sábado, 20 de abril, 2024
28.1 C
Natal
sábado, 20 de abril, 2024

“Este será um ano de dificuldades”

- Publicidade -

Renata Moura – Repórter de economia

Marcos Augusto Teixeira de Carvalho tem 71 anos de idade, a criação de camarão como atividade principal, mas, no sangue, o que carrega desde a infância é a paixão pela agropecuária. Filho de criador de gado, o economista investe há cerca de três décadas no setor e é um entusiasta de ações que garantam o melhoramento genético dos rebanhos. “Investimentos em genética vêm crescendo aqui no Rio Grande do Norte e, sem dúvida, difundir a importância disso continuará sendo foco da minha administração”, diz ele, reeleito esta semana presidente da Associação Norte-Riograndense de Criadores (Anorc), a maior entidade representativa do setor pecuarista do estado. Com mais dois anos de mandato garantido à frente da Associação, ele fala, na entrevista a seguir, sobre planos, desafios e sobre o cenário de dificuldades que tem afetado as fazendas do estado, agravado pela escassez de chuvas, que atinge diretamente o pasto e aumenta os custos de produção. Teixeira também critica os atrasos no pagamento aos fornecedores do Programa do Leite e diz, ainda, que o governo federal pouco tem feito pela pecuária nordestina.

O investimento na área genética vem crescendo aqui no estado. Que projetos o senhor teria nesse aspecto de melhoramento genético para o seu segundo mandato à frente da Anorc?

Seria a orientação aos companheiros para a aquisição de matrizes de origem conhecida e de boa genética, para dar alto grau de valor aos animais.

E esse tipo de orientação o senhor já vinha fazendo na administração?

Já vinha fazendo, e precisamos estimular mais.

Que tipo de ações estão previstas?

Queremos fazer cursos, palestras, treinamentos, importação de animais de alta genética oferecendo nas feiras, procurando as fontes financiadoras, Banco do Brasil e Banco do Nordeste, principalmente, para facilitar o crédito aos nossos companheiros, para que eles possam adquirir animais de alta linhagem, para que eles tenham um resultado na produção melhorado .

Que balanço o senhor faz da sua primeira gestão, que termina agora na primeira quinzena de julho?

A grande avaliação que eu posso fazer é o resultado das eleições. Acho que agradei a todo mundo, tanto que tivemos uma maioria substancial sobre nossos concorrentes. Achamos que mostramos um bom trabalho para a Associação.

Quais foram os avanços nessa gestão e quais foram os desafios?

Veja bem, ampliamos as nossas ofertas de argolas nos pavilhões (onde o gado fica durante a exposição) do Parque (Aristófanes Fernandes), aumentamos as baias para equinos de primeira categoria. Também construímos o Taterssal, um centro de leilões que acho, no Nordeste, não existe nada igual. Dotamos o Parque com um sistema de proteção contra incêndios, pavimentamos todas as ruas do parque. Antes, o Aristófanes Fernandes era cercado com uma cerca de arame farpado. Então, construímos 6 mil metros quadrados de muro. Junto com a Ancoc (Associação Norte-riograndense de Criadores de Ovinos e Caprinos) construímos novas baias, espaços de demonstração para estes animais. Também construímos um galpão lá (no Parque) com quase 10 mil metros quadrados onde ocorrem as festas juninas. Demos no geral uma levantada no Parque, com ajardinamento também, e temos vigia direto para evitar a ação de vândalos.

O senhor tem ideia de quanto foi investido nestes dois anos?

O investimento representa 100% da receita da associação, que gira em torno de R$ 600 mil por ano.

Quais foram as dificuldades, os desafios que o senhor enfrentou durante sua gestão?

Acho que não houve dificuldades. Sempre contamos com compreensão e apoio dos nossos companheiros.

E tem algum projeto que deixou de ser realizado e que vai ficar agora para o segundo mandato?

Olha, o que sentimos realmente falta no nosso Parque é de um restaurante. É um espaço que nós não temos para oferecer ao nosso visitante, dar uma condição melhor de apoio. E isso é uma das metas nossas. Vamos tentar cumpri-la e contamos com a parceria do (governo do) estado do Rio Grande do Norte, através da Secretaria da Agricultura. Queremos fazer ali um belo restaurante que funcione durante todo o ano. Queremos também incrementar o funcionamento, partindo da ideia de fazer leilões periódicos: a cada 90 dias leilões oferecendo animais para recria, touros reprodutores, entre outros.

