sábado, 20 de abril, 2024
25.1 C
Natal
sábado, 20 de abril, 2024

Escritas femininas

- Publicidade -

Maria Betânia Monteiro – repórter

Das prateleiras recheadas de clássicos da literatura brasileira e universal, poemas, ensaios filosóficos e teorias psicanalíticas, nasceu um novo vínculo entre a poetisa e colaboradora da TN Carmen Vasconcelos e a estudante de psicologia Carol, também Vasconcelos. Mãe e filha uniram-se pela palavra escrita e lançam hoje, às 19h, na livraria Siciliano do Midway Mall, os livros “O Caos no Corpo”, de Carmen, e “Contos do Mundo Mágico”, de Carol.

A poetisa Carmen Vasconcelos e sua filha Carol uniram-se pela palavra escrita e lançam hoje, na  Siciliano, os livros O Caos no Corpo, e Contos do Mundo Mágico, respectivamenteCom a experiência de dois livros publicados — “Chuva Ácida” e “Destempo” —, Carmen oferece em ‘O Caos no Corpo’, 81 poemas, a maioria inédito. Um deles, “Recusa”, é considerado pela autora o mais representativo da obra. Nele, Carmen diz: “Não tenho cio nem paciência/ para versos que não se fincam/ poesia sem surpresa ou milagre/ frases feitas de acanhamento/ Recuo a palavra opaca/ tensa de medo e recuos/ palavra que não dá sustento/ Em poesia ponho pão e vinho/ carne, transubstanciação/ pois tudo falte à palavra/ só não falte o atrevimento”.

O livro traz ainda outros temas, que versam sobre o tempo, a morte, o amor, a existência. “Os poemas falam de coisas da geste”, traduz Carmen. O Caos no Corpo está dividido em cinco partes: O Corpo, A Casa, Elogio do Clitóris, Cânticos do Cântico e O Caos (ou a poesia da cidade invisível).

Na primeira parte, a poetisa mescla variados temas que se unem pelo corpo. Em “Avoengo”, ela diz: “Este verbo me habita/ Mas não é carne/ Não é homem/ Não é coisa de aprender”.  Em “Todo Poema é Perjuro” os versos são outros: “Todo poema é perjuro/ todo o poema é corpo/ E o corpo, esse passante…”.

Na parte do livro dedicada a casa, os títulos dos poemas revelam seu desenlace. “O Jardim”, “A Varanda”, “A Sala”, “A Copa”, “A Cozinha”, “O Banheiro”, “O Quarto dos Livros”, “O quarto de Cima”, “O Quarto do Avô”, “A Saleta da Máquina de Costura”, “O Quarto dos Pais”, “O Terraço”, “A despensa” e “O Quintal” são as partes d’A Casa.

Os poemas que compõem Elogio do Clitóris revelam o posicionamento político da autora, em defesa ao direito da integridade do corpo feminino. “Os poemas foram feitos porque extirpação desta parte importante do corpo existe”, disse Cláudia. Na última estrofe de Danaides ela diz: “O clitóris é a única chance de paz/ Daí toda violência jorrar da mutilação/ ânfora com furos por todos os lados”.

Em Cânticos do Cântico, a autora descama uma postura barroca, trazendo versos sobre o amor, que dialogam com a Bíblia. “Eis-me a teus pés, amado/ varada de bênçãos e aleluias/ Coisas profanas me tentam/ inventam outra de mim/ Mas o teu hálito me converte em santa”, ela escreveu.

O livro encerra com O Caos (ou a poesia da cidade invisível). Nesta parte, a autora revela uma cidade real do ponto de vista simbólico: “O silêncio movediço do mar/ traga inconfidências e ofertórios/ mulheres brancas, crianças desveladas/ sereias tontas, plantas à deriva/ barcos degenerados/ devaneios de sargaços, aves em vertigem”, escreve a poetisa no último poema do livro.

