A crise é cíclica? Escritores como F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, William Faulkner, John dos Passos, Henry James e John Steinbeck revelaram ao mundo a crise moral e política nos Estados Unidos entre as duas Guerras. O mesmo aconteceu na Alemanha, França e Inglaterra com inevitáveis desdobramentos
A grandeza humana é individual. Essa grandeza das pessoas, numa coletividade, diz respeito à soma de todas as ações: públicas, privadas, anônimas, silenciosas, pequenas, comoventes, afetivas, compreensivas, solidárias. Todas lhes conferem magnitude. Também renovam substância numa nação, num povo, numa civilização, enfim, em qualquer aglomeração social. Somerset Maugham, em “O fio da navalha”, romance atualíssimo e de instigante conteúdo existencial, assim apresentou seu principal personagem, Larry Darrel: “Esse é o rapaz sobre quem escrevo. Ele não é famoso. Pode ser até que, no fim de sua vida, ele tenha deixado menos rastros de sua passagem na Terra do que uma pedra jogada no rio deixa ondas na superfície. Mas talvez o estilo de vida que ele escolheu para si exerça uma influência sobre quem o conheceu e que, muito após sua morte, as pessoas percebam que viveu, nessa época, alguém muito especial”. A mais profunda e erudita biografia do apóstolo Paulo, “Paulo de Tarso”, do padre Josef Holzner, foi, segundo Tristão de Athayde, “a obra de uma vida”. O autor imergiu, entre tantas coisas, na abrangência e significado da expressão “homem novo”. Tipificou o estilo de vida do homem libertado, sedimentando com seus atos, seus laços, seus sentimentos, suas motivações e sua fé, a ascensão espiritual, ética e moral da comunidade em que vive. Visão atemporal, mas enigmática nos dias de hoje.
Não importa a dimensão físico-geográfica. Esse estilo não depende da configuração do ambiente, seu tamanho e sua população. Pois o que mais alcança e domina o tempo, sobrepujando-o, são as relações humanas, os sentimentos, os sonhos, o espírito coletivo, os encantamentos, a cultura e a maneira de viver. Define-lhes sua personalidade e sua identidade. A felicidade de cada homem não pode ser individual, exclusiva, indiferente e alheia às circunstâncias dos outros, que com ele fazem e integram uma coletividade. Eis uma perspectiva que transcende ao tempo. Pois não há distinção entre uma aldeia ou um pequeno ajuntamento, um povoado, pequeno, rústico e esquecido; uma caravana de nômades ou uma cidade e, ainda, uma grande metrópole; ou uma comunidade campestre, cercada de pomares verdejantes, cortada por rios e envolvida por múltiplas e idílicas manifestações da natureza; ou até uma pobre vila em plena caatinga nordestina (“Vidas Secas”), desafiando, heroica e estoicamente, a terra esturricada. Urge pensar em construir a felicidade em todos os lugares do mundo.
Há estilos de vida que disseminam permanente, contínuo e inesgotável aprimoramento da condição humana. Em todos os tempos. Preciosos exemplos no século XX influenciaram planetariamente o Ser e o Estar no mundo. Ainda hoje suscitam profundas reflexões. Vidas de pessoas como Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e João Paulo II. Ícones que não se restringiram ao âmbito da fé, da ética e da moral, mas alcançaram o “viver a vida” integralmente. Mas, no mundo globalizado, estilos massificados pela internet e pela televisão despertam, sobretudo nas novas gerações, o “vazio” deplorado por Saint-Exupéry. Planetariamente reanimado pela pandemia?
No Brasil estilos germinados na vida política enlameiam ideais. Vivemos uma “tragédia macunaímica”. Valores morais despencam. Televisão e redes sociais difundem intolerância, violência, egoísmo, descompromisso de uns com os outros e antagonismos sem fim. Pretendem desvirtuar o sentido da vida? Mas a pandemia, incrivelmente, revigorou a solidariedade e a consciência do amor. Apesar de tudo. Será?