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Estudantes fazem protesto de 10 h e param a cidade

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TÁTICA - Cerca de 100 estudantes fecharam o acesso a Cidade Alta

O que parecia uma brincadeira, mostrou ser bastante sério. Ontem, estudantes favoráveis à revisão do aumento nas tarifas de ônibus realizaram um protesto que durou 10 horas e interrompeu o tráfego em diferentes pontos da cidade. Às 16h, por exemplo, eles interditaram a avenida Junqueira Aires, próximo à rodoviária velha e com isso fecharam a Ribeira. Esse não foi o único bairro que teve problemas com tráfego. Nos próximos dias devem ocorrer novos atos do tipo.

O protesto de ontem contou com integrantes do Movimento Passe Livre (MPL), da Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes (Conlute), do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DCE-UFRN) e do grêmio do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet). Em nenhum dos pontos interditados houve qualquer incidente grave e, sempre que necessário, a passagem foi liberada. Hoje quem protesta são os rodoviários.

O ato contra o aumento e pela redução da passagem, seu congelamento, foi iniciado na Zona Sul da cidade, próximo ao shopping Via Direta. Por volta das 11h, outro grupo já estava mobilizado em frente ao Cefet. Às 14h, os estudante fecharam parte da avenida Rio Branco, na altura do Baldo. Quem passou, teve uma prévia do tráfego que pioraria mais tarde. Após o baldo, os protestantes foram pela Rio Branco até a Ribeira, onde houve a mais longa parada.

Os agentes da Secretaria de Transporte e Trânsito Urbano (STTU) juntamente com policiais militares tiveram que desviar todo o tráfego da Ribeira. Chegou ao ponto de ônibus descerem na contramão pela avenida Juvino Barreto (lateral do colégio Diocesano); de carros que já estavam no final da Rio Branco subirem pela avenida General Gustavo de Farias; e de motoristas descerem dos ônibus e ficarem conversando, aproveitando o tráfego parado. Se resumiu a isso a participação da Polícia e da STTU.

Próximo à rodoviária velha, um representante do Conlute _ que pediu para não ser identificado – explicou que os protestos não vão parar. Outra manifestante, essa do Movimento Passe Livre (e que também preferiu não ser identificada) explicou que a intenção é obter uma redução na passagem de ônibus. Desde sábado passado a tarifa passou de R$ 1,45 para R$ 1,60. “Os estudantes estão buscando o apoio popular para que a passagem baixe”, disse. E acrescentou: “O valor da passagem não é justificado. È um absurdo”.

Da Ribeira, o protesto seguiu para a prefeitura, onde – como sempre – não houve diálogo com nenhum representante do Município. Às 17h10, os estudantes fecharam o cruzamento da avenida Rio Branco com a Ulisses Caldas. Outro congestionamento se formou. Eles permaneceram no local por cerca de 30 minutos e nesse tempo chegaram a brincar de roda enquanto turistas fotografavam ao movimento.

Após esse ponto, os manifestantes seguiram pela avenida Deodoro da Fonseca – Viaduto do Baldo – avenida Fonseca e Silva – e avenida Presidente Bandeira. Na passagem pela rua Fonseca e Silva um veículo avançou sobre o grupo e quase provocou um acidente. No cruzamento da avenida Coronel Estevam com a Presidente Bandeira, os manifestantes se encontraram com equipes do Batalhão de Operações Especiais (BOPE). Não houve conflito. Cada grupo seguiu o seu caminho.

O dos estudantes foi concluído no Cefet, após rápidas interdições em três cruzamentos da avenida Bernardo Vieira. Novas “brincadeiras” do tipo estão previstas. A semana promete: hoje, rodoviários protestam por melhorias salariais. Amanhã, estudantes voltam às ruas e prometem parar Natal. Ainda esta semana a cidade deve assistir greves de funcionários das áreas de saúde e educação.

Estratégias dividem opiniões

A população de Natal está dividida quanto a estratégia de pequenos grupos de estudantes que, há uma semana, insistem em bloquear ruas e avenidas em vários pontos da cidade em protesto ao reajuste da tarifa de transporte coletivo urbano, em vigor desde o sábado passado. Os manifestantes querem “passe livre”; a população o “direito de ir e vir”, assegurado pela Constituição Federal, da mesma forma que o direito ao protesto.

