

Já com o pedido de quebra de sigilo telefônico de Laílson Lopes, que foi feito pelo delegado Ronaldo Gomes ainda quando comandava o caso, o promotor sugeriu que o Gordo da Rodoviária deveria ser investigado. “Só chegamos a Laílson porque ele (Ronaldo Gomes) pediu a quebra do sigilo”, esclareceu o promotor.

Durante a entrevista concedida na manhã de ontem, 23, Ronaldo Gomes disse que Dão, assassino confesso de F. Gomes, admitiu o envolvimento do Gordo da Rodoviária. O delegado também informou que o indiciamento de Valdir foi decorrência dos indícios de autoria que havia contra ele na época do crime, “mas fez parte como estratégia da Polícia.

Sobre o indiciamento de algum suspeito como forma de “relaxar” outros suspeitos de crimes para ajudar na investigação, o promotor Geraldo Rufino disse que nunca viu atitude semelhante. “Se o fato ocorreu, pra mim foi inédito”.

O indiciamento de suspeitos de crimes só pode ser feito quando há fatos que apontem para a possibilidade de participação do indiciado nos delitos. Sem tratar de casos específicos, o jurista Klebet Cavalcanti explicou que a Polícia tem legitimidade para investigar as pessoas que possam ser autoras de crimes, mesmo que os indícios sejam mínimos. O dever da Polícia, segundo o advogado, é investigar todas as possibilidades. No entanto, o indiciamento e exposição sem motivos relevantes pode caracterizar um ato ilegal.

Prisão de advogado favorece interrogatório

Segundo o delegado da Deicor, a polícia aproveitou um momento em que o advogado de Dão estava preso para interrogar o assassino mais uma vez à procura de provas. “O advogado Rivaldo Dantas havia sido preso por extorsão. Fomos a Caicó e conversamos novamente com Dão. Dessa vez, ele confirmou que recebeu a promessa de pagamento de Laílson em troca da morte de F. Gomes. Ele não revelou a quantia com medo de se prejudicar no processo” informou Delgado. O assassino confesso diz que ainda não recebeu o dinheiro prometido, versão a qual a polícia não acredita.

O delegado geral acredita ter sido benéfica a prisão do advogado para o prosseguimento das investigações. “Foi bom, pois Dão deixou de receber atenção de Rivaldo e vimos ai uma oportunidade para dar prosseguimento ao inquérito”.

O advogado Rivaldo Dantas de Farias, 40 anos, havia sido preso no dia 20 de janeiro dentro de um shopping. Rivaldo e Lailson Lopes, agora conhecido por ser o suposto  mandante da morte de F. Gomes, foram detidos sob a acusação de extorsão e formação de quadrilha. De acordo com o delegado da 3ª Delegacia de Polícia do bairro do Alecrim, a dupla com o apoio de outras pessoas estavam tentando extorquir o dono de uma locadora.

Segundo o titular da DP do Alecrim, a dupla foi presa após tentar receber uma quantia de R$ 6 mil para devolver um veículo modelo Pajero TR4 ao proprietário. O carro havia sido alugado pelos cúmplices em Natal e levado a Caicó, onde foi vendido. O dono da locadora ao entrar em contato com a dupla exigiu a devolução do veículo, mas foi informado que deveria pagar a quantia para recuperá-lo.

Rivaldo e Laílson respondiam em liberdade ao crime.

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