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Estudantes do RN optam pelo exterior

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Felipe Salustino
Repórter

Antes da pandemia de covid-19, estudar no exterior era a escolha de muitos brasileiros, que buscavam uma oportunidade de turbinar o currículo a partir de experiências em conceituadas instituições fora do país. O cenário mudou com a chegada da crise sanitária, mas hoje, quando o mundo vive o arrefecimento da pandemia, a opção voltou a ser uma alternativa para muitos estudantes. No Rio Grande do Norte, segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), 394 potiguares estão atualmente no exterior, em cursos de mestrado, doutorado e pós-doutorado.
Rafael Bullio é estudante de engenharia química e tenta fazer parte da graduação na França. Caso tenha bom desempenho acadêmico, poderá ter um duplo diploma
O Estado é o quarto do Nordeste com o maior número de estudantes em instituições de educação fora do Brasil. Na graduação, o quantitativo pode ser mais tímido. Dentre as universidades consultadas pela TRIBUNA DO NORTE, apenas a Universidade Federal do Rio Grande do Norte informou o número de estudantes em experiências no exterior por meio de mobilidade acadêmica: 40.

Desses, 37 ingressaram em instituições estrangeiras no ano passado e três, neste ano. A UFRN ainda não tem estimativas de quantos alunos deverão seguir para fora do Brasil em 2022, porque ainda não foram abertos os editais de mobilidade, algo que só deve acontecer a partir de abril, com a abertura do semestre acadêmico na universidade.

As oportunidades são ofertadas por meio de bolsas distribuídas em programas de intercâmbio e acordos de cooperação entre as instituições de ensino. Foi assim que Rafael Bullio, de 24 anos, aluno do 4º período de Engenharia Química da UFRN, conseguiu classificação em primeiro lugar para uma temporada (inicialmente de um ano) na França.

“Estou indo para a chamada ‘graduação-sanduíche’ que é quando o aluno começa o curso aqui no Brasil e finaliza, basicamente, no exterior. Se eu tiver um bom desempenho acadêmico, posso passar um ano a mais por lá. Nesse caso, eu teria direito a um duplo diploma (um da UFRN e outro da universidade francesa)”, conta o estudante.

Para a dupla titulação, Rafael, caso queira, poderá dar ênfase a uma determinada área do curso e fazer uma ‘especialização’. Com tanta novidade a caminho, o estudante ainda não definiu para qual instituição irá, mas tudo indica que ele deverá desembarcar em Toulouse. A decisão virá em conjunto com outros três colegas, que também foram aprovados no programa e precisam escolher, de forma consensual, as instituições para onde querem ir.

Rafael, que conseguiu a vaga por meio do Brafitec, destinado aos cursos de Engenharia, contará com uma bolsa da Capes para se manter na França. O estudante afirma que está concentrado agora no teste de proficiência, que poderá ser refeito em abril caso ele seja reprovado na próxima semana. Após isso, segundo Rafael, os planos são organizar moradia e outros pontos da mudança.

A também estudante de Engenharia Química da UFRN, Mayara Leal, de 23 anos, está há quase duas semanas em Sherbrooke, cidade da província de Quebec, no Canadá, onde deve ficar durante um ano. Mayara possui visto de trabalho como estagiária de pesquisa, contratada pela Université de Sherbrooke, no Laboratório de Tecnologia de Biomassa (LTB).

A oportunidade se deu por meio de recrutamento do LTB Brasil e através de contatos com a orientadora de Mayara no Laboratório, a professora Bruna Rego de Vasconcelos, ex-aluna da UFRN. O processo para a estudante é de adaptação, mas ela revela que se surpreendeu com o que encontrou no país. “Aqui é muito diferente de tudo que já vi. Me refiro à qualidade de vida, à segurança e a toda a infraestrutura que a própria universidade oferece. Estou muito feliz e grata por estar vivendo tudo isso”, confessa.

Para ela, um dos principais desafios na nova fase pode ser a língua, cujo idioma majoritário na região de Quebec é o francês, pouco dominado por Mayara. “Mas, por enquanto, com o inglês consigo me comunicar na comunidade e no ambiente científico tranquilamente”, afirma. Além disso, o clima tem sido uma surpresa para a universitária.

“Nesta época do ano, as temperaturas são baixas por aqui, mas estou me adaptando bem”, conta. Mayara mora sozinha em um quarto alugado e as despesas são custeadas por uma bolsa, ofertada pelo LTB. A chance de ter um currículo mais completo foi o que motivou a estudante a seguir em busca de um estágio no exterior.

