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Escolas fecharam há 150 dias no RN; pais defendem reabertura

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A paralisação das aulas presenciais por causa da pandemia do novo coronavírus do Rio Grande do Norte completa cinco meses no próximo dia 17 de agosto. Desde então, crianças e adolescentes estão em casa. Uma parte dos estudantes continuou com atividades pedagógicas virtuais, principalmente os da rede particular, mas passados 150 dias sem aulas presenciais o modelo virtual se esgotou. Familiares se queixam da superexposição à tela dos computadores, da dificuldade de estimular o desenvolvimento dos filhos e da rotina difícil de manter as crianças no momento em que setores econômicos não-essenciais voltaram a funcionar.
Marília Bittencourt aponta que paralisação das atividades presenciais prejudicou os filhos
Apesar das queixas, o retorno das aulas presenciais divide a opinião dos pais. No dia 28 de julho, a Prefeitura do Natal chegou a autorizar o retorno das escolas particulares no dia 10 de agosto, mas houve uma rejeição nas redes sociais contra a medida e o prefeito Álvaro Dias recuou, suspendendo a decisão. Por outro lado, há famílias que defendem o retorno o quanto antes porque sentem que o desenvolvimento e saúde mental dos filhos foram prejudicados, principalmente os das crianças.
“Minha filha está numa das principais fases de desenvolvimento da criança, que é de 0 a 3 anos, e sinto que se prejudicou muito, no caso do aprendizado da fala, por exemplo. Já o meu filho começou a apresentar ansiedade”, contou Marília Bittencourt, mãe de dois filhos, um menino de 5 anos e uma menina de 2 anos e 6 meses.
A escola onde os filhos de Marília Bittencourt estudam não adotou as atividades virtuais obrigatórias. O método de ensino para a pandemia foram atividades não-obrigatórias. Marília estimulou ambos a fazerem as atividades, mas sente que os dois não têm o mesmo aprendizado que teriam na escola. “Por mais que a gente fique estimulando em casa, não é a mesma coisa feita por profissionais especializados”, declarou.
A situação é semelhante para os filhos de Marianna Jácome, Leo, de 6 anos, e Davi, de 3. Entretanto, a família de Marianna também precisa lidar com a dificuldade de trabalhar fora de casa e cuidar dos filhos pequenos. O pai dos garotos é dentista e retornou às atividades de consultório. Marianna, que administra o consultório do marido, precisa dividir o home-office com atividades domésticas. “Precisamos nos desdobrar porque não dá para trabalhar e manter a atenção com os meninos. Temos uma funcionária [empregada doméstica] que auxilia, mas ela também precisa cuidar da casa. Tem sido difícil”, disse.
Os filhos de Marianna também não tiveram atividades remotas obrigatórias. Ela chegou a estimulá-los a fazerem as atividades, mas desistiu ao perceber que eles não se adaptaram. Com formação em Pedagogia, ela se preocupou quanto a isso desde o início por causa da superexposição deles à tela dos computadores. “Eu tento desde o nascimento do meu filho mais velho controlar esse tempo que ele passa na tela porque sei que isso é prejudicial, e de repente na pandemia havia essa opção de deixar superexpostos. Eu agradeci muito por não ser obrigatório porque iria contra tudo que eu havia feito”, relatou.
Marianna Jácome aponta dificuldades de trabalhar fora e monitorar atividades dos filhos
Mesmo entre os familiares com filhos que se adaptaram ao ensino remoto, é possível encontrar os que defendem o retorno das aulas presenciais o quanto antes. Kallina Flôr e Carlos Kelsen são pais de duas crianças, Carlos Eduardo, 11 anos, e Carolina, 8. Ambos estão no Ensino Fundamental e, para os pais, o ensino remoto “têm sido proveitoso”, mas ainda limitado. “O ensino presencial proporciona uma maior visão dos professores acerca da compreensão dos alunos aos conteúdos aprendidos e também um maior controle da participação dos mesmos às aulas”, declarou o casal.
Ambiente escolar é importante, diz psicóloga

