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Estados Unidos: direita, esquerda e centro

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Ney Lopes
Jornalista, ex-deputado federal e advogado

Verdadeiro “tsunami” político atinge a pré-campanha presidencial dos Estados Unidos, cuja eleição está marcada para 3 de novembro de 2020. O presidente Trump, que não está bem nas pesquisas, responde a “impeachment” na Câmara de Representantes, sob acusação de ter alegado em telefonema, favores do governo americano à Ucrânia e exigido em troca, que o presidente (comediante) ucraniano Volodymyr Zelensky  investigasse a possível pratica de corrupção, de um dos filhos do seu concorrente mais próximo, Joe Biden, no período em que trabalhou na  empresa ucraniana Burisma Holdings.

Nos Estados Unidos nunca ocorreu “impeachment” de um Presidente, embora a possibilidade seja consagrada na Constituição de 1789. Esse procedimento, originário das leis coloniais inglesas, pode ser iniciado nos casos considerados de “traição, suborno, altos delitos ou faltas”.  Como se vê, hipóteses muito subjetivas.

Apenas duas tentativas de impeachments na história americana, com presidentes democratas: Andrew Johnson em 1868 e Bill Clinton, em 1998. Ambos foram aprovados pela Câmara dos Representantes, mas rejeitados no Senado. Em 1974, o Congresso iniciava os preparativos para impeachment do então Presidente Nixon. Ele renunciou, diante do escândalo de Watergate.

Em clima agitado, as atuais “eleições primárias” do Partido Democrata lançam labaredas, que poderão incendiar o capitalismo americano, com pretendentes à Presidência de direita,  centro e até auto intitulados “socialistas”, os quais, se fossem candidatos no Brasil,  já estariam no index como “comunistas”, quando na verdade não são nada disso. Quem admitiria na pátria do capitalismo, alguém afirmar o que disseram o senador democrata Bernie Sanders, 78, e a senadora Elizabeth Warren, 70, condenando às desigualdades de renda, pobreza e condições deploráveis, na nação mais rica da história da humanidade? Ambos usam no discurso político, o último relatório da  OXFAM (organização global que tem como objetivo combater a pobreza), que denuncia 82% do dinheiro gerado em 2018, nas mãos de 1% de pessoas mais ricas do mundo.  Nessa linha, o partido Democrata incorpora ao debate princípios da democracia social, tais como, a redefinição da economia norte-americana, taxação dos “ultra bilionários”, redução do poder das corporações, acesso das mulheres ao aborto e extinção das dívidas dos estudantes universitários com o crédito educativo.

Joe Biden, 76, ex-vice presidente de Obama (visitou Natal na “Copa do Mundo”), coloca-se como o mais próximo adversário de Bernie Sanders e  Elizabeth Warren,  nas prévias dos Democratas, embora pesquisa recente aponte  que Warren ultrapassou  e está à frente, com margem mínima. O “carro chefe” de Biden é a cobertura de saúde dos norte-americanos, com retorno ao “Obamacare” (junção do nome do ex-presidente com “health care”, que significa proteção à saúde). A rigor, não há no país sistema de saúde pública tipo SUS, mas unicamente planos privados.

Trump, que assume claramente posição de ultra direita, suspendeu em 2017, o pagamento de U$ 100 bilhões de dólares, que seriam gastos no “Obamacare”,  beneficiando as classes mais pobres. Ele considerou que era uma desastrosa decisão de Obama e precisava dar alívio real ao contribuinte americano, que paga impostos.

Tocqueville vaticinou que os americanos adoram as mudanças, mas temem as revoluções. O democrata Biden encarna esse ponto de vista. Não toca em mudanças na estrutura principal do poder americano. O seu “grande eleitor” é o ex-presidente Obama, que aglutina 48% da preferencia popular. No partido democrata, 93% dos eleitores das primárias seguem a orientação do ex-presidente.

Neste contexto, a preocupação dos analistas é o crescimento, principalmente entre os jovens, de teses consideradas socialistas (embora não comunistas), tais como, assistência médica universal, faculdade gratuita, combate ao racismo, a discriminação de gênero, sexualidade, medidas drásticas na preservação do meio ambiente, para evitar desastres climáticos e até a Palestina livre.

A grande indagação é sobre qual “país” emergirá das urnas, em 2020. Após o histrionismo e a retórica incandescente  de Trump, a eleição passou a ser duelo raivoso, com o outro lado considerado inimigo e até criminoso.  Em que dará tudo isso? Ninguém poderá prever!

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