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Eu vou pra galera

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NOS BRAÇOS DO POVO - No quesito simpatia, o líder do Biquíni Cavadão foi o campeão. Dançou com fãs e jogou-se no mar da platéia

Foi um “senhor” festival. Sem qualquer alusão a mestre Laurentino e sua gaita made in Pará, a 8a edição do MADA foi do oito ao oitenta. Da chuva que lavou a música, o alimento e a alma hip hop na quinta-feira, passando pelo calor da noite indie da sexta ao pop rock moderninho do sábado. Um show de respeito do público, que, ao contrário dos anos anteriores, chegou cedo e mostrou que não conhece apenas o que está a um palmo do país. Muita gente sabia na ponta da língua o repertório das bandas dos quatro cantos do Brasil.

Noves fora as reclamações das bandas com a “falta de carinho” da produção do evento, foi de longe o melhor festival dos últimos anos. A programação nos dois palcos montados na arena do Imirá Plaza ousou e superou as expectativas.

No caldo final, muita gente boa e ruim veio dar a cara à tapa. Tudo acompanhado de perto pelas 25 mil pessoas que prestigiaram o evento (números oficiais).

Até o tal do mainstream parecia mais perto da proposta independente do festival. À exceção do Rappa (sempre ele!), as headlines empolgaram o público, mas não foram as principais atrações da festa.

As bandas locais fizeram bons shows. Destaques positivos para Neguedmundo e Du Souto, que, mesmo debaixo de uma tempestade, na primeira noite, seguraram a galera e mostraram um trabalho rico que deve levantar vôos mais altos. Na sexta-feira, o Revolver colocou o público no bolso e fez um show divertido na raça, mesmo enfrentando problemas com o equipamento. A disposição que sobrou na banda de terninho e gravata faltou nos Bonnies, a grande decepção potiguar. Apático, o quarteto não conseguiu repetir o show histórico do ano passado.

No sábado, o Seu Zé fez uma apresentação semelhante à edição 2005 – exceção dos trajes, este ano todos de branco. Contando com a sempre fiel “torcida organizada”, agradou a galera que lotou a arena. 

A equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE fez um balanço dos três dias de MADA do que rolou nos dois palcos, backstage, tenda eletrônica e feira mix.

“Solta o som!”

Na sexta-feira,o Revolver subir nas tamancas. O vocalista Paulo Henrique chegou a chorar ao descer do palco no fim da apresentação. Pudera: a banda fez a passagem de som com um equipamento, mas na hora do “vamos ver” a produção guardou um dos amplificadores para o show da baiana Pitty. “Era outra afinação, outra regulagem. Tivemos que começar assim mesmo, mas alguém atrás do palco chutou o cabo da guitarra e tirou o plug da caixa. Pela empolgação da galera, ninguém percebeu”, disse o baixista Paulo Ricardo.

“Os tímidos”

Quem melhor definiu a apresentação d´Os Bonnies na sexta-feira foi o vocalista da banda, Arthur Rosa: “Era melhor eu ter ficado dormindo em casa!”. Valeu pela autocrítica. Mas não precisa dizer que foi a maior decepção potiguar no Mada. Nem de longe lembrou o show no festival do ano passado, quando o quarteto colocou no bolso as outras independentes da noite. Demonstrando uma timidez surpreendente, o grupo tinha tudo conspirando a favor. O horário era perfeito e o público estava no clima. Mas os caras fizeram um apresentação fria e travada.

“Quem não chora…”

O tal do jeitinho brasileiro também deu as caras. Embora a Justiça tenha estipulado o limite de 12 anos para a entrada do público, o juizado de menores se comoveu com a historinha de cinco crianças, com idade entre 9 e 11 anos, que saíram de Caicó, no sábado, para ver a baiana Pitty – candidatíssima a rainha dos baixinhos roqueiros. A turminha chegou ao festival com os tios, mas foi barrada na entrada. Aí desandaram a berrar na frente do portão. O escândalo “sensibilizou” a Justiça, que negociou com a produção a estada da galerinha apenas no backstage (local restrito aos músicos, produção e imprensa), atrás do palco, durante o show. No fim, mesmo sem poder assistir à apresentação da arena, os cinco conseguiram arrancar uma foto e um beijo rápido de Pitty antes da baiana subir ao palco.

