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Esses dias…

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Vicente Serejo
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Não tenho posto os olhos na estante dos poetas modernistas. Pra quê macular os verdadeiros modernos se viramos modernosos da pior maneira que se pode ser? Ora, se já vivemos tempos de homens partidos, como no poema de Carlos Drummond de Andrade, não é justo acreditar nessa urgência oficial. Urgência de quê? Um tempo sujo assim, feito de pobres novidades, não pode ser entregue ao barato dos queixumes. É preciso resistir. Ali, entre a palavra dita e o silêncio mudo.   
E se a nós outros não restou o poder, que não nos falte a palavra. Incomoda, muitas vezes e, por vezes, também fere como um punhal. Que Diabo, querem levar o que eles sequer manejam na esgrima das lutas? Fiquemos com a palavra. É o que sempre tivemos. Há a velha ameaça de nova censura. A censura é velha e sabe que a palavra é matreira. Foge das baionetas e cai nos ouvidos das gentes. A censura pensa que não, mas é asquerosa. Sempre acaba suja do nojo coletivo. Sempre.
Dos espetáculos encenados pelo pelotão que tomou conta das instituições culturais, desde o Ministério da Cultura trucidado pelo governo, à Fundação Nacional de Arte, Funarte, e a Biblioteca Nacional, nada tem sido mais enojador do que as agressões aos artistas e escritores do Brasil. Para não chegar à louca declaração de um deles que culpa os Beatles pela degradação moral da juventude através do rock ou, pior, que a escravidão foi benéfica aos descendentes de pais e mães escravos. 
O obscurantismo tem fases, mas é revelador da baixa cultura – se é que há – dos que fazem das armas o melhor instrumento para pensar o mundo. Parece que vivemos, ao avesso, um trágico rito de passagem. Do ruim para o pior ou muito pior. Não há referência na história dos períodos ditatoriais no Brasil do que se assiste hoje, agora. Os do passado não gostavam da democracia e assumiam o desgosto trágico. Agora, tudo se faz em nome da democracia e dos bons costumes.
A ditadura militar apostou na censura e acabou caindo de podre. Não aprendeu sequer o maneirismo da Ditadura Vargas que jogou no cárcere Graciliano Ramos e criou o famigerado Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, mas, ao mesmo tempo, acenava para a inteligência prestigiando Gustavo Capanema, ministro da educação, ele que tinha como seu chefe de gabinete o poeta Carlos Drummond de Andrade e auxiliares do porte de Lúcio Costa e Mário de Andrade.
Não há outro jeito para quem abre os jornais – e ainda tenho esse velho hábito – a não ser cair na desgastada e ensebada conclusão de que estamos fritos. E fritos no azeite da intolerância que se imaginava só ferver nas caldeiras infernais. Gostemos ou não de Chico Buarque, um gênio da raça, desta vez é para valer: querem proibir os sonhos. E não há canção mais terrível e mais sombria do que o tropel das cruzadas morais. Elas escondem o horror, entre os cascos e as ferraduras. Voilá!
PALCO

TIRO – É dura a mensagem oficial do sindicato dos servidores veiculada no rádio, cobrando uma posição da governadora Fátima Bezerra e toda sua história política sempre ligada às lutas sindicais.

ILEGAL – A crítica mais contundente denuncia a postura da governadora que, no poder, afirmam os sindicalistas, vai à Justiça pedir a decretação da ilegalidade da greve, aquilo que mais condenou.

JOGO – Não é menos bruta a tacada da governadora ao jogar nos braços da Assembléia a culpa de não aprovar a solução legal para garantir o crédito para pagar aos servidores. Bastaria um decreto.

EFEITO – A manha foi revelada pelo deputado José Dias. Ele mostrou como o Legislativo anda escancarado e sem trava, prostrado à servidão. De casa do povo virou área de serviço do governo.
MACAÍBA – Os cronistas de Macaíba estão agora reunidos no livro “A Macaíba de Cada Um”, da Editora Z, que será lançado sábado, amanhã, 19h, na Casa de Cultura de Macaíba, em noite de festa.

MEMÓRIA – O livro é da Editora Z, de Osair Vasconcelos, filho legítimo daquela vila, a Flor do Jundiaí. Parceria com a Academia Macaibense de Letras. É a cidade que está ali, viva e pulsante.

BRUTAL – A Câmara e o Senado temem a aprovação do excludente de ilicitude para garantir a impunidade à violência policial. O Massacre de Paraisópolis revelou o que é incentivar a violência.

PERIGO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, vendo hoje o secretário Fernando Mineiro defendendo o governo: “Paris é um perigo. Lambuza o juízo de quem nunca come mel”.  

CAMARIM
CORAGEM – Sejamos justos com o camarada Antenor Roberto: ele é corajoso. Sabe, até por sua boa formação intelectual, que a igualdade racial é conquista que nasce das lutas sociais e nas ruas, e não por portaria oficial. Como a legalização do próprio PC do B, do qual, hoje, é seu dono no RN.

AINDA – Antenor sabe, também, que o PC do B sempre desejou o poder, o que é legítimo e natural na política. Por isso abraçou o reformismo com a altivez dos heróis de remarcação, o que tem sido típico no Brasil. E desde quando a pobre esquerda brasileira perdeu a tradição do PCB, hoje morto.  

ALIÁS – Ninguém joga o jogo do poder sem fazer parte orgânica de suas ambições e artimanhas. Nem o próprio PCB histórico. Luís Carlos Prestes aliou-se a Getúlio e, no entanto, foi o próprio Vargas que entregou Olga Benário, a sua mulher, então grávida, nas mãos de Hitler. Um horror.

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