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Especial Aluízio Alves – Energia de Paulo Afonso: uma luta de 13 anos

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Em abril de 1963, ao lado do presidente João Goulart,  Aluízio Alves inaugura a primeira etapa da linha de transmissão da Chesf no Rio Grande do NorteUma das maiores realizações do governo de Aluízio Alves, na década de 60, foi o coroamento de uma luta que já se estendia por mais de uma década: a inclusão do Rio Grande do Norte no plano de fornecimento de energia elétrica aos Estados pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf).

A Chesf foi criada em 1948, com o término da construção da usina de Paulo Afonso no rio São Francisco, mas o fornecimento  de energia excluía os Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Naquele mesmo ano, da tribuna da Câmara Federal, o então deputado Aluízio Alves fez um protesto pela discriminação que estava prestes a ser praticada. A Chesf e o governo federal justificavam a exclusão dos três Estados pela distância que teria de ser pecorrida pelas linhas de transmissão – cerca de 500 km no caso potiguar – tornando o fornecimento difícil, do ponto de vista técnico, e inviável economicamente. As bancadas (PSD/PTB) que apoiavam o governo JK, no Congresso, aceitavam essa justificativa.

No RN, Aluízio iniciou um movimento em defesa da expansão do fornecimento da “energia de Paulo Afonso”. O PSD local ficou contra. Na Câmara, sem o apoio da bancada potiguar, apresentou um projeto que abria crédito especial de 200 contos de reis para a elaboração de um plano técnico de expansão do fornecimento para os três Estados. Sem apoio político, o projeto passou meses de uma comissão a outra. Em 1950, com a candidatura de Getúlio Vargas à presidência da República, Aluízio forçou um encontro com ele em Fortaleza (Ceará), na casa Edgar de Arruda, para convencê-lo do erro que seria cometido. Café Filho, candidato a vice-presidente, não quis se envolver, prometendo apoio apenas se conseguisse se eleger.

Getúlio recebeu Aluízio, ouviu os argumentos dele, prometeu se pronunciar sobre o assunto, mas não deu uma palavra nem no discurso que fez em Fortaleza, nem em Mossoró e tampouco em Natal. A luta parecia perdida, mas finalmente o crédito para o estudo técnico da expansão acabou aprovado na Câmara Federal. Aluízio fez nova proposta: apresentou duas alternativas para fornecer energia elétrica ao Rio Grande do Norte. Uma linha através do Cariri, até Mossoró; outra linha, Paraíba/Natal. Entrementes, Getúlio e Café Filho foram eleitos, respectivamente, presidente e vice. Café convocou a bancada e sugeriu a criação da “Companhia Eletrificadora do Nordeste”, com subscrições financeiras de líderes políticos e empresariais. O professor Ulisses de Góis seria o secretário geral. A idéia, no entanto, não saiu do papel. No Congresso, os projetos de Aluízio sofriam oposição, mas andavam… até que, preste a receberem a aprovação final do então presidente Café Filho (ele havia assumido o cargo em agosto de 1954, com o suicídio de Getúlio Vargas), explicou que não poderia assiná-los porque seria acusado de “favoritismo” ao estado natal.

Em junho de 1956 (dia 21, uma segunda feira), Aluízio fez na Escola Técnica do Comércio, em Natal, uma palestra sobre a viabilidade técnica do projeto de energia de Paulo Afonso para o RN e a necessidade de uma grande campanha popular para defender a idéia. O  governador Sílvio Pedroza presidiu a reunião e apoiou o projeto. O jornal Diário de Natal, no dia seguinte, saiu com um editorial contra. O título: “Um sonho de mil e uma noites”. Aluízio foi ao DN, argumentou, convenceu. Dias depois, em outro editorial, o jornal passou a apoiar o projeto. Mais tarde, voltaria a ser contra novamente.

Aluízio Alves lutou durante 13 anos para mudar essa situação, só vindo a conseguir a inserção dos três Estados em 1960. Em 1963, como governador do RN, criou, pela lei 2.721, de 14 de setembro de 1961, a Cosern – Companhia de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte, que implantou a energia de Paulo Afonso no território norte-rio-grandense, iniciando uma grande obra de infra-estrutura para o desenvolvimento industrial e, mais tarde, agroindustrial. A primeira linha de transmissão, inaugurada em 2 de abril de 1963, em Santa Cruz, teve a presença do presidente João Goulart.