“A urucubaca”

O que dizer de uma banda que durante a mirrada meia hora de show tem problemas com o som, destrói um pedal e quebra um baixo!? Pois na segunda noite do Mada, o trio potiguar do The Automatics assumiu a urucubaca com o jargão “é uma coisa que acontece”. O Revolver emprestou o baixo e o trio acabou conseguindo levar o show morno, sabe-se lá Deus de que jeito, até o fim.

“Caras e bocas”

O MADA rompeu o modelo pragmático da música tradicional e acertou em cheio ao apostar em propostas diferentes do universo quadrado pop rock. Tudo bem que nos primórdios do festival, quando a coisa ainda acontecia na Ribeira, teve uma figura que chegou a sentar no palco e “entrar em transe” para desespero e agonia do público. Mas nesta edição, algumas bandas mandaram outra linguagem, o que deixou o evento com um jeitão ainda mais de festival.

Os paulistas “Daniel Belleza e os Corações em Fúria” ligaram o som às plumas e paetês. O resultado foi uma histeria coletiva. Após o show, Belleza contou que a performance é profissional e planejada. “A gente tem um repertório, mas ao mesmo tempo não tem. Às vezes eu estou no meio do show e olho uma pessoa parada. E falo: poxa, do que esse cara está precisando. E vou lá e dou para ele”, disse após sair carregado nos braços da galera em meio a uma versão punk de “Frevo Mulher”, de Zé Ramalho.

As paulistas do “Cansei de Ser Sexy” (sábado) defenderam a bandeira hype tiraram o público do chão com uma performance espalhafatosa da vocalista Love. Ela pulou, caiu, girou, ficou de cabeça para baixo… disse até que tinha chorado ao ver o mar de Natal. Puro marketing. Mas que funcionou.

“Rio decepciona”

Não é apenas segurança que falta ao Rio de Janeiro. A tirar pelas bandas que venceram a seletiva realizada pelo Mada e a revista Laboratório Pop, a coisa está feia na cena independente carioca. O Cabaret foi a única que se salvou. Os Sete abriu a noite de sábado sob uma chuva fina e não empolgou nem mostrou nada de criativo. E os Filhos da Judith… bem, devem deixar a mãe maluca quando começam a cantar. Até que tinha uma coisa diferente no ar, mas o vocalista tratou de enterrar o show com uma voz desafinada de doer nos ouvidos.

“Público responsa”

O público de Natal está começando a entender a cena independente como um produto tão rico e promissor quanto o mainstream. O melhor da quinta-feira não foi ver oito mil pessoas enfrentarem a chuva pelo Rappa, mas a presença da galera que não arredou pé quando Neguedmundo invandiu o palco sob uma tempestade que lavou a música, o alimento e a alma do festival. Da mesma forma, as cinco mil dos shows da  Pitty e Cachorro Grande não tiveram a mesma dimensão do bom público que chegou cedo para ver o que a banda do Acre, Los Porongas, tinha para mostrar ao Brasil. Ponto alto do festival.

Veteranos entram no clima das indies

Faltando algumas semanas para o festival, muita gente fez cara feia quando os nomes de Nando Reis e Biquíni Cavadão foram confirmados para o fechamento do Mada.

Mas quem foi e viu como o público reagiu ao excesso de hits entoados tanto por Nando como por Bruno Gouveia, deve ter saído com a sensação de que a produção sabia o que estava fazendo.

Além de atrair o maior público dos três dias de festival (12 mil pessoas, segundo números oficiais), as duas bandas fizeram shows apoteóticos.

No primeiro, Nando Reis saiu mandando um sucesso atrás do outro como se dissesse à galera: “Olha aqui, ela canta mas fui eu que fez, viu!”.

As músicas, conhecidas na boca de gente como Marisa Monte, Cássia Eller, Cidade Negra, além, é claro, dos Titãs (ex-banda do músico) embalaram o público durante todo o show. A competente banda deu o recado final.

Após a catarse, Bruno Gouveia terminou de quebrar o resto de gelo que a arena tinha com ele e admitiu após a apresentação que foi uma das melhores na história da banda.