Por que este projeto? Vocês querem aumentar a frequência com que o Aristófanes Fernandes é usado?

É, exatamente. Apesar de nós já usarmos bastante o Parque, com cunho social. Há pessoas e entidades de Parnamirim que realizam eventos lá, alguns de cunho religioso e outros. Colocamos o parque à disposição. E queremos fazer com que cada vez mais o uso do parque seja mais proveitoso para o estado.

Há algum projeto específico para a caprinovinocultura e a equinocultura?

Isso nós temos com a Associação de Caprinos que é muito ativa. Nessa parceria com esse grupo, estamos sempre à disposição procurando dar todo o apoio para o desenvolvimento também dessa atividade pecuária.

No período pré-eleição, a chapa opositora difundiu que faltava à Anorc vitalidade na defesa dos interesses da classe produtora rural e o resultado disso foi o afastamento do interesse dos associados. Segundo a oposição, também estaria faltando estratégia para a agropecuária do estado. Como é que o senhor avalia essas afirmações? A Anorc perdeu representatividade, na opinião do senhor?

Nada disso tem sentido. Não tem procedência, não tem firmeza. Tanto, que o resultado da eleição derrubou tudo que foi dito. Se fosse assim, todos teriam votado contra mim, mas a grande maioria me apoiou porque na realidade não acontece isso.

Quais são os desafios do setor pecuarista do estado?

Bom, o grande desafio dos pecuaristas dos Rio Grande do Norte é continuar o que nós já temos e, cada vez mais, difundir o nome do estado como um dos produtores de animais de alta genética. Esse é o caso que nós temos com o nosso Guzerá que é nacionalmente conhecido. E aqui no Rio Grande do Norte estamos aprimorando muito o nosso Nelore, a raça Sindi. O grande desafio de todo agropecuarista é correr atrás daquilo que existe de melhor para elevar o nome do estado do Rio Grande do Norte em nível nacional.

Essa questão da genética também é acessível para os pequenos pecuaristas ou só para os grandes?

É exatamente para isso que estamos voltados para os pequenos. É esse que precisa. É por isso que estamos estimulando, procurando levar o pequeno para que ele adquira matrizes puras para melhorar a sua genética. Porque o que ele tem um gado de raça mestiça. Se ele colocar um touro puro dentro do seu rebanho, ele vai levantar a sua genética. Quando for daqui a três anos, que ele começar a produção desse touro – e substituí-lo para que não haja problema de consanguinidade com outro puro -, daqui a cinco, seis anos ele estará com o gado dele no mais alto padrão que poderia desejar para seu negócio.

A reclassificação do estado com relação à febre aftosa ainda é vista como um desafio ou hoje não é mais?

É um desafio sim, porque é um fator de maior importância para nós. Inclusive, nós estamos sendo penalizados pelo Ministério da Agricultura através da Secretaria da Defesa Animal, porque o estado do Rio Grande do Norte já era para ter saído desse estado, já era para estar enquadrado na zona livre de aftosa com vacinação. Nós não temos há mais de 15 anos um único caso de aftosa aqui no estado. E todas as datas de vacinação vêm sendo cumpridas pelos agricultores com boa vontade. Nós sempre passamos para os nossos associados informações sobre a necessidade e todos eles têm cumprido o nosso apelo, vacinando seus rebanhos.

Por que o senhor acha que ainda não houve a mudança?

A informação que eu tenho é que o Ministério da Agricultura, através da (Secretaria de) Defesa Animal, quer liberar o Nordeste todo de uma vez. Como tem outros estados em situação bem inferior a nossa, o governo está esperando que eles atinjam o nosso nível, para então fazer a liberação em um conjunto só para o Nordeste. Essa foi a última informação que eu tive da Secretaria da Defesa Animal.

Mas isso é negativo para o Rio Grande do Norte ter que esperar pelos outros, na opinião do senhor?

