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“Está muito difícil revelar talentos aqui em Natal”

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» entrevista » Breno Cabral – professor de Educação Física e técnico de vôlei

Buscando se adequar cada vez mais aos novos tempos, a Federação Internacional de Voleibol (FIV) promoveu novas alterações no esporte. Foi  diminuída a pontuação necessária para vencer um set e modificado ainda o processo de alterações de atletas, bem como foi reduzido o tempo limite para que o jogador possa recolar a bola em jogo. Segundo Breno Cabral, as modificações que parecem discretas, provocarão uma grande alteração nas partidas. O objetivo dessas alterações é diminuir o tempo de jogo para que o esporte continue sendo atrativo para as televisões. O técnico com um vasto currículo de conquistas no vôlei potiguar e no trabalho de revelação de novos valores, pintou um quadro negro para área, chamando a atenção que a juventude potiguar se encontra descompromissada com as questões esportivas e isso foi uma das causas que o fez desistir desse trabalho de formação. A entrevista concedida por Breno Cabral a TRIBUNA do NORTE também está disponível em vídeo na TNOnline (www.tribunadonorte.com.br)
Breno Cabral é formado em Educação Física pela Universidade de Campinas e desenvolve um projeto social junto com treinador da seleção brasileira de vôlei masculino, Bernardinho, em Natal
O Voleibol é o esporte que a partir do surgimento com força, nos anos 80, vem se adaptando bem e sabendo trabalhar com as tecnologias de massa. Me explica como é isso?
O voleibol foi obrigado a passar por modificação para se enquadrar na grade das grandes emissoras de TV. Antes as partidas bem disputadas chegavam a ter duração de cinco horas, o que inviabilizava a transmissão. Então para se tornar um esporte televisivo e atingir cada vez mais um número maior de pessoas, ele foi obrigado a se modernizar, diria que até se reinventar uma vez que sofreu modificações profundas.

Antes realmente havia a necessidade de se confirmar os pontos e essa questão da vantagem entre os pontos foi a modificação mais radical?
Realmente antes a equipe tinha a necessidade de derrubar a bola na quadra adversária duas vezes para poder marcar o ponto. Ou seja só quem marcava ponto era o time que tinha o saque o outro era obrigado a tomar o saque, no caso a vantagem, para depois marcar. Os sets eram mais curtos em termos de pontuação: 15 pontos, mas esse artifício tornava a partida muito longa. Teve um Brasil e Rússia com duração de cinco horas e isso se tornava um espetáculo cansativo, inclusive para os torcedores.

Hoje as modificações tornaram a partida mais dinâmica em sua opinião?

Tornou sim, outra coisa, com a questão de que toda bola vale ponto, isso auxiliou no desenvolvimento de novas técnicas e diminuição no número de erros das equipes, pois qualquer bobeada ela estará dando um ponto para o adversário. Antigamente um erro não significava muita coisa, justamente pela chance de recuperação da vantagem na jogada seguinte. Os contra-ataques hoje estão muito mais mortais, os times cada vez se preparam mais para aniquilar o adversário sem dar a menor chance. O voleibol masculino se transformou num esporte de muita potência e velocidade, quase não dá para ver mais as bolas devido a preparação dos atletas.

Mas como serão essas modificações no jogo mesmo? O que o torcedor poderá notar de diferente já a partir da Liga Nacional de vôlei?

Serão quatro mudanças. A primeira delas é a redução do tempo técnico de dois para um. Ou seja, cada treinador terá direito a pedir tempo apenas uma vez. Os dois chamados de intervalo da TV continuam. A pontuação de cada set também será reduzida, deixará de ser 25 pontos para ser fechado quando um time fizer 21, desde que obtenha vantagem de dois pontos em relação ao adversário no final. Se empatar em 20 a 20, a melhor de dois pontos continua. O saque, para evitar a catimba, a partir do apito do árbitro o atleta terá 10 segundos para repor a bola em jogo. A última será a substituição que passará a ser feita de forma mais ágil, essa é muito interessante, os jogadores não irão precisar pedir e levantar as placas com números dos substituídos.