“Infelizmente não tive oportunidades viáveis de estágio para minha área no Brasil e o LTB é um excelente lugar para cientistas e pesquisadores que queiram se desenvolver e se desafiar. Sem falar que a Université de Sherbrooke é incrível”, pontua. Mayara lembra que, apesar das descobertas, é necessário organização antes de seguir para uma experiência como esta. “É preciso uma preparação tanto psicológica quanto financeira. Além disso, quem aplica para o processo deve esperar alguns meses para obter, de fato, o visto do consulado canadense”, indica.

Rafael Bullio afirma estar ciente de que é preciso se preparar bem. Ansioso com o que virá nos próximos meses, ele diz que espera ser bem acolhido em terras francesas. “Pelo que a gente ouve falar, o francês é um povo mais retraído, mas alguns colegas falaram que essa realidade é muito mais em Paris. Acho que vai ser uma situação acolhedora, de conseguir entender diferentes culturas e a diversidade de povos. Essa é a parte que tem me deixado mais empolgado”, relata.

Candidatos costumam ter bom rendimento acadêmico

Alunos com um nível avançado em alguma língua estrangeira, com bom desempenho acadêmico e atuação frequente em atividades de pesquisa são os que mais postulam vagas para estudos no exterior.  A secretária-adjunta de Relações Internacionais da UFRN, Renata Archanjo, afirma que é importante a participação do estudante em atividades de pesquisa desde o início do curso. “O rendimento acadêmico e a participação, desde cedo em atividades de pesquisa, são típicos do perfil de postulante a vagas em instituições fora do País”, explica.
Mayara Leal estuda Engenharia Química em Quebec, província do Canadá, e disse que não teve oportunidades viáveis no Brasil
Kátia Peres Gramacho, chefe da Assessoria de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (ARI/Ufersa), concorda: “O postulante a uma experiência de mobilidade deve ter um bom conhecimento de línguas em nível intermediário-avançado. Além disso, deve apresentar um plano de estudos ou trabalho com objetivos bem definidos, detalhando disciplinas que pretende cursar, ações de pesquisa ou experimentos que tem intenção de realizar”.

Renata Archanjo, da UFRN, chama atenção para um detalhe, que funciona muitas vezes como um empecilho para parte dos estudantes que desejam buscar experiências fora do Brasil. “Infelizmente, a questão da renda familiar é um fator limitante, pois a oferta de bolsas de estudos não é muito grande e não atende ao número de interessados”, descreve. Segundo ela, a UFRN participa atualmente  de programas de mobilidade da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), do Banco Santander, do Grupo Tordesilhas e do Programa Brafitec.

Todos eles têm editais próprios e os alunos interessados devem seguir as regras e critérios definidos por cada agência promotora. A mobilidade acadêmica internacional também pode ser realizada por meio das ofertas possibilitadas pelos acordos de cooperação bilaterais (entre a UFRN e uma instituição de ensino superior estrangeira) ou pelos acordos em rede que permitem aos alunos o ingresso por um curto tempo em uma universidade estrangeira.

A UFRN conta também com dupla diplomação ativa possibilitada pelos acordos no âmbito do programa Brafitec (Brasil-França), direcionado aos cursos de graduação em Engenharia de Produção, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica e por acordos específicos destinados ao curso de graduação em Engenharia Química e ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura (nível doutorado). Atualmente, segundo a instituição, há 18 alunos ativos no programa atualmente.

Já a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), foi escolhida para participar da versão virtual do Programa de Intercâmbio Acadêmico Latino-americano (PILA) no segundo semestre de 2021 e primeiro semestre de 2022. O PILA promove o intercâmbio de estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação, acadêmicos, pesquisadores e gestores das universidades e instituições de educação superior.

A finalidade é a internacionalização da educação superior por meio de cooperação entre países da América-latina, como Colômbia, México e Argentina. Atualmente, 12 alunos da Uern cursam disciplinas em universidades latinas, de forma virtual. A expectativa, segundo o titular da Diretoria de Relações Internacionais e Interinstitucionais (DAINT) da instituição, Pedro Adrião, é de que o programa adote o formato presencial para o semestre letivo 2022.2.

“É importante que a instituição dê oportunidade à comunidade acadêmica de vivenciar experiências no exterior. A internacionalização proporciona a construção de redes de relacionamentos com universidades e centros de pesquisa no mundo. E a gente sabe que, mais do que um intercâmbio entre alunos e professores, ela permite um intercâmbio de ideias, possibilidades de pesquisa e implantação de projetos entre as instituições parceiras”, sublinha Duarte ao comentar sobre a importância dos programas de intercâmbio.

Na Ufersa, estudantes de graduação podem fazer uma experiência de mobilidade semestral pelo Programa BRACOL (Brasil – Colômbia), com as despesas com alimentação e moradia cobertas pela universidade anfitriã. Também é possível realizar mobilidade por meio dos acordos de cooperação firmados pela UFERSA. Por enquanto, os programas estão parados, por causa dos reflexos da pandemia.

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