Para a psicóloga e pesquisadora em desenvolvimento infanto-juvenil, Isadora Silvestre, a escola cumpre um papel importante no desenvolvimento de crianças e jovens porque estimula, dentre outras coisas, a interação social. Entretanto, para ela, o retorno das aulas presenciais não é garantia do fim de um período de estresse e ansiedade.
Entre os benefícios do ambiente escolar está a facilitação da assimilação da linguagem e das regras sociais, por exemplo. “A criança também pode aprender isso fora da escola, mas dentro da escola o desenvolvimento é mais fácil. É na escola que a criança começa a ter mais contato com outras pessoas além da família e a aprender que o comportamento da sala de aula precisa ser diferente do comportamento de casa ou no recreio. Ela começa a assimilar regras sociais”, disse.
Ao ser questionada sobre o aumento da ansiedade entre crianças e adolescentes no período de isolamento, Silvestre afirmou que esse período é estressante para adultos e crianças porque o período está relacionado ao tédio, à falta de novidade. Entretanto, ela também disse que o retorno à escola pode ser um fato gerador de estresse. “Cada criança tem um funcionamento específico. Cabe aos pais entenderem de onde vem a ansiedade: se vem do medo da Covid-19, se é o tédio”, apontou.
“É possível que as aulas tenham um efeito reverso para algumas crianças, aumentando o estresse e ansiedade. Por isso é importante que os pais estejam atentos e que exista uma equipe pedagógica nas escolas que façam o acompanhamento dessa situação. E também é importante que os pais procurem uma ajuda profissional se as crianças permanecerem com esses sinais de ansiedade”, declarou a psicóloga.
Tanto a família de Marília Bittencourt, quanto Marianna Jácome e Kallina Flôr afirmaram que confiam nas escolas onde os filhos estão matriculados e no protocolo apresentado. “Fomos chamados para uma reunião, onde apresentaram o plano. Eu tenho plena confiança que o retorno vai ser seguro e com todos os cuidados”, afirmou Jácome. 
Famílias questionam reabertura de outros setores

As três famílias entrevistadas moram em Natal, onde a curva de novos casos do novo coronavírus apresenta uma redução desde meados de julho. Nesse período, shoppings, centros comerciais e bares voltaram a abrir. As famílias reconhecem os riscos do novo coronavírus, mas consideram que o momento atual da pandemia na capital potiguar permite o retorno das escolas com protocolos de segurança.
Kallina Flôr e o marido, Carlos Kelsen, defendem o retorno das atividades presenciais nas escolas
 Para Marília Bittencourt, as escolas não podem ser as últimas a abrirem diante da abertura de shoppings e bares. “É absurdo abrir shoppings e bares e não abrir as escolas. Sabemos que o risco existe, mas os pais precisam ter o direito de escolher se os filhos devem voltar ou não. O começo de novas rotinas é sempre difícil, sabemos disso, mas tem que começar para haver um adiantamento”, afirmou.
 O “direito de escolher” citado por Bittencourt está relacionado à proposta de abertura das escolas particulares. Os diretores dessas escolas propõem que a abertura seja opcional para os pais poderem levar ou não os filhos. Crianças com doenças que são incluídas no grupo de risco podem continuar com as aulas remotas, segundo a proposta. 
 Essa condição de retorno foi reforçada nesta quinta-feira, 6, pelo membro do comitê formado pelo grupo das escolas particulares para enfrentamento à covid-19, Gustavo Matias, ao ser questionado sobre os riscos da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica. 
A síndrome é uma inflamação que foi observada em crianças do Reino Unido, Estados Unidos, Espanha e França e pode estar relacionada ao novo coronavírus (a relação está em investigação). No Brasil, uma notificação de alerta do Ministério da Saúde foi emitido no dia 20 de julho para Estados e Municípios para ficarem atento. “Recebemos com preocupação, mas os protocolos das escolas são seguros e o retorno não é obrigatório”, disse.
Depois da abertura das atividades econômicas, diretores de escolas particulares citam que os pais passaram a procurá-los para pedir o retorno das atividades presenciais. Algumas escolas fizeram reunião com os pais e palestras virtuais com especialistas para discutir o assunto. Na defesa dos pais, existe segurança no retorno porque as pesquisas científicas mostram que as crianças estão fora do grupo de risco principal. “Verificamos que as crianças têm menos facilidade de contrair a doença do que os adultos; que, ao contrário do que se pensava anteriormente, elas também transmitem menos a doença; e, quando contraem o vírus, em sua maioria, possuem a forma mais leve”, afirmou Kallina Flôr e o marido, Carlos Kelsen.
Na família do casal, pelo menos três pessoas tiveram o novo coronavírus. Duas delas eram crianças. Eles afirmam que o receio de contrair o vírus existe, mas que “não podemos ficar isolados socialmente dos outros, inclusive de familiares por tempo indeterminado”. “Obviamente sendo adotados os procedimentos de distanciamento, além da utilização de máscaras e álcool gel, que passaram a fazer parte do ‘novo normal’ e que, certamente, perdurarão até que se tenha acesso a uma vacina”, disse o casal.
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