A partir de então, diversas cidades passaram a contar com a energia de Paulo Afonso (Taipu, Currais Novos, Acari, etc.). O custo total do plano de eletrificação atingiu a cifra de Cr$ 2.283 milhões. Para que se possa ter uma idéia do significado da obra realizada, é suficiente dizer que, em 1960, 14% da população se beneficiava dos serviços elétricos. Em 1965, 39% da população recebiam os benefícios da energia elétrica.

Um monsenhor no Palácio da Esperança

Na campanha para a escolha de seu sucessor no governo do Rio Grande do Norte, Aluízio Alves travou uma luta acirrada com  Dinarte Mariz, que concorria  ao cargo pela coligação UDN-PR. Seu candidato, o vice-governador Walfredo Gurgel, apoiado pelo PTB, PSD e PDC, derrotou Dinarte Mariz no pleito de outubro de 1965.

Mesmo com o leal desempenho do monsenhor Walfredo Gurgel como vice-governador e presidente da Assembléia Legislativa, nos anos 1961 e 1962, quando Aluízio era minoria parlamentar, o nome do religioso não havia sido cogitado para suceder Aluízio. Sondando-o, Manoel de Brito dissera ao governador que ele jamais aceitaria. Embora, depois, o senador Wilson Gonçalves, seu maior amigo no Senado, tenha dito que ele teria ficado inteiramente frustrado se não tivesse saído candidato.

Inconformada, a facção derrotada nas urnas interpôs recurso na Justiça Eleitoral, mas o resultado foi confirmado. Em seguida, membros de secretariado do governador foram envolvidos em um Inquérito Policial Militar – IPM instaurado para apurar um atentado contra o comandante da Base Aérea de Natal. Aluízio Alves, deslocou-se então para o Rio de Janeiro e depois de alcançar uma solução para o problema em negociações com o ministros da Justiça, Juraci Magalhães e da Aeronáutica, Eduardo Gomes, declarou retornar ao  Rio Grande do Norte sem temer a prisão, acusando seus adversários de distorcer as finalidades do IPM  com objetivos políticos. Deixou o governo no dia 31 de janeiro de 1966, passando-o a seu sucessor Walfredo Gurgel.

Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2, de 27 de outubro e a posterior instauração do bipartidarismo, Aluízio Alves filiou-se à agremiação governista, a Aliança Renovadora Nacional – Arena, em cuja legenda foi eleito deputado federal em novembro de 1966. Foi empossado em fevereiro de 1967.

Em abril do mesmo ano, começaram a se delinear alguns problemas no interior da Arena. No plano local, Aluízio Alves precisava alinhavar um acordo que levasse o monsenhor Walfredo Gurgel para o Movimento Democrático Brasileiro – MDB, pois seu adversário, Dinarte Mariz tinha  o controle da Arena. O monsenhor não aceitou e a solução apresentada por Aluizio Alves foi  dividir o diretório da Arena ao meio.

O monsenhor foi a Brasília e voltou, pelo Rio, com a fórmula aceita, depois de combinada a escolha comum de Jessé Freire para a presidência do Diretório Estadual. Assim nasceram e viveram, até 1969, no Rio Grande do Norte, a Arena Verde e a Arena  Vermelha, popularmente conhecidas pelas cores usadas na campanha de 1960. No plano nacional também surgiam problemas.

Nessa ocasião, Aluízio Alves liderou um movimento dentro da Arena, tentando dar expressão à rebelião das correntes pessedistas e trabalhistas contra a hegemonia udenista. Sessenta arenistas no Congresso Nacional estavam  interessados na articulação e na formalização da dissidência, que deveria reivindicar a criação da sublegenda, através da qual se tentaria forçar a alteração dos critérios partidários na seleção dos lideranças político-parlamentares.

Aluízio Alves afirmou, na época, que mesmo alguns políticos da extinta UDN sentiam-se oprimidos e descontentes. Para melhor oficializar sua posição e a dos companheiros, redigiu um manifesto e incumbiu-se de recolher assinaturas na esperança de alcançar 80 adesões. Desenrolou-se uma vigorosa  contra-articulação para impedir a assinatura dos deputados. Senadores e outros dirigentes estaduais foram convocados a fazer apelos a seus correligionários e, alguns deles, que já haviam subscrito o documento, cancelaram a assinatura. A discussão da lei da sublegenda arrastou-se até abril de 1968, quando, finalmente foi aprovada.

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