A passeata que reuniu quase 900 jovens em prol da luta contra o aumento da tarifa dos ônibus, na última quarta-feira (29), se transforma em um novo protesto. Com divulgação maciça em mídias sociais como o Twitter e o Facebook, mais de 1.600 pessoas já haviam confirmado presença no evento que ocorrerá na tarde desta sexta-feira (31), em frente ao Palácio Felipe Camarão, sede da Prefeitura do Natal. O protesto começa às14h30 e deve ganhar mais força depois dos incidentes da passeata da quarta-feira, que gerou um congestionamento quilométrico na avenida Salgado Filho e outros corredores da capital.
Na pauta das reivindicações está o aumento das passagens, a busca pela valorização do trabalhador rodoviário, a licitação da livre concorrência no setor de serviços de transporte e a luta por novas políticas de mobilidade urbana. Transporte 24h por dia e a ampliação de linhas que atendam a demanda da cidade também estão na pauta do protesto.
O estudante de jornalismo Marcelo Lima, de 24 anos, levantou a voz em sua página do Facebook, e manifestou-se contra a atuação da Polícia Militar durante o evento que ocorreu há dois dias. Após mais de duas horas de manifestação, a passeata contra o aumento das passagens terminou por volta das 20h30 da última quarta-feira ao som de gritos e bombas de efeito moral lançadas pela Polícia Militar de Choque. Marcelo foi preso, acusado de desacato e desobediência, e encaminhado para a delegacia.
Em um dos trechos ele dizia na internet: “Estilhaços de uma bomba atingiram meu rosto, muito próximo do meu olho direito. Tudo isso simplesmente porque estava exercendo a plena cidadania, supostamente garantida a todo brasileiro. E como se tamanha violência não bastasse, também fui preso”, colocou Marcelo Lima. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o estudante contou com detalhes o transcorrer da passeata.
Segundo ele, o ataque partiu dos policiais, que queriam impedir a chegada dos manifestantes à avenida Bernardo Vieira. “Eu só vi a bomba vindo na minha direção e senti o estilhaço no rosto. Vi outras pessoas feridas também. A única alternativa era me defender com pedras, como vi alguns manifestantes fazerem. Eu não o fiz”, alegou. Segundo ele, a voz de prisão foi dada por um policial que não possuía identificação. “Eu só questionei o nome dele e quem estava à frente da operação. Ele só me puxou pelo braço e me colocou no “camburão” como se eu fosse um assassino”, completou.
Marcelo realizou exame de corpo de delito ontem no Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep) e deve procurar o Centro de Referência em Recursos Humanos para pedir apoio jurídico e dará início a um processo após denunciar o comandante da operação na Corregedoria da Polícia Militar. Marcelo respondeu a um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) que resultará em uma audiência no dia 11 de setembro com o juiz.
Em contato com a TN, o comandante geral da Polícia Militar, coronel Francisco Araújo, disse que a Polícia Militar recebeu orientação para garantir a ordem pública. “Um evento como aqueles não poderia durar muito mais tempo”, disse.
Segundo ele, a principal via da cidade estava obstruída em horário de pico, impedindo até mesmo que ambulâncias pudessem entrar na cidade e se dirigir para o principal hospital de urgência e emergência da capital. O comandante criticou a ação de vândalos travestidos de estudante, mas que tapavam o rosto durante a manifestação. “Eles colocavam pedras dos jardins públicos no meio da pista para evitar o tráfego”, afirmou.
O coronel Araújo disse não saber se houve abuso por parte dos policiais ou dos manifestantes, mas garantiu que se estudantes tiverem sido feridos durante a ação policial irá apurar com rigor as ocorrências.