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Especialista mostra como a economia criativa pode transformar cidades

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Ramon Ribeiro
Repórter

“A Economia Criativa não é um adjetivo qualquer, é o paradigma econômico do nosso século”, assim enxerga a administradora pública, economista e urbanista  Ana Carla Fonseca. Diretora da Garimpo de Soluções, empresa pioneira na atuação em economia criativa, cultura, cidades e futuro do trabalho, ela está em Natal para palestrar sobre esse tema urgente e global no 1º Seminário Audiovisual e Mercado, que começa nesta terça-feira (24) e vai até o sábado (28), com programação entre o Sebrae-RN (Lagoa Nova) e o Teatro de Cultura Popular (Tirol).

Economista mostra como as culturas locais são os grandes bastiões das singularidades das economias


Economista mostra como as culturas locais são os grandes bastiões das singularidades das
economias

Autora premiada com o Prêmio Jabuti em Economia e finalista em Urbanismo, vencedora do Prêmio Claudia e apontada pelo jornal El País como uma das oito personalidades brasileiras que impressionam o mundo, Ana Carla Fonseca conversou com a TRIBUNA DO NORTE sobre alguns pontos que tangenciam o debate sobre Economia Criativa. Confira a entrevista.

O quanto a indústria do audiovisual tem potencial de movimentar a economia de uma cidade?
Existem inúmeros casos de cidades que se converteram em pólos de audiovisual por diferentes vertentes – ai colocando audiovisual e digital juntos, já que cada vez mais é uma fronteira fluida. Em Buenos Aires, por exemplo, há o Distrito do Audiovisual, um lugar construído de forma bastante orgânica, num conjunto da cidade que abrange diferentes bairros que tinha muitos imóveis vacantes. O Estado percebeu que aquele movimento [audiovisual] existia e passou a impulsionar nos gargalos, provendo o que fosse necessário, desde incentivando a instalação de empresas de serviços acessórios, até facilitando concessões para filmagens em espaços públicos. Você vê aí uma relação em que a cidade se enriquece em vários aspectos, como social, porque há uma cadeia que abrange todo um leque de profissionais. Mas há também impactos econômicos, culturais, impactos de projeção de imagem da cidade, como é o caso de Los Angeles, um outro exemplo que pode ser citado. E o mais bonito dessa relação é que não há uma receita de bolo.

Gostaria que você falasse um pouco sobre o conceito de Cidade Criativa. Que elementos fazem uma cidade ser vista assim, como criativa?
Há três características comuns a uma cidade que se pretende criativa. A primeira é a inovação, é a capacidade que cada cidade tem de se reinventar, de vencer seus desafios. A segunda característica são as conexões. Aqui entra a trajetória de cada cidade, as conexões entre público e privado, sociedade civil, conexões entre áreas da cidade, a circulação das pessoas. A terceira característica é a cultura, mas não só cultura como linguagem artística, mas como espírito da cidade, pique da cidade, como vibe da cidade, como algo quase sinestésico. É a sensação que vem quando você pensa em Natal, que é diferente de quando você pensa em Belo Horizonte, por exemplo. Pensar essas características  é super importante.

Num contexto de globalização onde culturas locais muitas vezes têm dificuldade de se fazerem visíveis e de se sustentarem financeiramente, como a ideia de economia criativa poderia ajudar?
A partir do momento que você catapulta a globalização com as tecnologias digitais você faz com que ativos econômicos, como ciência e tecnologia, circulem com bastante fluidez pelo mundo. De fato alguns países investem mais em ciência e tecnologia, como China e Coréia do Sul. Mas o ativo econômico que passa a ser mais diferencial é aquele que tem valor agregado, que não é facilmente copiável, que não consegue ser transposto de um contexto a outro em escala. E as culturas locais são os grandes bastiões das singularidades das economias. As artes e culturas são essas questões não copiáveis. Isso é muito interessante, porque num mundo globalizado os produtos e serviços tendem a ser muito parecidos, basta ver as etiquetas de roupa, as fórmulas de detergente, os serviços bancários, todos muito parecidos. Ao meu ver, o bom mix é aquele que reúne tudo, arte, cultura, ciência e tecnologia, porque assim você gera simbioses.

Então no contexto de globalização as culturas locais surgem como diferencial?
Ao meu ver, a economia criativa não só se beneficia desses saberes e manifestações culturais locais, mas também essas manifestações culturais locais tem um outro valor que passa a ser reconhecido a partir da lógica da globalização, porque pra toda ação há uma reação, e as pessoas, dentro dessa sopa global, desse grande conjunto onde tudo parece ser estatística e parecido, passam a procurar o que é diferente. Você sempre vai ter o turismo padronizado que acaba com as dunas, que é predatório, mas você, cada vez mais, em especial nas novas gerações, percebe que o que mais tem se valorizado quando se sai de férias é a experiência cultural única. Tem vários estudos sobre esse dado. E isso é uma excelente notícia para as culturas locais.