Serviço

 “O Caos no Corpo” e “Contos do Mundo Mágico”, de Carmen e Carol Vasconcelos. Hoje, 19h, na Siciliano do Midway. Preço: R$ 20,00 e R$ 25,00.

Das prateleiras nasceu a Carol dos contos

Carol Vasconcelos conta que os livros da prateleira de sua casa não foram os responsáveis pelo lançamento de Contos do Mundo Mágico, mas não duvida que os poemas e os clássicos lançaram sobre ela certo magnetismo fantástico. “Talvez inconscien-temente fui influenciada pela minha mãe . Nossa casa é rodeada de livros”, disse Carol.

O gosto pela escrita surgiu após ter descoberto o prazer pela leitura. “Certa vez vi o trailer de um filme, que estava interessada em assistir. O filme era baseado num livro, quis lê-lo, mas era grosso. Depois de algumas tentativas consegui concluir e desde então não parei de ler”, conta.

Antes disso, a leitura era apenas obrigação de escola e a escrita, um passatempo descomprometido. “Escrevia por brincadeira. Porque gostava de contar histórias”, disse. Não sabia ela que é assim que nascem os escritores; por acaso.

Embevecida pelas florestas frias da Irlanda e por suas histórias de gnomos, fadas e outras criaturas fantásticas, Carol inicia sua carreira como escritora. Apaixonada pelo tema, ela lança em Contos do Mundo Mágico, seis histórias. Sendo que as quatro iniciais são episódios decorrentes da primeira, intitulada “Os gnomos da floresta”. “Sempre adorei estes seres encartados. Vejo isso como uma forma de encarar o mundo real numa perspectiva diferente”, disse Carol, que também é responsável pelas ilustrações.

Com uma linguagem simples, a autora costura os textos a partir de “cenas” curiosas, que vão chegando uma atrás da outra, sem que o leitor tenha tempo de manifestar a surpresa. Esta forma enérgica de contar suas histórias garante uma leitura sem interrupções, mas não descarta a possibilidade de uma pausa para uma viagem pelos cenários propostos.

Carol explica que “Os gnomos da floresta” foi um conto escrito na infância, mas que foi revisado recebendo novas frases e nova textura. “O conto trata de seres encantados, fadas e da relação de uma criança com a natureza e esses seres”, antecipou a autora. A partir dele surgiram ‘A cidade das fadas’, ‘O segredo das sereias’ e ‘O Gobin’.

No quinto conto da obra, “O casarão assombrado de Wepsteps”, a autora rompe com a linha anterior e no lugar das criaturas da floresta apresenta os fantasmas como seres fantásticos.

O sexto e último conto, “A Floresta”, é dividido em seis capítulos e conta a história de sete crianças, amigas da escola, que caem por acaso num mundo encantado. Inicialmente elas desejam sair deste novo mundo, mas se deparam com a resistência de um dos personagens e seres encantados. As intenções das criaturinhas ficam entre ajudar e atrapalhar o retorno.

A escritora revela que já tem um segundo livro pronto e um terceiro sendo escrito. E em todos eles, a temática dos seres encantados permanece. O lançamento das outras obras ainda não tem data determinada.

Trecho do conto “A floresta”, de carol

“A poeira se espalhava no ar e quanto mais Helena colocava coisas dentro das caixas, mais coisas pareciam estar fora delas. O sol parecia se pôr mais rápido naquele dia em Cidade dos Anjos. Helena ouviu sua mãe gritar seu nome. Ela olhou pela janela do sótão e a luz iluminou seus olhos azuis. Viu um carro parado à frente da porta. Desceu correndo e foi até a sala seguida por seu cachorro, Miolo, um beagle muito esperto que não saia dos pés de sua dona. Uma mulher alta de longos cabelos castanhos estava sentada e, ao seu lado, estava um garoto de olhos claros e cabelos castanhos que, por pouco, não chegavam aos seus ombros”.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas