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Escolas de samba miram na avenida e no futuro

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Ramon Ribeiro
Repórter

Em um hora de desfile é deixado na avenida o suor de um ano inteiro de trabalho. Trabalho e paixão. Porque escola de samba, em Natal, em essência, é amor à camisa. Um amor que move centenas de pessoas em torno de um objetivo comum: fazer bonito no carnaval. “O dia mais gostoso pra gente é o do desfile. Sem dúvida. Desde de manhã, com tudo que antecede a entrada na avenida, até o final do percurso. É esse dia que justifica todo o trabalho”, conta César Filho, diretor da escola Balanço do Morro, das Rocas.

Larissa Lira e equipe do carnaval da Malandros do Samba, que já ocupa uma segunda sede, no primeiro andar do Grupo Araruna

Larissa Lira e equipe do carnaval da “Malandros do Samba”, que já ocupa uma segunda sede, no primeiro andar do Grupo Araruna

O pensamento é compartilhado pelos carnavalescos das outras nove escolas de samba que desfilam na festa deste ano. Por exemplo, Francisco Canindé, atual presidente da escola Águia Dourada. “Estamos trabalhando madrugada adentro no galpão da escola para deixar tudo pronto. Mas este ano até que estamos adiantados. Começamos os trabalhos em novembro”, diz Francisco. Sediada no Alecrim, a Águia Dourada vai pra sua segunda temporada no grupo A (o principal),  e o tema proposto é “África, o berço da fecundação humana”. A expectativa, segundo o presidente, é dar um vôo rasante em direção a linha de frente da competição e se colocar entre as principais escolas da cidade.

Tricampeã, é natural que a Balanço do Morro se apresente como uma das favoritas. Neste ano a agremiação vai levar para a avenida o samba enredo “No São João da Balanço o sertão vira corte”. Nas palavras do carnavalesco da escola, Sávio Medeiros, a ideia é contar a história do São João desde a chegada da festividade no Brasil até ganha a dimensão que tem hoje. “Estamos há quatro meses trabalhando. Na última semana intensificamos a produção aqui e vai ser assim até a véspera do desfile”, diz Sávio.

Outra escola que também vem forte é a Malandros do Samba, das Rocas. A agremiação é a mais antiga em atividade na cidade e, no que depender do seus componentes, o empenho é para fazer um desfile superior ao das últimas edições. Motivo eles tem de sobra, afinal, não é sempre que se comemora 60 anos de fundação. As seis décadas de carnaval, por sinal, é o tema do enredo deste ano: “60 anos da Malandros. Vem me ver na avenida, venha ouvir minha história”.

Larissa Lira, da equipe de carnaval da escola, conta que o enredo foi composto a partir de conversas com carnavalescos fundadores, dentre eles o famoso Aluízio Pereira, de 82 anos, que já confirmou sua presença no desfile. “Os mais antigos da escola lembraram de muitos momentos marcantes, se emocionaram, a gente se emocionou junto. Acho que vai tocar o público também”, comenta a carnavalesca que está na Malandros há três anos – antes ela era da Balanço.

Ensaios e recursos
Para os carnavalescos das três escolas procuradas pela reportagem, é unânime a opinião de que os recursos financeiros disponibilizados pela Prefeitura de Natal é insuficiente para garantir um desfile de qualidade. Mas, ao invés de gastar energia indo bater pires na porta da Secretaria Municipal de Cultura, o melhor é desenvolver outras fontes para entrada de renda.

“Não acho certo as escolas ficaram dependentes desse dinheiro da prefeitura. Defendo que as escolas busquem outras fontes de receita, entrem com projeto nas leis de incentivo, criem eventos”, diz Larissa, da Malandros. No caso da sua escola, ela cita como ações os ensaios abertos, onde se vende cerveja e petiscos, além da comercialização de camisas e chapéus para sair numa das alas do desfile, chamada de “Malandro Maneiro”.

A estratégia é semelhante a da Balanço do Morro, que dispõe da ala “Amantes do Samba”. A agremiação também tem uma bateria show, cujo cachê das apresentações é dividido entre os músicos e a escola. “Somos convidados para nos apresentarmos em Natal, Parnamirim e até São José de Mipibu. 40% do cachê vai para a escola e 60% fica com os músicos”, explica César Filho. A bateria e o time de passistas da escola tem animado os ensaios do bloco Suvaco do Careca, nos domingos em Ponta Negra. “É um experiência boa. Divulga nossa escola para além das Rocas. Tem gente de lá que passa a conhecer a gente e acaba saindo no desfile”.

No Barracão da Balanço do Morro, os preparativos para o desfile sobre a história do São João: No São João da Balanço o sertão vira corte

No Barracão da “Balanço do Morro”, os preparativos para o desfile sobre a história do São João: “No São João da Balanço o sertão vira corte”

Tanto a Balanço quanto a Malandros experimentaram pleitear patrocínio através de leis de incentivo fiscal para cultura – algo que os bloquinhos de rua perceberam que funciona. No caso da Balanço o projeto foi feliz pois aconteceu a captação. Já com a Malandros, houve aprovação do projeto, mas não a captação. “É muito difícil captar. As empresas se interessam mais pelos blocos de Ponta Negra e Petrópolis, onde os pólos recebem mais investimentos. Se houvesse uma ação de valorização dos desfiles, talvez atraísse patrocínios”, avalia Larissa Lira.

A Águia Dourada, por sua vez, nunca tentou leis de incentivo e nem comercializa uma ala para foliões. Segundo Francisco Canindé, a escola foi fundada com viés social, então o engajamento dos componentes é quase todo voltado para as comunidade. “Temos grupos de dança, futebol e capoeira. Preparamos a bateria com adolescentes do bairro. Nossa linha de trabalho é essa. Se dependemos de algo é da comunidade. É a ela que recorremos para conseguir recursos. Fazemos eventos de rua, bingo, rifa, recebemos ajuda de amigos”, explica o presidente da escola.

Para os três carnavalesco, os ensaios são a melhor forma de manter a comunidade próxima. A Balanço realiza festas durante todo o ano, uma vez por mês e, durante o mês que antecede o carnaval, os ensaios são de segunda a sexta, sempre na sede da agremiação, na rua Mestre Lucarino, 533, nas Rocas. Já a Malandros, o principal contato com a comunidade no mês que antecede o carnaval é nas “Sextas Samba Show”, no barracão da escola, localizado na rua Soldado Luiz Gonzaga, 72, nas Rocas. O evento, gratuito, conta com a bateria da escola e a roda “Filhos do Samba”, composta por filhos de mestres do samba do bairro. A Águia Dourada já tem uma programação diferente. As festas acontece em datas específicas. A próxima será no dia 24, na rua Presidente Sarmento, 831, por trás do Mercado das 6, no Alecrim. O evento é gratuito, começa às 16h, com feijoada e cerveja, pagode, roda de samba e o ensaio da bateria da escola. Participam da festa os blocos Psyu, Ressaka, Cheiro do Alecrim e Gil Galo, todos parceiros e engajados com o carnaval do Alecrim.

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