Ana, você estuda a Economia Criativa há vários anos. Para você, houve avanço significativo nas discussões sobre o tema no país Os gestores públicos e a iniciativa privada já reconhecem a Economia Criativa como potencial de negócio?

Eu acho que o setor privado, em geral, tende a ser mais aberto ao tema, até porque sente o impacto nos negócios. É um setor que tem buscado inovar, correr atrás do prejuízo, se atualizar por meio de novas tecnologias. Um caso concreto é a cadeia produtiva da moda, da indústria têxtil, das confecções, que é a segunda maior empregadora do Brasil, sendo a maior empregadora de mão-de-obra feminina. A partir do momento que a cadeia de confecções, muito combalida por questões de globalização e concorrência, traz na ponta um setor pujante e arrojado, como é o da moda, você consegue incutir um novo dinamismo, você faz com que haja um efeito multiplicador de demanda por inovação em toda a cadeia. É um exemplo de indústria que vem se favorecendo da economia criativa e vem reconhecendo isso. Nos últimos 15 anos eu venho vivenciando esses “vai-e-vens” em diferentes contextos nacionais e locais. É um processo mais lento do que gostaríamos, até por um inconstância de políticas públicas, muito em especial no contexto federal. Mas eu cada vez mais defendo que a gente deva atuar localmente. E a partir da conjunção dos vários locais a gente faça a diferença macro. Acho isso muito saudável.
Programação

Terça – 24/SET | SEBRAE/RN
19h: Abertura e boas vindas  Keila Sena (Goiamum Audiovisual) e João Hélio (Sebrae/RN) 19h30: Palestra “Audiovisual, economia criativa e cidades: aliados em busca de um futuro” Ana Carla Fonseca Reis – SP (Garimpo Soluções)   

Quarta – 25/SET | SEBRAE/RN
14h: Panorama do Audiovisual Potiguar | Ruy Rocha (Especialização em Doc /UFRN), Keila Sena (Goiamum Audiovisual), Márcia Lohs (Caboré Audiovisual), Dênia Cruz (Prisma Filmes), Raildon Lucena (Curta Caicó) e Mary Land Brito (Cinemateca Potiguar) [ATIVIDADE GRATUITA] 16h: Mesa “Políticas públicas para o audiovisual” | Representantes da Fundação José Augusto – FJA e Fundação Cultural Capitania das Artes – Funcarte [ATIVIDADE GRATUITA] 19h: Mesa “Co-produção” | Fernanda Alves – RJ (FM Produções e Pé na Estrada Filmes) e Carlos Segundo – RN (O Sopro do Tempo)

Quinta – 26/SET | SEBRAE/RN
9h às 12h: Oficina “O direito na cadeia produtiva audiovisual” | Paula Tupinambá – RJ (Pougy e Tupinambá Advogados Associados) 14h: Mesa “Distribuição” | Frederico Machado – MA (Lume Distribuidora) e Isabelle Cabral – RJ (Pipa Produções) 16h: Palestra “Os benefícios trazidos pelas Film Commissions” | André Faria – RJ (Rede Brasileira de Film Commissions)

Quinta  – 26/SET | TEATRO DE CULTURA POPULAR CHICO DANIEL
19h30: Painel “Produzindo no Nordeste do Brasil” | João Vieira Jr. – PE (Carnaval Filmes) [ATIVIDADE GRATUITA] 21h: Exibição do longa “Estou me guardando pra quando o carnaval chegar”, dir. Marcelo Gomes – PE (Carnaval Filmes). [ATIVIDADE GRATUITA]

Sexta –  27/SET | SEBRAE/RN
9h às 12h: Oficina “O direito na cadeia produtiva audiovisual” | Paula Tupinambá – RJ (Pougy e Tupinambá Advogados Associados) 14h: Painel “Mercado e formatos de negócios” | Daniela Fernandes – BA (Nordeste Lab e Dimas – Divisão de Meios Audiovisuais)

16h: Painel “Seguro para produções audiovisuais” | Renata Rigo – RJ (Seguradora Chubb) 19h: Painel “Mercado independente: produtoras e programadoras” | Ramiro Azevedo – RS (Box Brasil)

Sábado – 28/SET | SEBRAE/RN
10h30 às 12h: Workshop “Como vender você e seu projeto para um pitching” | Bárbara Sturm – SP (Elo Company) 14h às 18h30: Workshop “Como vender você e seu projeto para um pitching” | Bárbara Sturm – SP (Elo Company)

Sábado – 28/SET | TEATRO DE CULTURA POPULAR CHICO DANIEL
19h: Bate papo “O som direto no cinema brasileiro” + Lançamento do livro “O som direto no cinema brasileiro: fragmentos de uma história” | Márcio Câmara – CE [ATIVIDADE GRATUITA] Obs.: Para participar das atividades oferecidas gratuitamente em nossa programação não é necessário realizar inscrição prévia, basta chegar.

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