Essas novas regras terão um peso muito grande no desenrolar de uma partida?
Vão sim, só em tirar quatro pontos de cada set, num jogo de três sets haverá uma redução de no mínimo 12 pontos jogados. Com os jogadores cada vez mais preparados quando eles já estão aquecidos dentro de uma partida, esses pontos demoram mais a ocorrer, o número de ralis aumenta e a medida será suficiente para reduzir a duração dos jogos. Na questão da substituição também havia muita embromação e um sujeito poderia tomar um tempo considerável realizando o antijogo, até 30 segundos. A redução no tempo permitido para realização do saque também vai reduzir um pouco a catimba. Quem acompanha o vôlei sabe o que se faz naquele período de tempo que se tinha para colocar a bola em jogo. Tudo está sendo feito para tornar a confronto mais ágil.
O projeto desenvolvido por Breno e Bernardinho visa dar oportunidade a crianças de comunidades carentes e buscar a formação de novos talentos
Mas o vôlei é um esporte que permite muita catimba?
Eu já vi treinador, que prefiro não divulgar nome, aqui nos jogos escolares do RN, ter a vantagem do saque para fechar a partida e pedir tempo apenas para mergulhar e encharcar a bola dentro de um balde d’água. Resultado: ele conseguiu dar mais peso a bola e fechou o jogo no saque, uma vez que a bola desceu mais rápido na quadra do adversário. Na Liga Mundial, como o material das bolas hoje é impermeável, porém é escorregadio, já vi os brasileiros reclamando que na hora do saque os argentinos esfregavam as bolas na camisa suada apenas para deixá-la molhada, tornar mais escorregadia ainda e prejudicar a recepção do lado do Brasil.

Falar em Brasil, nós fomos derrotados novamente pela Rússia numa final. Isso significa muita coisa?
Não, não significa muito porque o Brasil está passando por um processo de renovação muito grande em sua equipe. Bernardinho está iniciando um novo ciclo olímpico, o grupo é muito novo ainda e também sentiu falta de alguns jogadores experientes e que, no momento, não estão em condições de atuar. Caso de Murilo, por exemplo. Os sets também foram muito apertados. E a Rússia realmente está bem melhor preparada e um patamar acima das demais seleções. Eles possuem jogadores fantásticos. Apesar de tudo o vôlei brasileiro ainda é muito respeitado, tanto no masculino, quanto no feminino, temos um nível altíssimo.

Nós revelamos a Virna, a última representante potiguar na Seleção Brasileira. Temos a Amanda Juliana jogando no time Rio de Janeiro, mas paramos por ai. Está muito difícil se revelar novas atletas no RN?
Está. Uma atleta para chegar a um nível de ser convocada para  Seleção Brasileira tem que colocar isso como um projeto de vida e se dedicar desde de muito menina renunciando a várias coisas. Mas uma das coisas que me desmotivou a trabalhar na revelação de atletas foi o modelo de vida da juventude atual. Natal hoje é uma cidade grande, com muitas oportunidades de diversão. Antes quando se pegava uma van para colocar um grupo de meninas ou meninos dentro e levar para uma competição em Fortaleza, isso valia o mesmo que uma festa. Hoje se fizermos isso, as desculpas para não ir são as mais variadas possíveis.

Mas a situação chegou a esse ponto?
Como disse tem de haver dedicação. Veja o caso da Amanda Juliana, ela foi uma atleta que os pais vieram me procurar no Volley Club pedindo uma oportunidade para garota. Vinha todos os dias de Touros, a 100 Km de Natal, apenas para treinar. Me emocionava em ver a dedicação dessa menina que fez por merecer trabalhar com um técnico como Bernardinho e participar de um grupo campeão como o da equipe do Rio de Janeiro. Amanda foi uma dádiva na minha vida, na vida de Suzet Cabral e na dos país.

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