É negativo porque nós fizemos a nossa lição e agora estamos esperando para que outros façam para o Ministério da Agricultura poder liberar nossa mudança de status.

Qual o impacto disso? Isso atrasa um crescimento mais rápido da pecuária do estado?

Atrasa o sistema comercial. Quando estivermos enquadrados pelo Ministério como livres de aftosa com vacinação, o nosso gado terá trânsito livre em todo o país. Só que hoje temos que conviver com quarentena se eu quero mandar o gado para outro estado.

O senhor faz alguma previsão de quando o estado deve ser declarado livre de aftosa?

Nós esperamos que até o fim do ano aconteça isso, mas estamos na dependência desses outros estados: Ceará, Piauí e a Paraíba.

Em relação ao programa do Leite, esse também é um desafio ao setor? Nos últimos dias saíram notícias sobre o atraso no pagamento. Como o senhor enxerga essa situação?

Eu acho que isso é uma barbárie, um roubo político que está sendo feito com esses criadores. Porque eles não pensam o que essa gente está passando por aí, tanto os produtores, quanto os donos de usina. Não têm ideia o que eles estão passando sem receber esse dinheiro. Porque trabalham, compram ração, tiram leite, industrializam, passam para o governo e o governo não paga por conta de uma briga política. E em um ano de eleição como esse fica um empurrando para o outro. Um diz que é o governo do estado que não quer pagar; o governo diz que é a Assembleia (Legislativa) que não libera o dinheiro. E assim, o pequeno, como sempre é quem paga. Acho isso um absurdo, uma falta de consciência dos políticos que não olham para essa gente que trabalha com tanta dedicação para ver se tem melhores dias. Vem uma briga política e deixa esse povo na situação de penúria que eles estão passando.

E a Anorc pode intervir de alguma maneira nessa situação?

A Anorc está intervindo. Assinamos uma nota, levamos isso a público, apelamos ao governo para que entre num acordo para ver se libera esse dinheiro para pagar aos pobres dos agricultores que estão aí.

Como tem sido o ano de 2010 para o setor pecuarista e qual a previsão para o restante do ano?

Olha, além dessa situação do leite que está aí, o inverno está irregular, se mostrando irregular. O semiárido a essa altura já está sem jeito. Será um ano de dificuldades para ele (produtor) que está na região do semiárido. Na nossa região aqui, litoral e agreste, há perspectiva de que ainda chova. Mas esse é um ano irregular, um ano que não se pode pensar em fartura de pastagem para o gado, como os outros anos quando chove normalmente. Agora esperamos que cada um saiba conduzir o seu negócio de maneira a superar as dificuldades que virão. E a Anorc está pronta para receber os produtores do Rio Grande do Norte e nossos associados para no que for possível apoiar.

Como a  afeta a pecuária? Aumenta o custo do criador?

Se não chove, não tem pasto. Então, o criador vai ter que dar ração ou fava, torta, farelo de soja, milho. E isso encarece, diferente de quando você tem a pastagem natural.

Mas 2010 será um ano de crescimento para o setor? Como o senhor avalia  em números?

A gente sempre espera crescimento. E o lógico seria isso já que todo mundo está procurando melhorar a sua oferta de pastagem, se modernizando com máquinas, forrageiras, para que possa cada vez mais, criar mais animais e de uma maneira segura. Por isso, a minha expectativa é que esteja sempre aumentando, ano a ano, o rebanho do estado.

Na próxima segunda-feira (amanhã), o Ministério da Agricultura vai anunciar o Plano Agrícola 2010-2011 e a perspectiva é que o foco seja no médio produtor. Como o senhor avalia essa decisão do governo e como o senhor enxerga o plano?

Eu não li nenhuma informação sobre isso e, por isso, não posso comentar. Mas acho que, de uma maneira geral, o governo federal está aproveitando o momento para puxar a brasa para a sua sardinha. Porque, realmente, para a agricultura e a pecuária do Nordeste, o governo pouco tem feito.

De que tipo de apoio o setor está precisando aqui no Nordeste na opinião do senhor?

É necessário apoio financeiro, financiar a longo prazo, financiamento com prazos longos e juros baixos para que esse pequeno produtor possa desenvolver e pagar.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas