Paris – O movimento estudantil francês, que há cerca de um mês bloqueia total ou parcialmente universidades do país, conseguiu impedir, ontem, o funcionamento de um símbolo da França, a Sorbonne. Reunidos pela manhã em piquete em um dos acessos do prédio central, manifestantes contrários à Lei Précresse, de reforma financeira das instituições de ensino superior, tentaram impedir o ingresso de outros estudantes. Houve atritos com a segurança.
Diante do risco de violência, a reitoria anunciou a suspensão das aulas e o encerramento das atividades administrativas até segunda-feira. Das 85 universidades públicas do país, 44 estão afetadas pelos protestos. O fechamento no complexo Sorbonne, do qual fazem parte quatro universidades – Panthéon-Sorbonne, Sorbonne Nouvelle, Paris-Sorbonne e René Descartes, com total de 115 mil matriculados – aconteceu no final da manhã, por ordem do Reitorado de Paris, o órgão que administra as universidades da Capital.
Em nota oficial, a entidade afirmou que as tentativas de negociação com o grupo de “estudantes parisienses que recorreram à violência física” não surtiu efeito, o que levou à suspensão das atividades. “As liberdades universitárias não estão garantidas e a segurança das pessoas não pode mais ser assegurada”, completou o texto. À tarde, a União Nacional dos Estudantes da França (Unef), a maior do país, negou que tenha havido violência durante o bloqueio. “Não houve incidentes”, afirmou à AE Julliette Griffon, porta-voz da Unef, desaprovando a atitude do grupo. “Não somos favoráveis à radicalização do movimento, mas à sua ampliação.”
Há 39 anos, o mesmo endereço, a Rue de la Sorbonne, serviu como palco de um dos confrontos entre polícia e estudantes que resultaram na eclosão do movimento estudantil de Maio de 1968. Desta vez, o atrito no prédio central ocorreu um dia após a onda de manifestações promovidas em todo o país por universitários e secundaristas que pedem a revogação da Lei Pécresse, proposta pelo Ministério da Educação e aprovada pelo Parlamento em agosto.
O texto autoriza a assinatura de acordos de cooperação com a iniciativa privada. A medida é denunciada pela Unef como o “início da privatização” do sistema de ensino francês – hoje gratuito. Mesmo sob pressão, a ministra da Educação Superior e da Pesquisa, Valérie Pécresse, não abriu negociações sobre a autonomia. A posição conta com o apoio do presidente Nicolas Sarkozy, que, em discurso no Palácio do Eliseu, garantiu a manutenção da lei.
Enquanto o movimento estudantil segue crescendo, os funcionários da SNCF e RATP, estatais de transportes do país, confirmaram a volta ao trabalho após nove dias de paralisação. Na SNCF, apenas 2% dos funcionários se mantiveram em greve. Pela manhã, na Capital, trens metropolitanos RER chegaram a circular sem abrir as portas nas estações, mas o protesto foi encerrado. À tarde, as direções das duas companhias confirmaram a volta do tráfico à normalidade e anunciaram que indenizações de 10 euros a 35 serão pagas em janeiro.