Incluindo os sucessos do grupo nos anos 80 e vários covers, o Biquíni ainda convidou Marcelo Bonfá (ex-Legião Urbana que estava nos bastidores após o show do Tantra) para fazer uma ponta, e chamou a equipe de produção e fãs para cantar junto. A festa terminou como pede o final de um festival do tamanho do Mada: nos braços no povo. 

Por trás do palco

“Um legião no MADA”

Tudo bem que boa parte do público que estava ali não chegou a acompanhar a carreira da Legião Urbana. Mas o Mada quebrou um galho com a vinda do baterista Marcelo Bonfá, que formou junto com Renato Russo e Dado Villa Lobos o tripé da banda mais venerada do rock nacional na década de 80. O músico veio acompanhando os cariocas do Tantra. O show só valeu mesmo pela presença de Bonfá, porque a banda desandou a tocar covers. O sucesso “Quando o sol bater na janela do meu quarto” empolgou a galera.

O dono da “Loirinha Americana”

A primeira entrevista da VJ Carla Lamarca (MTV) no Mada foi com a banda Coletivo Rádio Cipó, de Belém do Pará. Enquanto esperava a forte chuva dar uma trégua, a loira aproveitou para investigar a história dos representantes da região Norte, que trouxeram como convidado Mestre Laurentino, autor de “Loirinha Americana”, já registrada pelo Mundo livre s/a no CD “Por Pouco” (2000) e pelo próprio em “Música do Brasil”. A entrevista foi encerrada com todos fazendo coro, ao som da harmônica do mestre.

DuSouto recebe game

O produtor musical Felipe Lerena, diretor Nikita Records, entregou a Paulo, líder da banda DuSouto, um exemplar exclusivo do game Copa do Mundo Fifa 2006, da Eletronic Arts, do qual integra a trilha sonora. O jogo ainda não foi lançado oficialmente. Paulo disse logo: “Quem vai gostar é o meu sobrinho.” Ao que Lerena comentou: “Pois ele vai ser o primeiro garoto brasileiro a jogá-lo.”

Pianista solitário toca de madrugada

Um músico de alguma das bandas independentes desta edição do Mada tocava piano sozinho no café do hotel. Isso por volta das 3h30, já próximo ao final das apresentações no palco. Solitário, o rapaz dedilhava introduções suaves e harmoniosas, que ecoavam pelos corredores do hotel. O fato chamou a atenção da VJ Carla Lamarca, que comentou com sua equipe: “Ai que lindo… gente devia registrar isso!” O cansaço porém foi maior.

Piano bar do hotel vira ponto de encontro

A partir do segundo dia do Mada, o piano do café do hotel Imirá se firmou como ponto de encontro de músicos e jornalistas que vieram trabalhar no festival. Na madrugada da sexta para o sábado, o pessoal do Cachorro Grande, Daniel Belleza, Moptop, Los Porongas e integrantes de outras bandas se reuniram lá para uma animada jam session. A VJ Carla Lamarca fez as vezes de musa, deitada, lânguida, sobre o instrumento, bem ao estilo das divas do cinema. 

Pitty tem tratamento de estrela do rock

A baiana Pitty saiu da área de camarins escoltada por um grande esquema de segurança. A cantora, baixinha, foi para o palco cercada por homens parrudos, com mais do dobro de sua altura. Atenciosa, Pitty distribuiu autógrafos e beijos a todas as crianças que aguardavam a passagem dela. Aliás, pode-se dizer que a cantora é o novo ídolo da criançada.

Tenda eletrônica foi até às 8 h do domingo

Ao final dos shows no palco, por volta das 4 h, o destino de muita gente foi a tenda eletrônica. Às 8h, porém, pouca gente dançava na pista, ao som do DJ Claudinho. Quem estava preparado para o agito levou seus óculos escuros.

Jam session no Fósforo reúne bandas

Na noite de domingo, algumas bandas e jornalistas que passaram pelo Mada 2006 se encontraram no Fósforo Bar, em Capim Macio. Macaco Bong (MS), Filhos de Judith (RJ), Relespública (PR), Coletivo Rádio Cipó (PA) e DuSouto (RN) tocaram, cada um, mais do que a meia-hora reservada para os grupos mostrarem seus trabalhos no festival. Jornalistas também estivaram curtindo a confraternização, mas não cobriram a farra. Equipe do canal Multishow e do programa Alto-falante (TV Cultura) estavam por lá. 

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