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Eveline Sin, “Fevereiro” (2018, Doburro, 70 p.)

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Alexandre Alves, Doutor em Literatura e professor da UERN
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Sob o codinome Sinhá, foram três obras até 2015. Eveline Gomes resolveu se “rebatizar” devido ao incômodo que o nome anterior causava em certos leitores, atendendo agora por Eveline Sin (do inglês “pecado”) desde a coletânea “Capim santo” (2017). Em “Fevereiro”, a aura intimista crava ligações com o Simbolismo (imagens oníricas, expressões sensoriais constantes), mas tudo em verso livre.

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Nos 30 textos, o corpo interessa ao eu lírico, assim como sua mutilação – a palavra “pele” surge 09 vezes nos poemas, todos de monopágina –, expondo clara dramaticidade, como em “Quando tudo for pedra”: “de sal e cinza/meus pés vermelhos/cortarão delírios por toda pele/ […] /como vidros coloridos/cravados em muros/te amarei”. Ladeando a safra anos 2000, Eveline escreve textos de curtíssima extensão entre o nominal, o metalinguístico e o erótico, mas são (literalmente) poemas menores. Usando a brevidade, a lição dos modernos de 1922 em provocar os “passadistas” logo foi abandonada em prol de uma variação lírica. Em textos menos curtos, Eveline margeia o esplendor, caso de “Os pés marcavam passos sobre a mesa”: “numa dança de noite e chama / cabeças seguravam a lona / de um circo morto / […] / bocais ainda acendiam / em teus poros luzes / que ficariam ali por horas / […] / todos os palhaços gritavam teu nome / […] / lembra como era difícil respirar?”. Necessário também o editor pensar na natureza (tão intensa em “Fevereiro”), justamente matéria-prima do papel (nas costas de cada poema, nada impresso).

George Glauber, “Jaguaribe Carne: experimentalismo na música paraibana” (2018, Independente, 270 p.)
Em verdadeira investigação musical, o Professor de Música George Glauber (IFPB) conta aqui as aventurosas ações do combo artístico paraibano Jaguaribe Carne, cujo centro criativo passa sempre pela dupla de Pedro Osmar e Paulo Ró. Fundado em 1974, são mais de 04 décadas de uma produção inventiva – de guerrilha, de resistência, engajados como eles mesmo explicam – e bem além da usual “música de consumo”, praticamente o oposto da estranha música praticada pelos irmãos e colaboradores (Chico César e Escurinho são alguns deles).

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O foco do livro é o disco “Jaguaribe Carne Instrumental”, mas antes diversos conceitos sobre performance e experimentalismo musical surgem para se entender o grupo. Em visão mais ampla, o autor acaba traçando um histórico da música popular paraibana. Pedro Osmar fez parte da banda de Zé Ramalho (Pau de Arara’s Band) no começo da carreira, além de participar de discos de Elba Ramalho e Amelinha ao longo dos anos de 1970 e meados da década seguinte, logo abandonando o “esquemão” das gravadoras por não sentir afinidades. Já Paulo Ró teve canções gravadas por Elba Ramalho, Wado e Zefirina Bomba. Quando os dois se juntam no Jaguaribe Carne, os episódios são vários: desentendimento pela audiência sobre a música que criavam, prisão por não tocarem (!) a canção inscrita em festival da TV Tupi em 1979 e influência sobre músicos renomados (Lenine e Zeca Baleiro entre eles) só realçam os rumos dessa trupe imparável. 

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