As manifestações que se estenderam até à noite irritaram os natalenses que deixavam o Centro ou o bairro do Alecrim, após uma jornada de trabalho. Os ônibus demoraram cerca de uma hora para percorrer o trecho entre o terminal da Ribeira e o cemitério do Alecrim, segundo passageiros e motoristas.

“Eles reivindicam o direito deles, mas prejudicam a população. Deveriam procurar os órgãos públicos ao invés desse tipo de protesto que os empresários nem ouvem”, disse o auxiliar de serviços gerais José Barbosa, que estava há 40 minutos na parada do Baldo.

“Tem que protestar mesmo. Não podemos deixar o trabalho para fazer o que eles, com uma boa estratégia ou não, se propuseram a fazer. Foram vários protestos e nenhum incidente grave. Sem pancadaria”, argumentou o comerciante Antônio Marcos de Souza, 38 anos.

Algumas pessoas que estavam nas paradas de ônibus por onde os estudantes passaram em protesto na noite de ontem, entre a Cidade Alta e o bairro do Alecrim, caminharam em direção às estações localizadas nas vias de acesso onde não havia manifestantes.

Protestos provocam tumulto

Os protestos realizados pelos estudantes, provocando grande tumulto no trânsito da capital potiguar, está demonstrando que a cidade está refém desses manifestantes; já que não há como evitar o transtorno para população. A avaliação é do coordenador do Departamento de Trânsito da Secretaria de Transporte e Trânsito Urbano, coronel José Rocha. Segundo ele, o trabalho da STTU é para amenizar, buscar alternativas, mas não há como evitar o transtorno.

“Quando acontecem esses transtornos nós trabalhamos para amenizar o problema. Tomamos providências no trânsito como inverter a mão da rua, criar mão dupla. São alternativas, mas o trânsito realmente fica muito lento”, comentou o coronel Rocha.

Ele disse que é lamentável que 50 estudantes saiam as ruas para protestar e tumultar o trânsito. “Não acredito que esses 40 ou 50 estudantes representem os milhares de estudantes de Natal”, completou. Ele observou que nesses últimos dias a pior situação foi quando os estudantes protestaram na avenida Salgado Filho, próximo ao viaduto do Quarto Centenário. “Contamos com a ajuda da Polícia Rodoviária Federal. Não sei até quando esses protestos vão durar, mas continuamos trabalhando para amenizar o tumulto que eles provocam”, ressaltou o coordenador do Departamento de Trânsito.

Em entrevista ontem a uma rádio local, a secretária da STTU, Elequicina Santos, disse que o protesto dos estudantes é lícito, o que não pode é ser feito da forma como está sendo realizado. Ela também observou que as manifestações não contam com as principais entidades dos movimentos estudantis.

Tarifa teve aumento de 272%

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos (Dieese/RN) calcula que, entre maio de 1995 e maio deste ano, a tarifa de transporte urbano do município de Natal subiu 272,09%. A inflação acumulada, em igual período, atingirá 138,3% segundo o IBGE. O salário dos motoristas, por exemplo, foi reajustado em 149,2%.

Os técnicos do Dieese/RN destacam que a distância é significativa quando a comparação é feita em relação ao salário mínimo, que nesse período acumulou um reajuste de 250%. O reajuste tarifário para o transporte coletivo urbano da capital potiguar supera todos os indicadores analisados pelo órgão para compor o estudo divulgado ontem.

Em maio de 1995, a passagem custava R$ 0,43. Sete anos depois (2002), o valor chega a R$ 1,10 até passar por mais dois reajustes até chegar ao preço que o natalense começou a pagar no sábado passado (R$ 1,60). O coordenador técnico do Dieese/RN, Melquisedec Moreira, diz que as condições de um sistema de transporta urbano existentes em várias capitais do País não se repetem em Natal.

“Para a população mais pobre, o grande impedimento de acesso ao que a cidade oferece é o custo da condução. Chega a ser tão limitado que mal suporta o custo do transporte para o trabalho daqueles que sustentam famílias”, disse.

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